Primeira Leitura: A temporada 2016 da NFL está chata?

A audiência da NFL está em queda nos Estados Unidos. Isso foi alardeado de maneira intensa nos últimos dias e parecia o fim do mundo. Que fique claro: preocupa, mas não é. Seria como se a NFL estivesse no 50º andar de um prédio e acabou de pegar o elevador para o 45º. Quando você tem um evento como as eleições americanas, isso acontece – em todos os anos de eleição presidencial a audiência nos EUA caiu. De toda sorte, a liga ainda detém as melhores audiências no que tange a eventos esportivos nos EUA. Dallas Cowboys e Green Bay Packers, partida válida pela sexta semana da temporada 2016, teve números semelhantes a jogos das finais da NBA – beirando os 30 milhões de dólares.

O fato da audiência ainda estar alta esconde o fato de que muitos estão coçando a cabeça em Park Avenue e nas salas de estar ao redor dos Estados Unidos – bem como no Brasil. O que está acontecendo com esta temporada? Ela está chata?

Depende do ponto de vista. Alguns fatores fazem com que a gente fique meio blasé em relação à temporada 2016 da NFL. Para mim, ela não está sendo necessariamente chata. Está bastante atípica, sim. São vários os fatores que contribuem com isso. Tentarei falar sobre alguns deles neste texto.

O Horário Nobre está fraco, não temos como negar

A temporada abriu em grande estilo, com o rematch do Super Bowl 50. Pelo fato do calendário ser montado de modo que equipes de conferência distinta tenham partidas entre si apenas de 4 em 4 anos, a NFL deu uma baita sorte aqui. O Carolina Panthers brigou até o final contra o Denver Broncos e a empolgação do público refletiu isso. Na sequência, Patriots e Cardinals também tiveram um duelo interessante pelo Sunday Night.

Dali para frente as coisas foram ladeira abaixo. Os Steelers passaram o caminhão em Washington – na sequência, uma das piores partidas dos últimos anos no duelo Gabbert vs Keenum num Monday Night Football que começou às 23:30. Especificamente no caso do Sunday Night, a NFL ainda tentou fazer com que houvesse partidas interessantes – em teoria. A Semana 2 teve um duelo que prometia – abertura do novo estádio dos Vikings contra os rivais Packers. A Semana 4 teve dois times que foram aos playoffs do ano passado, com Chiefs e Steelers.

O problema foi o resto. Chicago é o terceiro maior mercado consumidor dos Estados Unidos. Para a NBC e para a NFL, é interessante que haja jogos dos Bears no horário nobre. Até agora há foram três, aliás: dois contra a NFC East e um contra o Green Bay Packers. Todos massacres e com o agravante dos Cubs estarem na World Series – a frase que eu nunca pensei em escrever. Logicamente foram jogos esquecíveis.

Quando houve duelo divisional – Packers/Vikings, Colts/Texans – que poderia gerar ramificações na classificação, os jogos não empolgaram. Sejam por erros (Texans/Colts) ou por poucos pontos (Vikings/Packers, Seahawks/Cardinals). E o fã gosta de pontos. Quando a liga se inclinava para um maior viés terrestre nos anos 70, ao final da década a NFL abriu o jogo aéreo criando a falta da interferência defensiva além das 5 jardas da linha de scrimmage. Na década de 80, o jogo abriu e os pontos vieram com maior facilidade.

No caso do Monday Night Football, o problema foi parecido – com o agravante dele não ter o “direito” de escalar o “potencial melhor jogo da rodada”, sendo em qualidade dos times ou tamanho do mercado consumidor. O MNF alternou entre jogos praticamente sem defesas (Falcons/Saints) e jogos sem ataques (Buccaneers/Panthers). Quando havia uma forte storyline por trás do jogo – o primeiro jogo do Los Angeles Rams desde 1994, a volta de Todd Bowles ao Arizona, a vingança da defesa dos Broncos ante Brock Osweiler – as partidas terminaram com média de 23 pontos de diferença para o outro time que não era envolvido na história. Meh. Não ajuda saber que a Semana 8 terá um Vikings (5-1) at Bears (1-6).

As ausências ao início da temporada + queda de rendimento de outros ídolos

Como disse neste texto, o brasileiro é carente de ídolos. A ausência deles no College Football (pelo fato dos jogadores acima da média raramente ficarem mais de três anos por lá) ajuda a explicar o porquê da NFL ter explodido em popularidade e o College, não.

Tom Brady esteve fora das quatro primeiras partidas da temporada por conta de suspensão imposta pela NFL – cuja justificativa foi o envolvimento “mais provável do que improvável” do quarterback no episódio do DeflateGate. Peyton Manning, outro ídolo, acabou de aposentar. Tony Romo, quarterback titular de um dos times mais populares dos Estados Unidos (e do Brasil também) está machucado desde a Semana 3 da pré-temporada até agora. J.J Watt, discutivelmente o melhor jogador defensivo da liga, machucou e não deve voltar neste ano. Khalil Mack, seu “herdeiro” no posto, não está postando números tão excepcionais.

