4 Descidas: Manziel de volta, Reuben Foster não agrediu a ex, Análise de Drafts

[dropcap size=big]Q[/dropcap]uatro Descidas é a coluna semanal de Antony Curti sobre a NFL, publicada todas as segundas. São quatro assuntos e não mais que 3000 palavras (ou quase… Às vezes vai passar). Para ler o índice completo da coluna, clique aqui.

1st and 10: Here’s Johnny

(Acredito que) Ao final de 2015, prometi para mim mesmo que não escreveria mais sobre Tim Tebow e Johnny Manziel a menos que ambos tivessem algum emprego novo na NFL. Vou quebrar essa promessa, mas tenho uma justa causa: Manziel está de volta – ou tipo isso.

“Fazer parte desta organização, com tanta história, sabe… 15 Grey Cup (o Super Bowl da CFL)”…. Er… São 8. Johnny Manziel pode ter errado o número de títulos que o Hamilton Tiger-Cats tem. Mas, ao que tudo indica, acertou quanto ao próximo passo em sua carreira.

Para quem não se recorda, Manziel foi escolha 22 do Draft de 2014. Mais uma das tentativas do Ted Mosby da NFL, o Cleveland Browns, à procura de um quarterback. Ted torce para os Browns em How i Met Your Mother, aliás. Isso explica muita coisa. Hm.

Outrora “Mais Extraordinário Jogador do College Football” (vencedor do Heisman) em 2012, Johnny praticamente foi excomungado da NFL e teve só dois anos com os Browns. Ok, vamos a como isso aconteceu.

Tal como Ryan Leaf após o Draft de 1998, Manziel resolveu ter a bela ideia de ir para Las Vegas antes do training camp de sua temporada de calouro. Sendo bastante claro aqui: não condeno quem faça isso, o problema é quando você é um quarterback profissional que precisa lutar contra o tempo para se adaptar e aprender o livro de jogadas. Naquela ocasião ficou famosa a foto de Johnny visivelmente bêbado e num cisne de plástico, bebendo um champagne diretamente da garrafa. Na mesma viagem, outra foto que ficou famosa foi a dele usando um bolo de dinheiro como telefone. Na pré-temporada, ele mostrou o dedo do meio para o banco de reserva do adversário. Enfim, era um show de imaturidade, inadequada para um jogador profissional na posição mais exigente do esporte.

E não foi só. Houve alegações de que Manziel chegou a estar bêbado em treinos e antes do último jogo da temporada de 2014, teve de ser buscado pelos seguranças da franquia para que acordasse e fosse ao treinamento. “Eu realmente acredito que se eles não puderem ajudá-lo, ele não viverá para ver seu aniversário de 24 anos”, disse o pai de Johnny em fevereiro.

Ele viveu. Hoje com 26 anos e depois de inúmeros incidentes com drogas ilícitas, álcool e bagunça em Las Vegas, Manziel foi para a reabilitação e há algum tempo busca uma segunda chance. Além de ter participado de jogos em ligas “de formação”, o ex-Browns esteve em diversos “Encontro com Fátima Bernardes versão USA” para falar sobre seus problemas e a melhora. Ele assumiu os problemas com drogas e disse que foi diagnosticado com transtorno bipolar. Manziel garantiu que largou as drogas e o álcool.

Na NFL, dificilmente ele terá uma segunda chance. A menos que ateie fogo na CFL tal como fez no college – e olhe lá. Para provar “o contrário”,  ele precisa jogar. Como a NFL não tem uma “G-League” como a NBA e menos ainda o sistema de Minor League como ocorre no beisebol, Johnny tentará a sorte na CFL – aquela que mais se aproxima de “lugar para ter uma segunda chance”.

Sinceramente, ninguém sabe o que isso vai virar.

Um dos grandes problemas da adaptação de Manziel, do college para a NFL, foi que a velocidade do jogo profissional fez com que os improvisos do camisa 2 fossem cada vez menos efetivos. As defesas, mais inteligentes, conseguiam facilmente anulá-lo com um linebacker em spy. Contra defensores mais fortes e atléticos, Johnny perdeu jogos por lesão ao tentar correr como nem fazia em Texas A&M.

O jogo na CFL também é rápido – discutivelmente, mais que no college football. Muitos quarterbacks que fizeram sucesso em spread offense no nível universitário americano tiveram sucesso no futebol canadense após a NFL fechar-lhes portas. Manziel, por si, fechou essa porta. Agora tenta abri-la. Mas isso não acontecerá tão cedo.

