4 Descidas: “Não há diversão nos Patriots”. E daí?

[dropcap size=big]Q[/dropcap]uatro Descidas é a coluna semanal de Antony Curti sobre a NFL, publicada todas as segundas. São quatro assuntos e não mais que 3000 palavras (ou quase… Às vezes vai passar). Para ler o índice completo da coluna, clique aqui.

1st and 10 – “Não há diversão nos Patriots”

O San Francisco 49ers entrou em colapso no meio desta década por um motivo bem simples: “acabou o dinheiro, acabou o amor”. Em outras palavras, enquanto o time estava ganhando, o “ferro e fogo” de Jim Harbaugh era plenamente tolerado e, em certa medida, amado.

Com o time fazendo sucessivos drafts ruins, as defesas adversárias neutralizando a pistol fest com Colin Kaepernick e etc, acabou o amor. Harbaugh foi para Michigan e lá pode se dar ao luxo de ser um paizão que dá umas broncas de vez em quando. No college, faz sentido. Na NFL, é mais complicado – o elenco não é renovado tão frequentemente e, se as vitórias não vem, dá ruim.

Todo esse contexto é importante para entender o “e se fosse de outro jeito” ante as declarações do defensive end Cassius Marsh sobre Bill Belichick. Quem? Calma, não importa o santo, importa o milagre. “Eles não têm diversão lá. Não há nada divertido sobre aquele lugar. Não gostei de quando estava [em New England]”, disse ao San Francisco Chronicle. “Fez com que eu pensasse pela primeira vez na minha vida sobre como eu não queria mais jogar o futebol americano, porque estava odiando (estar nos Patriots”, completou.

Ah vá.

“Confrontei Belichick e, basicamente, sem pedir para ser cortado, fui cortado”, disse.

Ah vá, não acredito que isso aconteceu. Em seis jogos com os 49ers no ano passado, Marsh teve dois sacks e dois fumbles forçados. Seu contrato foi renovado em fevereiro pela equipe da Costa Oeste e todos parecem felizes.

Patriot Way e o modo de fazer as coisas de Bill Belichick não é para qualquer um. Mas, nessa altura do campeonato – Belichick é o treinador há mais tempo no cargo, desde 2000 – quem chega no Gillette Stadium sabe o que esperar. É praticamente um contrato social tácito.

 

“Bill Belichick não é para todos. Eu vivi isso. MAS, se vencer significa tudo para você, não há ninguém no futebol americano profissional mais preparado para atingir esse objetivo. Ponto final” – Louis Riddick, analista da ESPN americana.

Em outras palavras, enquanto os Patriots vencerem, ninguém vai contestar nada. AS coisas realmente só seriam problema se a coluna da vitória se invertesse com a coluna da derrota e New England tivesse temporadas seguidas com pelo menos dez derrotas. Calma. Não estou dizendo que isso vai acontecer em 2018, não há nada no horizonte que aponte isso – até por Buffalo, Miami e NY Jets em reconstrução (ou tipo isso).

É assim que as coisas são. Vamos à outra pauta, que tem a ver com isso e é complemento dela.

2nd and 7 – Falando em OTAs

Tom Brady, pela primeira vez em anos, não esteve presente nos OTAs, os Treinamentos de Intertemporada que as equipes conduzem nessa época do ano. Como temos vários “nada” nesta época do ano, a ausência de um dado jogador veterano nesses treinos vira um MEGA CARNAVAL DE PAUTA MANUFATURADA. Ponto. É isso, não queiram aumentar, não tem o que ser dito além disso.

Não há contato, Brady não tem tantos recebedores novos para criar química, não há nenhum motivo plausível para achar que ele está fora de forma e nem nada do gênero. Ante aquele artigo de que “há rachaduras na Estrela da Morte” e Brady/Belichick não são melhores amigos, tudo isso foi ainda mais potencializado. “Vou falar sobre os jogadores que estão aqui querendo melhorar”, disse Belichick ao ser perguntado sobre a ausência do camisa 12 nos OTAs.

A resposta foi potencializada, também. Não me entenda errado: não estou “passando pano” em New England e não estou dizendo que não há uma potencial inimizade ou algo do gênero. Há. Talvez a essa altura do campeonato, depois de um casamento de 18 anos entre o Imperador Palatine e o Darth Vader, rachaduras vão surgir.

Mas, enquanto os Patriots ganharem… O profissionalismo imperará. Esse é o ponto. Como o “esporte que a gente vive” é o esporte entre amigos, numa terça-feira jogando basquete no clube, achamos que outros que praticam esporte de forma profissional também bebem uma cerveja depois do jogo.