Para completar o quadro significativamente negativo para quem acompanha o esporte por conta de ídolos – seja no Brasil ou nos EUA – os Packers de Aaron Rodgers vinham mal na temporada. Não em campanha, mas em jardas, big plays e todo o mais que fez com que o torcedor se apaixonasse pelos cabeças-de-queijo na Era Favre e recentemente com Rodgers. Cam Newton, outro ídolo que atrai vários seguidores, está caminhando rumo a uma temporada na qual ele decerto não defenderá o título de MVP (jogador mais valioso da liga). Drew Brees tem que carregar nas costas uma defesa inepta. Se ele errar, como domingo passado, já era.


Ou seja: o quadro é negativo se você acompanha o esporte por conta de ídolos. Claro: novos ídolos surgiram nesta temporada. Carson Wentz, Dak Prescott, Ezekiel Elliott. Mas tudo o que é novo estranha.

Isso porque eu não mencionei o Thursday Night e os jogos em Londres

Não vou me estender na questão do Thursday Night Football, o João Henrique já falou extensamente do problema. Em resumo, caso você esteja com preguiça de clicar, a necessidade de que todos os 32 times joguem na quinta-feira fizeram com que houvesse uma super-exposição de um produto que não é tão bom como o de domingo.

O Thursday Night Football desta próxima semana é Jaguars e Titans. Não vou me estender sobre. É mais provável do que improvável que será um jogo assistido apenas por fãs hardcores da NFL – além dos torcedores dos respectivos times. Nada contra nenhum dos dois times, mas são equipes na parte debaixo da tabela que tiveram uma semana mais curta para se preparar. Ou seja. Você entendeu.

Ademais, ainda nessa toada de super-exposição, os jogos em Londres – transmitidos aqui no Brasil – também não foram acima da média. Colts e Jaguars, Rams e Giants. Mesmo antes da temporada não são duelos que empolgam.

O grande problema do Thursday Night e dos jogos em Londres é que eles são como carro abre-alas do Carnaval. Se você está enchendo a cara na Sapucaí e vê um carro abre-alas capenga, com a decoração mal colada, é de se esperar que o resto do desfile seja visto com maus olhos. Tá, pode ser que você odeie carnaval ou só está no Camarote Brahma pra tentar dar em cima de alguma atriz decadente da Globo, então eu vou usar outra analogia.

Imagine que você está super ansioso para um dado final de semana. Na quinta vai ter uma festa e no domingo, outra. Chegando na festa de quinta, a primeira pessoa que vem te cumprimentar e fica te pentelhando a noite toda, pedindo para você “lhe ajudar a pegar mulher” é o cara mais chato da faculdade. Mas, assim, chato mesmo. Sua festa não vai ser boa e você vai perder a empolgação para domingo, certo? Então, é isso. O Thursday Night Football é o cara chato que você é obrigado a trocar ideia.

As comemorações (ou falta delas) + imbecis que batem em mulher

Se compararmos a NFL com outras ligas americanas, há um record negativo em imbecis que batem nas namoradas e nas esposas. O caso mais recente é Josh Brown, que originalmente foi suspenso por apenas um jogo. A punição só virou “suspensão por tempo indeterminado” quando veio a tona sua confissão, a qual em resumo diz que ele abusou fisicamente da esposa por anos.

Somado a isso (e o caso de Brown não é único) temos as multas por comemorações. No Fun League virou o lema de Roger Goodell. Não é por acaso: um é reflexo de outro. A NFL quer que seus atletas sejam exemplos “positivos”. Ao invés de coibir os atos de violência doméstica, foca no que é mais visível a cada semana: Antonio Brown descendo na boquinha da garrafa.

Esporte é entretenimento e espero que a liga solucione isso o mais breve o possível. Que as multas façam sentido e tenham como foco os babacas que fazem mulheres chorar, não os que fazem o público sorrir com comemorações divertidas.

Há esperança?

Sabe uma coisa que eu não gosto?

Quando alguém aponta problemas ou reclama sem dar ideias para arrumar a casa. Depois de alguns anos na Atlética da minha faculdade, isso é algo que enraizou em mim. Se você tem problemas, tente ajudar a solucionar. Então, imaginando um mundo perfeito no qual eu sou eleito na semana que vem o comissário da NFL, vamos a soluções.

A princípio, o Sunday Night Football foi vítima de um gigantesco azar. A esperança é que as próximas semanas melhorem, porque não há mais a obrigação de colocar Chicago e times fracos jogando no horário nobre – os Bears não foram colocados na primeira metade da temporada a toa, a ideia é “se livrar” da obrigação com um mercado consumidor grande. Já neste domingo temos Eagles vs Cowboys. Na outra semana, Broncos e Raiders. Na seguinte, Seahawks e Patriots. C’Mon, se esses jogos não forem bons eu viro comentarista de curling. Ademais, vale lembrar que a NBC/NFL podem mudar jogos do SNF para confrontos mais interessantes, desde que estejamos na metade final da temporada.