Leia também: Entenda de uma vez por todas as diferenças do Futebol Canadense (CFL) para o Americano (NFL)

Não que eu esteja duvidando do sucesso dele, mas a questão é que, bem… Hamilton já tem um namorado. Jeremiah Masoli, 29 anos, é o titular da equipe desde 2013. Não há qualquer garantia de que Manziel lhe vencerá na disputa pela posição. Masoli não tem fé integral da diretoria por conta dos jogos que perdeu por lesão – nunca jogou mais de 12 jogos numa temporada (e são 18 jogos por temporada na CFL). Assim, Manziel chega para, ao menos, disputar titularidade. No papel, ele é o quinto quarterback do plantel. “Quero jogar, como qualquer outra pessoa”, disse. “Sei que há talento no corpo de quarterbacks e respeito os caras que temos aqui. Sei que haverá uma curva de crescimento”, falou Johnny.

Manziel tem contrato de dois anos com os Tiger-Cats. Ninguém sabe o que vai acontecer. Não me recordo, em casos recentes, de um quarterback que tenha saído da CFL para a NFL e tido glórias nos Estados Unidos. Warren Moon fez isso, mas isso aconteceu há mais de 30 anos – talvez seja o único caso. Manziel tenta replicar isso. “Não sei o que vai acontecer daqui dois anos… Talvez eu fique aqui e ame, talvez não queira ir para outro lugar”, falou Manziel. Domingo começa o training camp dos Ticats. E a saga do Quarterback que Pisca continua.

2nd and 6: No final das contas, Reuben Foster não fez nada errado

“Eu queria f***** com sua carreira”. Elissa Ennis, ex-namorada do linebacker do San Francisco 49ers, Reuben Foster, mentiu sobre ele ter lhe agredido fisicamente. Seu objetivo era apenas vingança após Foster terminar o relacionamento.

Ennis disse para a polícia que Foster lhe socou dez vezes, resultando em um tímpano perfurado, uma lesão que, bem, ela não podia inventar. Como o tímpano foi perfurado e como as lesões aconteceram? Numa briga de trânsito com uma mulher em fevereiro. Por que ela inventou tudo isso? “Eu estava pistola e queria acabar com ele”, disse no tribunal. “Ele lhe bateu?”, perguntou o promotor. “Não, nenhuma vez”. Ainda, ela disse que Foster machucou seu bulldog – coisa que a polícia também confirmou que também não aconteceu

Claro: pode ser que você pense que ela foi “subornada” para dizer isso tudo, mas, neste caso em específico, apenas acredito que ela mente compulsivamente e, bem, não é uma pessoa boa. Independente de gênero, há homens e mulheres ruins. Ennis, durante todo seu testemunho, extensivamente assumiu a culpa e a vontade de acabar com a carreira de Foster – coisa que quase o fez, de fato.  Ela já tinha feito a mesma coisa em 2011, quando seu então namorado também tentou terminar com ela.

Que fique bem claro: ISSO NÃO QUER DIZER QUE TODAS AS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA MENTEM! Nem que a maioria o faça. Aliás, é mais do que triste que Ennis tenha usado o datenístico “culpado, até que se prove o contrário” em incidentes assim – dado que houve outros em que, de fato, houve violência de gênero/doméstica quanto a jogadores da NFL. Notoriamente Ray Rice, excomungado da liga.

Nesse sentido, ponto para a diretoria do San Francisco 49ers, que não suspendeu e nem cortou Foster enquanto houvesse uma prova contundente de que os fatos aconteceram da forma pela qual foram narrados por ela no início da intertemporada. Embora o devido processo legal tenha tatuado em si o “inocente até que se prove o contrário”, a opinião pública mais do que pressionou para que o inverso acontecesse. “Se as acusações se provarem, se Reuben fez algo errado com essa moça, ele não fará parte desta organização”, disse John Lynch, general manager do time. No final das contas, ele não fez nada errado.

O que fica dessa história, além da reputação manchada de Foster, é que devemos tomar mais cuidado, sobretudo nós, da imprensa, antes de atirar pedras ante acusações ainda não devidamente provadas. Para não pagar de samurai da justiça, eu mesmo errei e atirei pedras em Foster – apenas ante as acusações e porque ele tinha causado no Combine e porque não parecia ser aquela pessoa maravilhosa e mestre Jedi. Não que ele vá ler, mas minhas sinceras desculpas.

