Votar em Cairo Santos para o Pro Bowl não seria ufanismo – seria justiça

O precedente da Fórmula 1 é terrível. Ao longo dos últimos dias, ouvi de algumas pessoas que “não deixam de fazer algo para ver corridas” e outras explicações para não terem visto o grande prêmio final do Campeonato Mundial, em Abu Dhabi. Se você é um deles, Rosberg foi campeão e eu não tenho ideia qual a colocação final de Felipe Massa.

O interesse na Fórmula 1 foi embasado em vitórias brasileiras. Isso é inequívoco. A própria inserção de uma produção mais trabalhada no Grande Prêmio do Brasil por parte da Globo e do Tema da Vitória quando brasileiros ganham – ao oposto do que era ao início dos anos 80, quando tocava para vencedor de qualquer nacionalidade – mostra como a audiência da F1 foi construída. Um acidente em Imola começou, em 1994, a desmoronar esse interesse. A ruptura na transição do trono ufanista de um Senna candidato ao título para um Barrichello do meio do pelotão acabou por botar esse ufanismo a prova e ao fracasso.

Outros exemplos de interesse fundado em brasileiros me assustam quando trato de NFL e de Cairo Santos. O interesse repentino no tênis durante a Era Guga em Roland Garros, por exemplo – e a queda igualmente repentina depois. O surfe agora com os brasileiros. Enfim.

O que eu nunca quis era que o interesse no futebol americano profissional fosse predicado na presença de Cairo Santos na NFL. Até porque a paciência com kickers por vezes é curta. E a carreira de um jogador, seja bom ou seja ruim, um dia acaba por conta da idade. E depois, vamos esperar um brasileiro aparecer para continuar o fomento do futebol americano aqui no Brasil?

Não, lógico que não.

Muito por conta disso – e dos exemplos negativos que dei acima – evito maximizar os feitos de Cairo só porque ele é brasileiro. Na medida do possível, lhe trato como kicker do Kansas City Chiefs, não como kicker brasileiro do Kansas City Chiefs. Claro: falar sobre ele, estando aqui no Brasil, é importante porque é do interesse do público. Mas há de se preservar certa isonomia para não incorrermos nos erros que listei ao início deste texto.

Feita esta introdução necessária, vamos ao prato principal: não é nenhum absurdo votar para Cairo ir ao Pro Bowl – jogo das estrelas da liga – como um dos melhores kickers da NFL. Ele fez por merecer neste ano.

Isso significa que ele é o melhor kicker de 2016? Não. Justin Tucker está aí e não podemos colocar o carro na frente dos bois – afinal, Tucker é o único kicker em campo desde a Semana 1 a acertar todos os extra pointsfield goals que tentou. Mas não temos um kicker tão somente no jogo das estrelas. Você pode votar em mais de um. E, ontem, definitivamente, Cairo ganhou o meu voto.

Para começar, foi o segundo game winning dele nesta temporada – o primeiro havia vindo duas semanas atrás contra o Carolina Panthers. Muito da essência libertadores y copera do Kansas City Chiefs vem da capacidade e confiança de Cairo ao final dos jogos. O de 34 jardas para vencer os Broncos no Sunday Night Football marcou o segundo field goal em prorrogação de Cairo Santos em sua carreira. Em compensação, vivemos uma epidemia de kickers errando chutes cruciais.

Como esquecer de Steven Hauschka e Chandler Catanzaro, respectivamente kickers de Seahawks e Cardinals, jogando fora a chance de vitória no mesmo palco nacional do Sunday Night Football? Ou de Mike Nugent, chutador dos Bengals, errando três extra point seguidos? Blair Walsh nos playoffs? Por contraste, Cairo mostrou ontem que é decisivo.


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Santos (é esquisito se referir a ele apenas pelo sobrenome como os americanos fazem, mas vamos lá) tem 2 tentativas para mais de 50 jardas e ambas foram acertadas em 2016. Um problema que ele tinha em 2014 – kickoffs curtos – já foi solucionado. Em suma, ele já demonstrou todas as virtudes necessárias para um grande kicker profissional.

Numa epidemia de kickers errando, os outros 31 times da NFL com certeza devem estar se arrependendo de não ter gasto uma escolha de Draft em Cairo, não-draftado em 2014. Não fez sentido, para falar a verdade: ele tinha sido eleito, um ano antes, o melhor dentre os 128 kickers do College Football (Lou Groza Award). Na época, não parecia que teríamos tantos erros. Hoje, ele se destaca e mostrou-se uma contratação acertada dos Chiefs – que lhe preferiu ao veterano Ryan Succop.

Matt Prater, Adam Vinatiei, Dan Bailey e Justin Tucker são quatro dos melhores kickers da NFL em 2016. E não seria ufanismo nenhum colocar Cairo Santos na lista. Por tudo o que foi demonstrado e pelo o que ainda pode ser.

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