Stafford é um quarterback melhor sem Calvin Johnson – e merece estar na corrida pelo MVP

Antes de entrarmos na questão-título deste texto, é importante fazer algumas considerações. A primeira delas é que Matthew Stafford é um quarterback subestimado. Quando elegemos os melhores signal callers da NFL atual (descontando os aposentados, portanto), é fácil chegar aos três primeiros nomes – Aaron Rodgers, Tom Brady, Drew Brees. Depois começam as discussões sobre o status de elite, embora isso seja inútil, ao meu ver. Quando penso se um quarterback é melhor que o outro, a pergunta que eu me faço é: quem eu gostaria de construir um time ao redor? A ou B? E quando Matthew Stafford entra na pergunta, são poucos os jogadores que eu escolho no lugar do titular do Detroit Lions.

Bom, superada essa leve questão, vamos à temporada do jogador em 2016. O camisa 9 do Detroit Lions está com 4 vitórias e 3 derrotas, completando 68% dos passes, com 1.914 jardas, uma média de 273.4 jardas por jogo. São 15 touchdowns, 4 interceptações e um passer rating de 105.7

Eu queria chamar atenção para esses números. Seu rating é um dos cinco melhores da liga; em relação às interceptações, apenas 9 quarterbacks que começaram todas as partidas como titular tem menos – e apenas um deles lança a bola em mais de 60% dos snaps. Stafford é o oitavo em jardas totais, décimo primeiro em jardas por partida e quarto em touchdownsOu seja, reparamos que a temporada de Matthew Stafford é, em todos quesitos, no mínimo acima da média. Já no ano passado, levantamos outra estatística interessante: como ele é eficiente na red zone.

Havia um receio quanto à capacidade de Matthew Stafford ser eficiente sem um jogador com talento para estar na discussão do Hall da Fama. A capacidade de Calvin Johnson em converter passes interceptáveis e ruins em grandes ganhos de jardas e touchdowns parecia maquiar as falhas da primeira escolha geral do Draft 2009. Pois bem, desde que Calvin Johnson se aposentou, Matthew Stafford não só mostrou que consegue viver sem o veterano, mas é um jogador melhor sem o wide receiver.

As virtudes de Matthew Stafford

A terceira fase do camisa 9 na NFL: a química com Jim Bob Cooter

Podemos dizer que estamos vendo a terceira forma de Matthew Stafford na NFL. Nos dois primeiros anos, 2009 e 2010, vimos um jogador que tinha problemas em se manter em campo pela terrível linha ofensiva. Entre 2011 e 2015, vimos um jogador que era bem médio, capaz de jogadas que faziam qualquer fã chorar de tão plásticas, ao mesmo passo que lançava interceptações que faziam torcedores coçar a cabeça. Com decisões questionáveis nos últimos quartos, Stafford muitas vezes tentava passes miraculosos (eu gosto dessa mentalidade, diga-se de passagem, saudades Brett Favre) que acabavam interceptados – mesmo assim, liderou a liga com cinco vitórias no último quarto em 2014.

Enfim chegamos à terceira fase de Matthew Stafford. Um jogador que, até por não contar com um alvo da magnitude de Calvin Johnson, erra menos, progride corretamente em suas leituras e lança passes para muitos, muitos alvos. E essa nova fase começa com Jim Bob Cooter tomando as ações como coordenador ofensivo.

A partida do último domingo foi a 16ª de Cooter no comando do ataque do Detroit Lions. Com finalmente uma temporada completa, as estatísticas de Matthew Stafford são as seguintes: 391 passes completos de 570 tentados (68.6%), 4.310 jardas, 35 touchdowns e oito interceptações e um passer rating de 105.2. É importante apontar que o desempenho excelente de Stafford em 2016 vem no meio de lesões dos seus running backs Ameer Abdullah e Theo Riddick, Eric Ebron e Anquan Boldin já mais perto dos 40 anos do que dos 30. Jim Bob Cooter consegue utilizar as qualidades de Matthew Stafford ao máximo, e de forma extremamente eficiente – falaremos disso com mais calma em breve.

Capacidade de decidir partidas em situações adversas

Matthew Stafford tem 46 vitórias como quarterback do Detroit Lions. Dessas 46, 24 foram decididas em um drive no último quarto; 16 dentro dos dois minutos finais. Além disso, o camisa 9 tem cinco passes para touchdown para selar vitórias dentro dos derradeiros 30 segundos – a maior marca por qualquer quarterback desde a fusão da NFL e AFL em 1970.

