Primeira Leitura: O que raios está acontecendo com o ataque dos Packers?

“Eu nunca confiei mais em um quarterback ou em um indivíduo como confio em Aaron Rodgers. Sua ética profissional está no topo de sua carreira, (ele passa muito) tempo que ele passa no CT com seus técnicos e companheiros de time”. Mike McCarthy rapidamente tratou de endereçar o assunto na coletiva de imprensa desta semana. O Green Bay Packers vem de uma derrota complicada na abertura do novo estádio do Minnesota Vikings. Eram favoritos, saíram derrotados.

Menos de dois anos após ser nomeado como o jogador mais valioso da liga, Aaron Rodgers começa a enfrentar críticas de diversos setores da imprensa. Algumas mais sensacionalistas, outras menos. O fato, objetivamente falando, é que o nível de jogo de Aaron não chega a estar perto daquele que teve na primeira metade da década. Ele ainda é um gigante e ainda carrega o time para a pós-temporada com suas hail maries. Mas estatisticamente falando, algo está errado. Rodgers acertou 57,1% dos passes na semana 1 e 2 da temporada 2016. Isso lhe coloca como o terceiro pior da liga dentre os titulares.

O que assusta é que, com Sam Bradford do outro lado e com um Adrian Peterson machucado, não era para o time ter perdido. O que mais assusta é que os Packers não ganharam tão fácil assim de Jacksonville na semana passada – e os mesmos Jaguars foram completamente expostos contra San Diego, sem Keenan Allen, no último domingo. Ademais, a volta de Jordy Nelson e a linha ofensiva saudável – isso tudo “elevado” ao calendário mais fácil da liga – em tese faria com que o Green Bay Packers tivesse o melhor ataque da NFL em 2016. E Rodgers não está jogando machucado. O que raios está acontecendo?

No ano passado, demos como explicação alguns fatores para a queda de produtividade – a qual começou a ficar mais ou menos clara na derrota para o Denver Broncos no Sunday Night Football. Ao início da temporada de 2015, Mike McCarthy tinha dado o poder de chamadas ofensivas para seu assistente, Tom Clements. Jordy Nelson não estava em campo e o ataque não tinha poder de “esticar” verticalmente a defesa adversária. A linha ofensiva vivia com problemas no departamento médico. Tudo isso mudou para 2016 e as mesmas estatísticas ruins continuam aparecendo.

O problema, então, simplesmente pode ser sistêmico. E esses problemas são escondidos ou diminuídos por conta de jogadas como esta (cortesia do The Ringer).

Estas jogadas salvadoras acontecem e muito pelo fato delas serem absurdamente sensacionais – pelo atleticismo de Rodgers – a gente esquece o quão disfuncional esse ataque está sendo como um todo. As chamadas parecem uma coleção de jogadas sem conexão entre si. Quer exemplos estatísticos que confirmam essa impressão inicial? Os Packers são o pior time em eficiência de first down – jogadas que geram primeiras descidas. São o segundo pior da liga em passes para mais de 4 jardas se o time estiver em primeira descida (ou seja, quando as correntes precisam girar para que a segunda e a terceira descida seja mais confortável). No jogo terrestre as coisas também não estão funcionando bem, dado que a equipe também é a segunda pior da liga em corridas para 4 jardas ou mais em primeiras descidas.

Como efeito imediato, Rodgers está num mar de segundas e terceiras descidas longas nas quais ele tem que improvisar com poder Jedi no pocket. E aí o resultado é como este gif acima. Embora tenhamos hail mary para contar a história, Green Bay é o 5º pior time da liga quando o assunto são big plays (jogadas para 10 jardas ou mais). Mesmo com Jordy de volta, o ataque não está “esticando” defesa alguma.

Para completar o desastre ofensivo, Rodgers não está jogando bem contra a blitz. Se o adversário manda cinco ou mais pass rushers (situações de blitz) o quarterback dos Packers completou apenas 33% dos passes, teve uma interceptação e dois sacks. Nenhum touchdown. A linha ofensiva é, sim, problema. O corpo de recebedores tem mais problemas ainda – não preciso nem dizer nada sobre os drops de Davante Adams. É hora de encarar um fato: esse corpo de recebedores não é bom o suficiente para estender as jogadas junto de Rodgers. Não adianta ele ganhar segundos com magia no pocket se há drops que estancam o avanço do time em campo.

