Draft: 1983, o maior drama de quarterbacks da história

Recusa de John Elway em defender os Colts, rumores bizarros sobre Dan Marino na Universidade de Pittsburgh e o suposto pavor de Jim Kelly em jogar no frio trouxeram altas doses de drama às escolhas feitas em 1983

A classe de quarterbacks de 1983 é considerada de maneira quase unânime como a maior de todos os tempos. Além de ter estabelecido o recorde de mais signal callers selecionados na 1ª rodada (6), ela também colocou três nomes no Hall da Fama (John Elway, Dan Marino e Jim Kelly) e foi a grande responsável pela primeira “era de ouro dos quarterbacks”, sendo decisiva na transformação do futebol americano pesado e terrestre dos anos 1970 em favor de um estilo mais aéreo e ofensivo nas duas décadas seguintes.

Contudo, houve muita briga antes de toda a glória, sobretudo na noite do próprio Draft. Nenhum dos três futuros Hall of Famers, por exemplo, passou ileso por controvérsias nos primeiros momentos de suas carreiras profissionais. São essas histórias as quais nós iremos relembrar.

A chantagem de Elway para não jogar em Baltimore

O caso mais célebre sem dúvida é o de John Elway, magistralmente contado no documentário da ESPN norte-americana chamado “Elway to Marino”. Em resumo, o jovem ex-Stanford travou uma guerra visando não ser escolhido pelo Baltimore Colts, o dono da 1ª pick geral do recrutamento. Ele acreditava que não poderia ter sucesso em Baltimore, pois na época o time era marcado pela desorganização e vinha de sucessivas temporadas negativas, incluindo um 0-8-1 em 1982.

O general manager Ernie Accorsi, porém, draftou-o apesar das críticas e dos protestos públicos. Seguiu-se uma guerra fria entre Elway e os Colts, na qual ele chegou ao ponto de ameaçar abandonar o futebol americano para jogar beisebol no New York Yankees. Alguns dias depois do Draft, no entanto, Accorsi cedeu à pressão e aceitou negociá-lo ao Denver Broncos em troca de dois atletas e uma escolha de 1ª rodada em 1984.

Boatos sobre uso de drogas ajudaram a derrubar Marino

O site Bleacher Report publicou um longo texto a respeito do assunto há alguns anos, mas ninguém sabe de verdade de onde os rumores surgiram. O palpite é terem a ver com a fama, digamos, festeira da Universidade de Pittsburgh na década de 1980. Seja como for, entre 1982 e 1983 espalhou-se um boato no mundo esportivo sobre Dan Marino gostar de usar drogas recreativas para se divertir, o que em parte explicaria por que ele despencou e caiu no colo do Miami Dolphins na penúltima posição da 1ª rodada.

É difícil saber o quanto a história realmente impactou na queda, entretanto Chuck Noll, à época treinador do Pittsburgh Steelers, admitiu que esse foi o principal motivo para a franquia não o ter draftado – Marino, em seguida, recriminou o técnico por ter trazido o tema de volta às manchetes. No final das contas, os rumores eram falsos e resolveram a vida dos Dolphins.

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Kelly não queria os Bills

Havia três times pelos quais Jim Kelly não gostaria de jogar: Minnesota Vikings, Green Bay Packers e Buffalo Bills. Não somos nós que estamos dizendo, isso foi admitido por ele mesmo em uma entrevista concedida anos atrás. Após fazer sua carreira universitária na ensolarada Miami, o signal caller provavelmente não desejava voltar a atuar debaixo de neve ou outras condições climáticas extremas.

A frustração, portanto, mostrou-se imensa quando Buffalo puxou o gatilho, a ponto de Kelly preferir a USFL à NFL. A liga concorrente lhe ofereceu a oportunidade de escolher uma equipe e a opção foi pelo Houston Gamblers, onde ele jogaria na run and shoot offense do treinador Jack Pardee e no confortável (e fechado) Astrodome. Kelly passou duas temporadas na USFL e voltou à NFL em 1986, aceitando o destino de defender os Bills – o dono Ralph Wilson deixou claro não existir chance de uma troca ocorrer.

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“Os Jets obviamente sabem de algo”

Uma das maiores tradições da noite de Draft é os torcedores do New York Jets vaiarem as seleções da franquia. Em 1983, os fãs queriam Dan Marino com a 24ª pick geral, logo ficaram malucos quando o comissário Pete Rozelle anunciou o nome de Ken O’Brien, o desconhecido quarterback da minúscula UC Davis, uma universidade da FCS.

Em meio às vaias e ao sentimento geral de incredulidade, contudo, um torcedor resignado e esperançoso soltou a lendária frase: “Todo mundo dizia que Marino estaria disponível nesta altura e eles pegariam o Marino. Obviamente os Jets sabem de algo que as pessoas aqui não sabem”. Enfim, O’Brien não chegou a ir ao Hall da Fama, mas foi um sólido titular dos Jets por quase 10 anos, sendo o melhor quarterback da franquia não chamado Joe Namath.

Todd Blackledge e Tony Eason, os busts

Curiosamente, os signal callers não envolvidos em drama no momento de suas escolhas foram Todd Blackledge e Tony Eason, dois belos busts mais famosos por saírem antes de Marino do que pelos seus feitos em campo.

Blackledge, acredite se quiser, fora o último quarterback selecionado pelo Kansas City Chiefs na 1ª rodada antes de Patrick Mahomes. Campeão nacional por Penn State e draftado na 7ª posição geral, ele ficou apenas cinco temporadas na equipe antes de ser mandado embora – seu retrospecto na NFL é de 29 touchdowns contra 38 interceptações.

Eason, por sua vez, teve um pouco mais de sorte no New England Patriots, porém seus números não são expressivos e ele detém a marca de ser o único titular a não ter completado um passe sequer no Super Bowl, participando do massacre sofrido pelos Patriots diante do Chicago Bears no Super Bowl XX.

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