A capacidade de decidir no quarto período é vital para o sucesso de um quarterback na NFL. É lógico: se eu estou perdendo por uma posse eu quero um líder em campo capaz de chegar à pontuação, seja field goal ou touchdown. E Matthew Stafford tem essa capacidade, conforme exposto logo acima.

Ele tem se encontrado bastante em situações adversas, diga-se de passagem. A defesa do Detroit Lions não tem ajudado muito o quarterback, basta ver a partida de domingo contra o Washington Redskins. O time da NFC North liderava por 13-3 faltando 13 minutos no último quarto. Naturalmente, a defesa cedeu touchdowns em duas campanhas consecutivas para Kirk Cousins, que anotou o 17 a 13 faltando 1:13 minutos para o fim da partida. Apareceu, então, o fator decisivo de Stafford, que marchou 75 jardas em 43 segundos e tirou a vitória da cartola.

O braço mais forte da NFL

Quando falamos de força no braço, uma noção comum que vem à cabeça é a capacidade de lançar passes longos, de 60, 70 jardas. Sem querer desconsiderar a importância disso – a defesa, se souber da dificuldade do seu quarterback em fazer isso, pode limitar o seu ataque -, a força no braço é fundamental para virtualmente eliminar o tempo de reação do defensor.

O braço de Matthew Stafford é o melhor da NFL, ao meu ver. Ele tem uma facilidade extrema em lançar bolas em profundidade – o que fez com que ele e Calvin Johnson tivessem um relação ótima por sete temporadas. Só que a força do braço do camisa 9 é mais importante para evitar que defensores reajam e façam uma jogada em cima do passe. É lógica: se meu passe vai firme e forte para o recebedor, os defensive backslinebackers terão pouquíssimo tempo – se algum – para identificar o passe, ajustar o corpo e tentar desviar ou interceptação. Se o passe sai manso, leve, os defensores conseguem reagir e evitar o passe completo.

Reparem na campanha que resulta no touchdown de Eric Ebron contra o Indianapolis Colts e como a força do seu braço é fundamental. No primeiro passe para Marvin Jones, reparem como a bola chega rápido desde o release até o recebedor. No segundo passe, em profundidade na lateral direita, veja a facilidade que o camisa 9 tem para lançar um passe longo. E, por fim, vejam a força e o tempo que a bola vai até Eric Ebron, e como os defensores só conseguem atacar a jogada quando o tight end camisa 85 já está com a recepção feita e o touchdown anotado. Se o passe ficasse mais meio segundo pendurado, seria passe incompleto pelo hit do defensor no peito de Ebron.


Sem Calvin Johnson, mais distribuição de bola: menos erros cometidos

Bom, finalmente chegamos às vias de fato, por assim dizer. Para ilustrar a situação com Calvin Johnson, levantei os números de Matthew Stafford entre 2011 e 2015 – temporadas nas quais o camisa 9 jogou as 16 partidas da temporada. Nesse período, foram 3.218 passes tentados, 1.988 completos para 23.174 jardas, 144 touchdowns e 77 interceptações.

Agora, vamos olhar os números de Calvin Johnson nesse mesmo período: 795 targets, 461 recepções, 7.428 jardas e 50 touchdowns25.41% dos passes tentados por Matthew Stafford foram na direção de Calvin Johnson; 34.27% dos touchdowns foram para o jogador e 32% das jardas de Matthew Stafford vieram dessa conexão com o grande ex-camisa 81 do Detroit Lions.

Vemos que, em média, praticamente um terço da produção aérea de Matthew Stafford durante suas últimas cinco temporadas veio com Calvin Johnson. Eu não quero me debruçar no mérito da importância do camisa 81 neste ataque; ele é obviamente um talentosíssimo jogador que fez do ataque do Detroit Lions melhor nos seus anos de NFL. Sem seu principal recebedor pela primeira vez desde 2009, a dúvida pairou sobre a capacidade de Matthew Stafford em conduzir este ataque – eu mesmo escrevi sobre isso antes da temporada.

“Com Jones, Ebron, Fuller e Tate, os Lions podem confeccionar seu plano de jogo explorando as vantagens de cada um destes jogadores contra os adversários específicos, criando match-ups desfavoráveis. Esse potencial aliado aos running backs com características complementares e nomes com enorme potencial na linha ofensiva, o torcedor do Detroit Lions pode esperar um ataque focado na distribuição de volume entre todos os integrantes.”

Essa foi a conclusão que cheguei analisando os talentos que o cercavam. E foi justamente o que aconteceu até agora nesta temporada: o líder em targets, Golden Tate, tem 5321.99% das tentativas de Matthew Stafford. Marvin Jones, que tem 52, conta com 21.57% do volume do quarterback; 17.1% vai para Anquan Boldin, 20.3% para os running backs (Abdullah, Riddick, Zenner, Forsett, Washington) e 10.37% para Eric Ebron, que jogou apenas quatro partidas.