Quanto ao Monday Night, passada a semana 8, temos um Bills e Seahawks que ninguém dava nada e que pode ser um jogo acima da média. Ainda restam outros jogos mais murchos no calendário, tal qual Colts e Jets. Mas isso vem de outras temporadas e espero que a NFL lembre que o Monday Night Football só deu certo de 1970 até 2005 porque tinha o melhor jogo da rodada para fechá-la com gosto de quero mais. Não, o MNF não será o melhor jogo da rodada – esse papel é do SNF desde 2006. Mas seria bom se a liga se atentasse a isso.

No que tange ao Thusrday Night Football, a melhor solução é acabar com ele da forma que existe hoje. Num mundo ideal, os times que jogam no TNF deveriam ser aqueles que folgaram na semana anterior – assim, a preparação será maior. As folgas vão da semana 4 até a 13, então TNF nas semanas 5 até a 14. Na Semana 15 e 16, você tira o jogo da quinta e coloca no sábado a noite. Por que não antes? Bom, existe uma legislação nos EUA que proíbe a NFL de colocar jogos na sexta e no sábado enquanto as temporadas regulares do High School e do College Football ainda estejam rolando. Durante a Semana 15 da NFL, a temporada regular do College já acabou e jogo no sábado pode ser marcado – como já acontece, aliás. Isso faz com que os times tenham mais tempo para se preparar, os jogadores tem mais tempo para descansar e, bem, o nível do jogo será maior (além de não haver necessidade de um jogo de time ruim no ar).

Londres é um mercado importante, mas há de termos bom senso quando marcar jogos lá. Sim, eu sei que os Rams têm compromisso em jogar lá, mas colocar o time pra jogar 1 da tarde no horário de Londres (ou seja, 6 da manhã no relógio biológico dos jogadores que moram na Costa Oeste e dos torcedores do time) vai além da lógica. Além disso, é um tremendo tiro no pé marcar um jogo para o mesmo horário das partidas da Premier League, convenhamos. Se for para ter jogo em Londres, que o olho não seja maior do que a barriga. Um jogo ou no máximo dois por ano está de bom tamanho.

Por fim, a questão dos ídolos. Bom, vem cá, vamos conversar. 

As finais de Conferência de 1999 podem assustar aqueles que escolheram seu time por ele “ser bom” e achar que eles serão bons para sempre. A NFL tem mecanismos de paridade que não existem (quando pensados em conjunto e eficiência) em nenhuma outra liga do mundo, esporte que for. O beisebol não tem teto salarial. O Draft do basquete tem só duas rodadas. A NFL é única nesse sentido e decisões erradas fizeram com quer Titans, Jaguars, Rams e Buccaneers – os finalistas de conferência de 1999 – hoje estejam com os playoffs como sonho um pouco distante.

Os Patriots tiveram a pior campanha da AFC East em 1999. Os Broncos, a pior da AFC West. Os Steelers não foram para os playoffs. Somados, esses times têm 7 Super Bowls desde 2001. Rams, Titans, Buccaneers e Jaguars somados têm um. Entende onde quero chegar?

Vikings e Falcons, dois dos melhores times na Conferência Nacional, não tem tanta torcida no Brasil se comparados com outros titãs da NFC. Os Raiders passaram anos na “desgraça” da Conferência Americana e se postam como ameaça no momento. Se você torce para os Packers e está acostumado com glórias, te lembro que a década de 1970 e 1980 foram desgraças constantes para a Titletown depois da dinastia da década de 1960.

O que quero dizer é: a NFL é cíclica. Em dezembro de 1993, a Sports Illustrated tinha como chamada de capa “10 anos de uma liga chata: A NFL pode ser salva?“A liga vivia uma “entre-safra” parecida de ídolos, com Joe Montana a beira da aposentadoria e Dan Marino perdendo a temporada inteira por lesão. Algumas decisões do escritório da liga, como dar uma franquia para Jacksonville e Carolina ao invés de Baltimore, também acabou pegando mal – tal qual algumas neste ano. A final de conferência na NFC novamente foi Dallas e San Francisco – o domínio dos Cowboys em 1993 lembra os Patriots deste ano. Na AFC, mais uma vez Buffalo vencia a conferência para cair de novo no Super Bowl para um time da NFC East.

Depois dessa capa apocalíptica e mesmo com a NBA tendo a melhor safra de estrelas e o beisebol vivendo a era dos Home Runs, tivemos a escalada da NFL se tornando de vez a liga mais poderosa dos Estados Unidos na segunda metade da década de 1990. Novos ídolos, Peyton Manning e Tom Brady, que em 1993 estavam no colégio, surgiram.

A temporada de 2016 não está chata. Só está diferente. Pode ser como um adolescente na puberdade. Ela só mostra que a liga está passando por mudanças. Que sejam para melhor.

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