Após a derrota para Minnesota, os próprios Rodgers e McCarthy confessaram que o ataque não tem ritmo. E um ataque como o de Green Bay, com um quarterback como Rodgers, precisa de ritmo. E é justamente por conta disso que ainda há esperança para o torcedor.

Ao início da temporada de 2014, as mesmas “acusações” eram feitas em relação à unidade ofensiva dos Packers e Aaron respondeu para todos “relaxarem”. A situação de hoje é um pouco mais delicada – como dito, o corpo de recebedores preocupa e a linha perdeu Josh Sitton – mas a questão do ritmo (a cadência é essencial no livro de jogadas de McCarthy) ainda pode aparecer ao longo do campeonato. Jogar contra Detroit em casa pode ser justamente o que Rodgers e seu ataque precisavam para recuperar os passes em timing preciso – justamente aquilo que lhe fez MVP da liga por duas vezes.

Mais um quarterback titular em Cleveland, oba!

O carrossel de quarterbacks no Cleveland Browns é algo fora de série. Não existe nenhuma outra franquia assim na liga. Em um resumo rápido, esse carrossel começou em 1999 com a “volta” da franquia para a liga como um time de expansão (os Browns “originais” viraram Ravens em 1996). Desde então são, contando com Cody Kessler na Semana 3, 26 quarterbacks titulares desde 1999!!!!!!!!!!!111!!!

O MAIS absurdo disso tudo é que se você considerar os últimos quatro jogos da franquia mais o desta próxima semana, são cinco quarterbacks diferentes. Senão, vejamos:

  • 2015, Wk 16: Johnny Manziel
  • 2015, Wk 17: Austin Davis
  • 2016, Wk 01: Robert Griffin III
  • 2016, Wk 02: Josh McCown
  • 2016, Wk 03: Cody Kessler

Essa situação toda é interessante – a menos que você não torça para os Browns, claro – por um motivo simples: ela demonstra que é essencial ter estabilidade na posição de quarterback se você quiser ir para frente. Da mesma forma que falamos sobre a falta de ritmo do ataque dos Packers, o mesmo vale aqui – mas multiplicado por 6.10²³. Kessler, aliás, está anos luz longe de estar pronto para comandar um ataque profissional. É mais um daqueles produtos de USC com a marca Matt Barkley e Mark Sanchez. Não espere melhoras.

Se você perdeu a Semana 2, eis o que precisa saber

a) Jimmy Garoppolo vinha muito bem (de novo) contra o Miami Dolphins e tinha 234 jardas e 3 passes para touchdown no primeiro tempo. Mas, aí, machucou o ombro e é “decisão de véspera no vestiário”. A semana é curta e do outro lado temos J.J. Watt, Whitney Mercilus e Jadeveon Clowney no pass rush dos Texans. Apressar a volta de Garoppolo, mesmo que Brady volte na Semana 5, pode não ser a coisa mais adequada do mundo. Com isso, podemos ter o calouro Jacoby Brissett como titular de New England – falei sobre ele aqui.

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b) Mais Browns: Eles implodiram na semana passada, para variar um pouco. Os Ravens passaram por cima de um déficit de 20 pontos fora de casa para virar a partida – é a segunda maior vitória de virada na história do Baltimore Ravens. Considerando que o time teve n! problemas em jogos apertados no ano passado – notoriamente em partidas decididas no último quarto – é animador para o torcedor.

c) Os Rams anularam completamente Russell Wilson e tiveram a primeira vitória em casa como Los Angeles Rams desde 6 de novembro de 1994, quando a equipe triunfou ante os Broncos de John Elway. De toda forma, o time ainda não marca um touchdown desde 24 de dezembro de 1994 – na Semana 1, nada. No domingo, vitória com 3 field goals por 9 a 3.