O ataque do Detroit Lions está muito mais equilibrado no quesito quem recebe a bola. Matthew Stafford não mais lança passes pirotécnicos tentando vencer a marcação tripla em cima dos seus recebedores. A equipe, sob a batuta de Jim Bob Cooter, utiliza conceitos de combos de rotas, visando espalhar os defensores e encontrar um espaço médio ou curto. É um ataque que usa a capacidade de se livrar rápido e com força de Stafford com louvor. E ao evitar esses passes dignos de highlights, os turnovers diminuem.

Sem forçar os passes e lançar um terço dos seus passes para um único alvo, o jogo de Matthew Stafford fica mais imprevisível. Sem aquela bola de segurança,  “lança pro alto que Calvin Johnson se vira”, o camisa 9 do Detroit Lions precisa ser mais dedicado e focado em suas leituras e opções de passe. E ele tem feito isso; basta ver como a equipe da NFC North conquistou suas vitórias em 2016.

Das quatro interceptações, uma veio com menos de 30 segundos no relógio buscando a vitória contra o Tennessee Titans, numa leitura equivocada. Contra o Green Bay Packers, a interceptação lançada veio num erro de Eric Ebron que não fez a recepção rapidamente e deu espaço para o defensive back roubar a bola. Das duas contra o Chicago Bears, uma veio num erro grosseiro de rota do Golden Tate, que ao invés de quebrar para a lateral (faltavam menos de 30 segundos no segundo quarto), correu uma go. A outra veio num passe um pouco a frente de Eric Ebron, buscando reverter um déficit de duas posses com dois muitos e meio para o fim do jogo.

O que isso quer dizer? Que os erros e os turnovers cometidos por Matthew Stafford tem vindo em situações adversas – como buscar o resultado de uma partida -, ou em erros dos seus recebedores. 5.6% dos passes tentados pelo camisa 9 caem no chão por equívocos dos recebedores – segunda maior marca da NFL. A média da liga é 3.6%. Stafford é hoje um jogador mais preciso, seguro e que protege muito melhor a bola, sem comprometer as possibilidades de vitória da equipe.

Corrida pelo MVP – e pela pós-temporada?

A pós-temporada para o Detroit Lions pode parecer algo mais palpável do que se imaginaria. Das três derrotas da equipe, todas vieram por apenas uma posse de bola. Quanto ao calendário, o time enfrenta o Minnesota Vikings duas vezes, é verdade, mas enfrenta também o Houston Texans, Jacksonville Jaguars, New Orleans Saints, Chicago Bears, New York Giants, Dallas Cowboys e Green Bay Packers. Alguns jogos mais difíceis que outros, mas todos com possibilidade de vitória para a equipe de Michigan.

O que dificulta, claro, é a força da sua divisão. O Minnesota Vikings e o Green Bay Packers são forças a serem batidas, com retrospectos 5-1 e 4-2, respectivamente. O que pode pesar negativamente para o Detroit Lions é o retrospecto dentro da NFC North – que já conta com duas derrotas, contra os Bears e os Packers. Vencê-los na segunda oportunidade – e pelo menos numa das partidas contra os Vikings – seria o ideal para os Lions. Para isso, a defesa precisa ajudar um pouquinho seu quarterback e não forçá-lo a jogar a alma nos último períodos, pois ele, em algumas oportunidades, não vai conseguir reverter o resultado – vide as derrotas para os Packers, Bears e Titans.

MVP?

O nível de jogo, eficiência e forma de alcanças as vitórias de Matthew Stafford o colocam, ao meu ver, como um candidato ao jogador mais valioso da liga. Fora Matt Ryan, tem algum outro quarterback que tem sido tão importante para seu time como Stafford tem sido para os Lions? Que tenha demonstrado números impressionantes e uma forma de jogo tão decisivo? Talvez Drew Brees, que mostra performances impressionantes semana sim semana sim pelo New Orleans Saints – e o faz em situação semelhante à que se encontra Stafford: sem uma defesa sólida. Tom Brady tem sido ótimo, mas são apenas duas semanas – e uma contra o Cleveland Browns.

Independentemente do prêmio, estamos vendo Matthew Stafford se colocar como um jogador de ponta. O Detroit Lions, que foi criticado uns anos atrás por pagar um portentoso salário a um quarterback que era apenas mediano, está colhendo os frutos deste investimento. Infelizmente, os dias de ouro do camisa 9 chegaram sem que Calvin Johnson pudesse compartilhar e tentar o tão sonhado Super Bowl.

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