Você é amigo de todos seus colegas de trabalho? É padrinho de casamento de todos seus chefes? Não. Bill Belichick e Tom Brady não são amigos, desculpa tirar essa ilusão de sua cabeça. Alguns podem argumentar com fotos acima e outras tantas – que, no calor do momento do jogo, fazem todo sentido.

Não há amor em New England. Não pode haver amor. O sistema não funciona assim. Se houver esse tipo de relação, Belichick teria inúmeros problemas, ao acumular cargo de general managerhead coach, para cortar ou trocar jogadores.




Não há amor em New England. Mas, enquanto estiverem ganhando… E daí?

3rd and 4 – 500 dias sem ela

Ah, esse filme maravilhoso que ajudou tantos jovens da família brasileira a sair da bad após um gigantesco pé na bunda. Se você ainda não assistiu, basicamente conta o relacionamento de um cara que se apaixona por uma menina no escritório – muito por conta de coisas tolas, como o gosto musical e a aparência dela – e o relacionamento não dá certo.

Do “amor à primeira vista” até a “bad passar”, são 500 dias. Exatamente a triste efeméride que o mês de maio nos deu, mas em outro relacionamento que começou lindo e parece não bater mais o santo. Andrew Luck.

Há mais de 500 dias, o quarterback do Indianapolis Colts não lança uma bola de futebol americano. É praticamente um ano e meio e a recuperação segue. Subestimada, essa facilmente pode ser a grande narrativa da intertemporada Draft-Training Camp. Quanto a Carson Wentz e a Deshaun Watson, mas suas recuperações estão no prazo. Luck?

A mesma conversa do ano passado. “Ele está no prazo para lançar no training camp“. Não quero acreditar que isso não aconteça de verdade. Perguntado se está preocupado sobre a recuperação de Luck, o novo técnico do Indianapolis Colts pareceu tranquilo. “Não estou nada preocupado”, falou Frank Reich. De fato, o time mostrou isso no Draft. Detentor da terceira escolha geral numa classe recheada de quarterbacks, os Colts toparam trocar para a sexta escolha com os Jets e, em momento algum, escolheram sequer um reserva para Andrew – sinal de confiança em sua recuperação e, por tabela, em Jacoby Brissett (o… reserva (?)).

“Não há motivos para apressar as coisas”, falou Reich. O que me preocupa é que a mesma conversa rolou no ano passado e, aos 45 do segundo tempo, Indianapolis trocou por Brissett. Depois, em outubro, Luck teve retorno descartado da temporada. Se você esqueceu, lá atrás, a promessa era a mesma: ele estará pronto para o training camp (de 2017).

Espero que agora tudo dê certo. Espero que Andrew Luck não receba o carimbo de bust. Não o é – mesmo que nunca mais volte a jogar. Espero nunca mais escrever essa suposição dele não jogar mais. Quero que ele jogue. Quero ver sua resiliência, sua inteligência de futebol americano, seu poder de maquiar defeitos no sistema tático (?) de Chuck Pagano. Quero vê-lo de novo.

Nenhuma história de intertemporada será tão importante quanto essa. Por mais que faça tanto tempo, não nos esqueçamos do quarterback que Andrew Luck, espero, ainda é e ainda será.




4th and 2: Já?

Um dos pontos que justificam a ausência de veteranos nesses treinamentos quase facultativos de intertemporada reside na temida palavra que atende por “lesão”. Já temos vítimas e justamente um jogador sobre o qual todos tinham boas expectativas.

O Los Angeles Chargers começou a temporada como 0-4 e quase quebrou seu próprio recorde – o único time 0-4 a chegar nos playoffs após um início assim de temporada foram os Chargers de 1992. Não chegaram lá, beleza. Mas depois da quase recuperação, as expectativas eram grandes para 2018. Ficam um pouco menores agora. Ligeiramente, é verdade, mas é um baque.

Hunter Henry, tight end dos Chargers, está fora da temporada depois de romper o ligamento anterior cruzado do joelho (ACL). Desde que draftado em 2016 – o foi o primeiro da posição, aliás – ele é o quarto da NFL em touchdowns para tight ends e apenas mutantes estão na sua frente: Gronkowski, Kelce e Ertz.

Parece que não – por conta de um Keenan Allen saudável – mas os Chargers perdem um ótimo potencial. 12,9 jardas por recepção na temporada passada e a primeira vez desde 2002 que um tight end não chamado Antonio Gates liderou o time no quesito. Falando nele…

Vira a solução. Gates não está no elenco, vale lembrar. Mas com Henry fora da temporada, os Chargers podem voltar com sua ex, por assim dizer. O único tight end saudável no elenco é Virgil Green e não me soa possível que ele seja o titular com Antonio Gates ainda disponível. Lembrando: não estamos em 2002 e Gates está longe de ser o jogador de antes. Mas é o que tem para hoje.

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