Assim como tudo na humanidade, a última imagem por vezes pesa mais que todo histórico por trás dela. Em se tratando de esportes então, a memória ainda é mais curta: um lance ruim ou uma partida perdida transformam a narrativa, de forma que as glórias anteriores sumam. É talvez esse o sentimento que alguns terão ao ler sobre o prêmio de MVP para Aaron Rodgers. Afinal, apesar de ele não ter jogado mal contra o Tampa Bay Buccaneers no jogo decisivo da NFC, a derrota custou mais uma chance de vencer um Super Bowl.
Porém, seria a maior injustiça de 2020 não fazer do quarterback do Green Bay Packers o agraciado com o prêmio individual de maior valor na NFL. Apesar de toda incerteza ao seu redor antes da temporada, com a franquia selecionando Jordan Love na primeira rodada do Draft, Rodgers não se abateu e teve um ano espetacular. Nomes como Allen Lazard, Marquez Valdes-Scantling e Robert Tonyan tiveram a sorte de jogar com um quarterback de elite em um ano de MVP e talvez façam bons contratos no futuro por conta disso. A pergunta é: se Rodgers fez isso com esses nomes e apenas Davante Adams de alto calibre, o que ele não seria capaz com um pouco mais de ajuda?
Um ressurgimento inesperado
Longe de achar que Rodgers vinha jogando mal nas últimas temporadas, mas a verdade é que ele parecia, sim, ter passado do seu auge (2011-2014). Por mais que suas performances nos últimos três anos ainda o sustentassem como um quarterback do topo da NFL, questionavelmente até top-5, ele estava longe da besta-fera que fora na primeira metade da década, quando venceu a premiação. O camisa 12 dos Packers parecia um tanto quanto entediado: primeiro ele lidou com o fim da era Mike McCarthy. Depois, no ano de estreia com Matt LaFleur, foi colocado num sistema novo e atípico para ele, onde não parecia estar 100% à vontade.
Claro que uma melhora em 2020 era esperada, justo pela adaptação e conhecimento da forma de jogar do novo ataque, porém a explosão foi sensacional. Pela primeira vez em sua carreira, Rodgers teve 70% de passes completos em uma temporada. As 8,2 jardas por tentativa de passe foram seu melhor número desde 2014. Somando 2018 e 2019, Rodgers lançou 51 touchdowns: em 2020 foram incríveis 48. 9% de seus passes se tornaram 6 pontos, marca quase 2% superior ao segundo colocado. Em toda história da NFL, no seu formato moderno, somente Peyton Manning em 2004 foi melhor: 9,9% de seus passes viraram touchdowns.[foot]https://www.pro-football-reference.com/[/foot]
O difícil parece corriqueiro
A grande diferença de um gênio para um ótimo jogador é como ele faz jogadas especiais e com qual frequência: para o primeiro, com facilidade e rotineiramente; já para o segundo serão momentos especiais. Rodgers sem dúvidas está no primeiro grupo e durante sua carreira passou pelo processo de “normalização”, aquele onde os momentos espetaculares não são tão apreciados por parecerem normais. Em 2020 não faltaram passes em movimento, em profundidade, back shoulders, enfim, tudo que um MVP pode fazer. Assistir o quarterback dos Packers jogar foi um deleite para os amantes do futebol americano.
Claro que a falta do título é sentida, mas desde 1999 que o melhor jogador da temporada regular não consegue levar o anel para casa. Talvez seja hora de entendermos que é mais que uma casualidade do destino, uma ingratidão dos deuses da bola. É mais uma prova de quão gigantescos esses nomes são, ganhando um prêmio desse calibre com um time nem tão bom ao redor. Rodgers foi isso em 2020: nomes medianos no ataque, uma defesa apenas ok e sua genialidade deixando tudo mais bonito e escondendo os erros. A esperança é que os Packers aprendam com os erros, pois 2021 pode ser á última chance da franquia em ter um título com Rodgers em seu comando.
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