Thursday Night Football: a prova de que a NFL também erra na organização

Frequentemente, quando nos deparamos com os problemas de organização do futebol brasileiro, como calendário, interferência de tribunais e coisas do tipo, citamos a NFL como exemplo a ser seguido. Entretanto, acompanhando de perto a liga, é fácil perceber diversas decisões no mínimo questionáveis. Desde a abordagem às concussões e suas consequências para a saúde dos jogadores, passando pelas decisões disciplinadoras de Roger Goodell, a ideia de uma liga sem problemas passa longe.

Hoje, aqui no Pro Football, falaremos sobre mais um erro da NFL. Um erro que compromete de maneira decisiva a qualidade dos jogos, atrapalhando a audiência e, mais importante, o desempenho das equipes: o Thursday Night Football.

Jogos na quinta-feira não são novidade na NFL. Além dos tradicionalíssimos jogos no feriado norte-americano do Dia de Ação de Graças, até com localidades fixas (Detroit e Dallas), sempre houve eventuais jogos na quinta-feira à noite – originalmente com a “bandeira” do Monday Night Football – e a audiência era horrível. Mais recentemente, a partir de 2002, o primeiro jogo da temporada passou a ser realizado em uma quinta-feira, sendo que, desde 2004, traz a estreia do campeão do ano anterior (neste ano, inclusive, a temporada foi aberta com uma repetição do Super Bowl, entre Denver Broncos e Carolina Panthers).

Em 2006, começamos a ver a NFL dar o tal “passo maior que a perna”. Com o objetivo de promover seu canal de televisão, a NFL Network, foi iniciado um pacote de jogos nas quintas e sábados à noite, no último terço da temporada. Finalmente, em 2012, foi criado o Thursday Night Football de acordo com os moldes atuais, fazendo com que tenhamos jogos na quinta-feira à noite em todas as semanas da temporada. Desde então, temos vistos os problemas sobre os quais falaremos a seguir.

Qualidade do jogo

O futebol americano é um esporte extremamente físico. Com uma semana de intervalo entre os jogos, muitas vezes a recuperação física dos jogadores é difícil. Para jogos na quinta-feira à noite, são apenas quatro dias de descanso. É absolutamente irreal pensar que os jogadores estarão fisicamente recuperados para jogar com a intensidade habitual. Inevitavelmente, acabamos presenciando atuações muito abaixo do padrão. A consequência direta disso são jogos de qualidade reduzida e menos interessantes.

É muito frequente, nos jogos de quinta-feira à noite, a ocorrência dos chamados blowouts (a famosa “goleada”). Nesta temporada, por exemplo, tivemos, em semanas consecutivas, vitórias dos Patriots sobre os Texans (27 a 0) e dos Bengals sobre os Dolphins (22 a 7). As duas partidas foram modorrentas, sem competitividade. Um fator que provavelmente contribuiu para os resultados, conforme citamos acima, foi a melhor recuperação física das equipes vencedores. Tão importante quanto, aparentemente, foi o fato de jogar em casa. Neste intervalo pequeno entre os jogos, não ter que viajar certamente faz bastante diferença. Aliás, na temporada 2016, até agora, só uma equipe perdeu jogando em casa na quinta-feira à noite. Não à toa estamos falando de uma das piores equipes da liga, o San Francisco 49ers, que perdeu do Arizona Cardinals na semana 5.