A propósito, a NFL não vai punir nem Matt Patricia e nem o Detroit Lions. A liga veio conduzindo investigação após vir à tona a história de que Patricia, supostamente, teria estuprado uma garota em 1996. As acusações foram arquivadas e o atual head coach dos Lions não foi sequer levado a julgamento.

3rd and 3: Análises do Draft no ProFootball

Como disse na minha coluna de Talkback, temos muito conteúdo gratuito e, também, muita coisa bacana e premium para quem quer ainda mais NFL. Durante todo este mês, estamos publicando as análises de Draft aqui no ProFootball: todas as 32 franquias têm textos exclusivos para tanto.

Abaixo, uma “amostra grátis” para quem se interessar – é minha análise do Draft dos Bears. Caso você queira ver os benefícios do ProClub, dá uma olhada sem compromisso na nossa página de assinatura, tenho certeza que você vai gostar.

ESCOLHAS NO DRAFT

Rodada 1, escolha 8: Roquan Smith, LB, Georgia

Rodada 2, escolha 39: James Daniels, iOL, Iowa

Rodada 2, escolha 51: Anthony Miller, WR, Memphis

Rodada 4, escolha 115: Joel Iyiegbuniew, LB, Western Kentucky

Rodada 5, escolha 145: Bilal Nichols, DT, Delaware

Rodada 6, escolha 181: Kyle Fitts, DE, Utah

Rodada 7, escolha 224: Javon Wims, WR, Georgia

Com as saídas de Josh Sitton e Jerrell Freeman, a necessidade de reforços para o interior da linha ofensiva e para o corpo de linebackers eram mais do que óbvias no Chicago Bears. Com isso, as escolhas quase que consensuais em Drafts Simulados eram Quenton Nelson, guard de Notre Dame, e Roquan Smith, linebacker de Georgia. Com Nelson escolhido antes pelos Colts, não sobrou dúvida na cabeça de Ryan Pace, general manager de Chicago: Smith veio e já é um forte candidato para ser calouro defensivo do ano.

O protótipo de linebacker na NFL mudou daquela máquina de tackles dos anos 1980 para os Deion Jones da vida: jogadores mais ágeis, menores e com ampla capacidade de defender o passe. Smith é justamente isso: um patrulheiro capaz de melhorar uma defesa desde o primeiro dia.



Na segunda rodada, os Bears deram a sorte de verem duas oportunidades se materializando. A primeira foi a queda de James Daniels, guard/center de Iowa. A escola vem produzindo inúmeros bons talentos na linha ofensiva – tal como Notre Dame, Wisconsin e Ohio State – e Daniels promete ser mais um deles. Sua queda para o topo da segunda rodada se justifica na medida em que a classe de linha ofensiva interior era bem profunda e a demanda no topo do Draft para essas posições costuma ser inferior – Chicago agradece. Embora Daniels tenha jogado como center em Iowa, ele deve jogar como guard no lugar de Sitton.

Ainda na segunda rodada, como dito acima, outra oportunidade apareceu. Se a classe de linha ofensiva interior (guard/center) era profunda, a de flanker/slot também era. Anthony Miller estava disponível no meio da segunda e os Bears trocaram “para cima” para escolhê-lo. Outra excelente escolha. Pode parecer que Chicago pagou caro demais – segunda rodada de 2019 e uma quarta deste ano – mas Miller tem capacidade de adicionar muito no slot e o ataque dos Bears parece, ao menos no papel, pronto para explodir em 2018. Não há desculpas para Mitchell Trubisky: seu head coach fez magia com Alex Smith no ano passado e o ataque inteiro, exceção talvez aos offensive tackles, tem boas peças. Miller teve 18 touchdowns em “apenas” 96 recepções na temporada passada.

Passando para o final do Draft depois de três ótimas escolhas, o time endereçou a defesa e deu profundidade de talento em setores que sofreram com lesões e saídas de jogadores – notoriamente o corpo de linebackers e a linha defensiva. Joel Iyegnuniwe pode ter impacto imediato no time de especialistas e é uma rede de proteção em caso de lesões de linebackers – coisa que aconteceu a rodo no ano passado. Kylie Fitts caiu no Draft por conta de lesões, mas pode ser produtivo em terceiras descidas para o pass rush que perdeu Pernell McPhee (ele jogou em alguma época?).  Bilal Nichols e Javon Wims trazem profundidade de talento para suas respectivas posições, mas nada muito além em termos de expectativas – sobretudo Wims, que sequer pode estar no elenco de 53 jogadores.