Pensamento aleatório da Semana

O melhor da Semana: 

Foi bacana, de certa forma (porque o jogo foi horrível), ver o Los Angeles Rams lotando o Coliseu e vencendo um de seus rivais de divisão. O time ainda precisa arrumar a unidade ofensiva, porque o jogo foi completamente ganho em cima da ineficiência da linha ofensiva dos Seahawks. Se fosse pro ataque carregar o time nas costas, não iria a lugar nenhum. Mas, melhor ainda, foi ver os Rams com os uniformes clássicos – azul e amarelo. Infelizmente há um prazo – três anos – para que uma equipe peticione e efetivamente mudem seus uniformes (titular e reserva). Então ainda teremos que aturar os Rams com os uniformes não tão legais quanto os clássicos.



O pior da Semana:

Sei lá, to sentindo que estamos com muitas lesões. Pode ser que seja por conta da intertemporada ser tão longa que nos esquecemos o que aconteceu ao início do campeonato passado. Mas já temos algumas lesões complicadas e ainda estamos na Semana 2. Garoppolo, Keenan Allen, Brian Cushing, o festival de lesões nos Bears, Robert Griffin III naquela que seria sua “segunda chance” na NFL…

Enfim, é triste. A gente sabe que o futebol americano é um esporte físico e de contato – tal qual outros esportes de alta performance. Mas como a temporada é curta, as lesões acabam sendo “piores” nesse sentido de desfalcar um time. Veja o caso dos Browns. A coisa já era complicada com Griffin, imagina com Cody Kessler?

Uma pergunta e 3 Afirmações

Sobre Jay Cutler, já deu o que tinha que dar né? Pelo amor de Deus. O que mais me assusta é que parte da torcida de Chicago desenvolveu uma surreal Síndrome de Estocolmo (se apaixonar por seu sequestrador) por ele. Mais ou menos o que rola com alguns torcedores dos 49ers acerca de Colin Kaepernick. Ta beleza, a linha não é das melhores. Mas aquela interceptação que implodiu de vez qualquer chance de virada contra os Eagles na segunda, foi surreal. Aquilo não é culpa da linha.

Se você perdeu os dois primeiros jogos da temporada, prepare-se para o pior. Desde 1990 (quando os playoffs começaram a ter 12 times) apenas 12% das franquias que começaram a temporada com 0-2 chegaram à pós-temporada. Os 1-1 chegaram em 41% e os 2-0 em 63%.

Como andam os kickers em pontos-extra? Após duas semanas, a porcentagem de pontos-extra acertados continua igual ao ano passado (desde que a bola foi movida para a linha de 25 jardas). 94%, contra os 99% de 2014. Uma coisa é interessante, porém…

Após duas semanas, as equipes parecem melhores em conversão de dois pontos. Foram 48% de sucesso no ano passado – neste, até agora, 67%. Sim, o espaço amostral é ridiculamente pequeno por ora, mas vale notar.

Hello, Goodbye!

Alguns avisos e coisas aleatórias, excepcionalmente:

  • a) Comento Detroit Lions @ Green Bay Packers no próximo domingo, 14h, na ESPN. Então espere novamente um endereçamento das questões que levantei acima sobre Rodgers e Cia (embora eu acredite que, tal qual em 2014, as coisas devem melhorar).
  • b) Muita gente ainda pergunta, então vale a lembrança: Nosso podcast acabou (o Radio America), mas não porque era ruim nem nada do gênero. Infelizmente os outros membros (e eu, de certa forma) não tinham mais como gravar por conta de compromissos a tarde. E a rádio não tinha espaço na grade durante o período noturno. Então achamos melhor colocar um ponto final para que a lembrança seja positiva para todos.
  • c) O Manual do Futebol Americano está na gráfica, peço perdão imenso por todo esse atraso. Não vou dar calote em vocês! Aliás, tenho aqui o pdf final, são 337 páginas no miolo. Assim que estiver nas livrarias faremos o barulho de sempre.
  • d) Para todos que pedem a clássica camiseta “Manning, Rodgers, Brady & Brees”, ela está a venda na nossa nova loja, em parceria com a Action Shop. Dá uma olhada, além dela (você já deve estar sabendo, até por conta dos banners aqui no site) há outros produtos da NFL.
  • e) A última série que assisti? Narcos. E é boa hein? Mas sem spoilers. Semana que vem tento falar sobre na parte off desta coluna. Hasta!

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