O pouco tempo de recuperação entre dois jogos que afeta as equipes que participam do Thursday Night Football pode ser exemplificado pelo que veremos no jogo que abre a semana 7. No confronto entre Green Bay Packers e Chicago Bears, que será disputado nesta quinta em Green Bay, as equipes estarão bem desfalcadas. Os Packers já tem 7 desfalques confirmados para o jogo, incluindo os running backs Eddie Lacy e James Starks e os cornerbacks titulares Damarious Randall e Quentin Rollins. Já os Bears terão ao menos 5 desfalques, incluindo o guard Josh Sitton e o defensive tackle Eddie Goldman. Não há dúvida que os desfalques devem contribuir para um jogo de nível inferior ao esperado. Se bem que, com o que as duas equipes vêm jogando, já não se esperava muito mesmo…


Queda de Audiência

A NFL vive uma “crise” de audiência nos Estados Unidos em 2016. Após vários anos seguidos de crescimento ininterrupto, com recordes sendo batidos quase que semanalmente, neste ano a audiência nos EUA vem caindo de forma clara. Dentre as razões levantadas como possíveis causas para essa queda encontram-se as eleições norte-americanas, com debates entre os candidatos no mesmo horário de jogos da NFL. O Chicago Cubs, equipe que não ganha a World Series desde 1908, “atrapalha” também. O interesse pelos playoffs do beisebol está maior neste ano. Além disso, é maior o número de pessoas assistindo jogos pela internet e celulares. Ainda assim, não dá para negar que há uma estagnação da NFL na preferência dos americanos.

Um fator importante, sempre que consideramos audiência, é o fator “estrela”. Podemos dizer que a NFL começou a temporada 2016 sem as suas duas maiores estrelas: o aposentado Peyton Manning e o suspenso Tom Brady – sem contar Tony Romo, quarterback titular de um dos times com maior torcida nos EUA. Quando se junta a isso fatos como a performance ruim de alguns dos principais jogadores em atividade, como Cam Newton e Aaron Rodgers, além do número cada vez mais elevado de faltas e revisões de replay em cada partida, o “mistério” da queda de audiência fica mais fácil de ser compreendido. Alguns ainda apontam que os protestos realizados pelos jogadores (ajoelhando durante o hino) antes dos jogos esteja afetando – mas isso é minúsculo em termos de tempo de transmissão, então é difícil ser um motivo razoável. A prova de que a audiência preocupa é o uniforme “color rush” – utilizado estrategicamente às quintas para haver um ingrediente a mais para o jogo.

Olhando mais de perto os números de audiência chama a atenção que os jogos da tarde de domingo, nas duas janelas tradicionais, com várias partidas ao mesmo tempo, apresentam pouca redução nos índices. A grande perda de audiência aparece nos jogos noturnos, às quintas, domingos e segundas. Nesse ponto, a qualidade reduzida das partidas de quinta-feira à noite certamente contribui para a redução da audiência.

A partir daí, podemos ainda tirar outras conclusões.

Em um momento de redução do interesse geral com relação à NFL, aumentar as janelas de jogos passa a ser uma medida questionável. A tradicional “confusão” do domingo à tarde, com vários jogos ao mesmo tempo (e todo mundo tentando acompanhar tudo ao mesmo tempo…), se mantém como a base da NFL. Em um momento de oscilação como o que a liga vive agora, talvez apostar na tradição seja a melhor ideia.

O Erro

A NFL se tornou a liga esportiva mais popular dos EUA muito por conta dos altos níveis de qualidade e emoção de suas partidas. Em uma realidade na qual a televisão é a principal fonte de lucro da liga, é natural que se abra outras janelas para jogos, como é o caso do Sunday Night Football e do Monday Night Football, ou mesmo dos jogos matutinos em Londres. Entretanto, colocar jogos regulares no meio da semana, diminuindo inevitavelmente a qualidade dos mesmos, é um tiro no próprio pé (um abraço, Plaxico) dado pela liga. Jogos ruins, com pouca emoção e que aumentam o risco de lesões graves nos jogadores, as partidas do Thursday Night Football trazem muito prejuízo para a imagem da NFL, fazendo com que qualquer lucro extra com direitos de televisão não valha a pena a longo prazo.

Na NFL dos dias de hoje, em que a soberba do comissário e de seus patrões (os proprietários das equipes) não parece ter limites, é provável que o Thursday Night Football se mantenha por muito tempo, independente das consequências, tanto esportivas quanto de audiência.

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