O time supriu suas necessidades? Sem a menor sombra de dúvida. Como dito, os offensive tackles não são os melhores do mundo e essa posição não foi endereçada. Mas linebackers, slot receiver e profundidade de plantel na defesa foram devidamente endereçadas.

Qual a escolha de melhor valor? .James Daniels na segunda rodada, visto que era talento de final de primeira. Sendo o melhor jogador de interior de linha disponível naquele momento, foi uma escolha pra lá de sólida. Os Bears já têm um bom miolo de OL com Cody Whitehair e Kyle Long – e mantém esse potencial mesmo após a saída de Sitton.

Qual a escolha de pior valor? Não houve reaches no Draft dos Bears. Todas as escolhas foram de valor adequado. Se Anthony Miller não render – por conta do que foi dado em troca para os Patriots – talvez essa seja uma escolha mais delicada de se elogiar no futuro. Mas no contexto de “dar peças para Trubisky”, mesmo assim seria difícil criticar.

NOTA FINAL DA CLASSE: Ótima. Antes que me acusem de clubismo, a classe dos Bears é amplamente considerada pela imprensa americana como uma das três melhores do Draft de 2018. Após uma free agency pra lá de interessante, os Bears estão a um bom desempenho de Trubisky de incomodar na NFC.

4th and 1: A importância de tirar férias

Eu amo meu trabalho. Sou grato todos os dias por ele. É incrível poder trabalhar com esporte e poder levar minhas opiniões a tanta gente. Semanalmente, esta coluna é lida por mais de 5000 pessoas no Brasil – parece pouco, mas considerando que o futebol americano é nicho, acaba sendo um número incrível. Até por conta do tamanho do texto.

Justamente por conta desse sentimento de gratidão, de ser viciado em trabalho e todo o mais, faz quatro anos que não tiro férias. Desde que entrei na ESPN, em setembro de 2014, estive focado em “fazer alguma coisa” durante todo esse período. É quase uma Copa do Mundo trabalhando sem parar. Natal? Ano Novo? Esqueceu que eu comento uns 467 Bowls nessa época?

De novo: sou imensamente grato por isso. Mas trabalhar com o quê se gosta não quer dizer que o corpo não sinta o desgaste – ainda mais após quatro anos sem parar nenhuma semana para fazer vários “nada”. Neste ano, as coisas se agravaram ainda mais.

Em fevereiro, a semana do Super Bowl me consome como poucas no ano. Ainda, terminei um relacionamento de quase três anos – e, depois, passei por experiências… Bagunçadas nesse quesito, que me drenaram emocionalmente. Em março, recebi a notícia de que comentaria a temporada da Major League Baseball na ESPN a partir deste ano – o que me levou a estudar o esporte que nem louco. Isso tudo junto do Draft, o que me fez dormir três horas por noite em diversas ocasiões.

Chegou maio e eu inventei de voltar com esta coluna. Pifei. Comecei a dormir do nada, mesmo assistindo Star Wars. No meu jogo de basquete de semana passada, pistolei inúmeras vezes. Enfim, acho que está na hora de parar um pouco. Farei isso, mas por breve tempo. Na realidade, esta coluna sequer será afetada por isso: tirarei uma mini-folga de amanhã (terça) até domingo.

Textos serão publicados em meu nome aqui no site, mas todos eles já estão prontos. Pretendo jogar Stardew Valley até cair de sono todos os dias. Próximas férias? Catar 2022? Nah, fevereiro do ano que vem. Mesmo amando o que faço, férias são importantes.

Bônus 1: Farewell, Pete

Nesta última segunda, Peter King postou no site da Sports Illustrated sua última Monday Morning Quarterback, a inspiração máxima para esta coluna (em todas suas encarnações desde 2014). Junto de Paul Zimmerman, King é minha maior inspiração na imprensa escrita norte-americana – ao menos quanto aqueles que cobrem a NFL.


É um até logo, de certa forma, dado que King continuará sua coluna semanal no site da NBC Sports. De toda forma, é um tanto quanto emocionante para fãs mais hardcores da NFL – espero um dia ter uma coluna tão longeva e poder contar com 1% do carinho que os leitores demonstraram para com ele nessas semanas.

Bônus 2: Besteiras que posto no Twitter no meio da offseason

Como viram, foi uma semana bem produtiva.

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Aqui, o feedback das colunas anteriores:
4 Descidas, Talkback: Jogos para ver na offseason, NFL e as apostas e nossa coluna de volta

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ProClub: Análise do Draft – Cleveland Browns

 

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