O Comitê de Competitividade da NFL anunciou hoje nove mudanças específicas nas normativas que regem o esporte em seu nível profissional mais alto. Desde a época de Pete Rozelle como comissário da liga na década de 1960, a NFL sabe que pelo fato de ter temporada mais curta é extremamente necessário que se mantenha no noticiário ao longo de toda a intertemporada. Em fevereiro o Combine, ao início do mês tivemos a abertura do mercado de agentes livres, agora as novas regras e mês que vem o Draft.
O escopo das mudanças ficou bem claro: proteger a imagem pública da liga e a segurança dos atletas como um todo. Abaixo, listamos as nove novas regras (ou emenda/eliminação de algumas delas). Mas não só, isso você viu no Twitter.
Uma das muitas expressões desnecessariamente usadas em latin no Direito é “mens legis”. A tradução seria algo como “finalidade da lei”. Nessa altura do campeonato você já deve saber quais são as regras que mudaram. Mas por que elas mudaram? É o que tentaremos falar aqui. Confira.
I) Expulsão automática após duas faltas por conduta anti-desportiva
Chamada por alguns de Odell Beckham Jr Rule, agora um jogador que tiver duas faltas de conduta anti-desportiva na mesma partida terá sua expulsão automática. A regra é experimental para a temporada de 2016 e será revista no ano que vem.
Por que foi aprovada? Falei mais sobre aqui neste texto. Além dos problemas com prisões e violência doméstica, é uma preocupação constante da liga em “dar o exemplo” como nível técnico máximo do esporte. O que ocorreu entre Odell e Josh Norman no ano passado foi inaceitável – isto é, nos momentos que ambos se provocaram sem qualquer lance com bola. É necessária, aliás, fazer essa distinção: a falta de conduta anti-desportiva ocorre quando não há contato físico de jogo. Roughing the passer e atingir um recebedor indefeso são exemplos de faltas pessoais. A falta por conduta anti-desportiva ocorre quando um jogador tenta dar um soco no outro, um provoca o outro, um comemora de maneira desrespeitosa na end zone – ou, de maneira análoga, quando você dá uma cabeçada que nem o Zidane na final da Copa do Mundo FIFA 2006.
II) Mudança do touchback para a linha de 25 yds após kickoffs (permanece em 20 para punts)
Caso ocorra um touchback – isto é, a bola saindo pela linha de fundo ou o jogador do time retornador ajoelhando dentro de sua própria end zone – após um kickoff, a primeira descida do time retornador começará com a linha de scrimmage na linha de 25 jardas de seu campo defensivo – e não 20, como até ano passado. Vale lembrar que a regra também é experimental e será revista – isto é, mantida ou não – após a próxima temporada.
ESPECIAL: Confira nossa cobertura sobre as mudanças de regra para 2016 na NFL
Por que foi aprovada? Uma movimentação que visa complementar a mudança de norma em 2012 – quando os chutes saíram da linha de 35 jardas e não mais da linha de 30. Agora existe ainda mais estímulo para que o time retornador não proceda em seus retornos, dado que suas campanhas começarão na linha de 25yds – e raramente um retorno que começa na end zone vai além da linha de 20yds. Coibir kickoffs indiretamente significa coibir as temidas concussões. No kickoff é a jogada na qual, proporcionalmente falando, ocorrem mais lesões na cabeça dos jogadores – até porque são 11 correndo na direção oposta de outros 11, dobrando eventuais impactos. Por que não abolem o kickoff de vez? Bom, porque é uma das jogadas mais empolgantes do esporte. Então a liga tem que manejar essa situação de forma gradual.
III) Banimento do “chop block“, fazendo com que todas suas formas sejam ilegais (15 jardas de punição)
A partir de agora será considerada falta qualquer tentativa de “chop block”. Isto é: quando um jogador está sendo bloqueado, não poderá haver um bloqueio de outro jogador abaixo de sua cintura. Duas diferenciações importantes: a) Cut block – o bloqueio de apenas um jogador – abaixo da linha da cintura continua permitido. b) O Double Team – dois bloqueadores contendo apenas um jogador – continua permitido, desde que não ocorra bloqueio deste segundo abaixo da linha da cintura.
Por que foi aprovada? Mais uma regra que visa coibir lesões – sobretudo no joelho. A bem da verdade, a regra deveria ter sido aprovada há tempos. Imagine que você está focado em passar pelo bloqueio de um dado jogador e outro vem voando no seu joelho sem que você veja da onde ele vem. É surreal que isso ainda fosse legal no livro de regras.
IV) Eliminação da Necessidade de determinar um dia para retorno a jogadores colocados na Injury Reserve (Lista de Machucados)
Por que foi aprovada? A emenda à regra permite maior flexibilidade aos general manager e comissões técnicas como um todo. Um jogador colocado na IR ainda tem que ficar pelo menos seis semanas lá – para que o elenco “ganhe” uma vaga extra – mas ao mesmo tempo não existe a necessidade de fixar um dia para sua volta depois disso. Com o avanço da medicina e da recuperação dos jogadores, faz sentido que haja essa flexibilidade aos times.
V) Chamadores de Jogadadas, ofensivos ou defensivos, poderão se comunicar com os jogadores estando no nível do campo ou na cabine
Por que foi aprovada? Igualmente para dar mais liberdade aos times. Havia certa rigidez sobre quem poderia utilizar do sistema caso estivesse no campo. O objetivo, simplesmente falando, é o de dar mais eficiência ao método de comunicação de jogadas. Vale ressaltar como isso funciona, porque é interessante. Quando o árbitro determina que a descida anterior acabou, a comunicação é “ligada”. Quando o play clock bater 15 segundos ou o snap acontecer – o que acontecer primeiro – a comunicação é cortada.
VI) Banimento do horse collar tackle (tackle pelo colarinho) quando o defensor segura o uniforme de um dado jogador, pelas costas, na altura do nome na camisa
Por que foi aprovada? Mais uma regra visando proteger a integridade física dos atletas. Agora se um dado jogador segurar a camisa puxando outro para baixo – mesmo que isso não seja feito na altura do pescoço – marcar-se-á falta. Faz todo sentido do mundo: o efeito prático de puxar pelo shoulder pad ou segurar a camisa ali perto era o mesmo. O jogador derrubado virava passageiro do tackle e corria risco de lesão na coluna e no pescoço. Apenas aumentaram a zona pela qual o horse collar fica proibido.
VII) Um time será punido por “delay of game” caso chamem um tempo quando não lhe é permitido.
Por que foi aprovada? Bom, para que espertinhos não atrasem o jogo ou não ganhem tempo de forma torta. Até que a arbitragem verificasse que o time não podia pedir aquele tempo, segundos preciosos podem ser ganhos – por exemplo por uma defesa precisando substituir jogadores na campanha derradeira da partida ou com um ataque precisando pensar melhor em qual jogada executar. Exemplos de momentos nos quais a equipe não pode pedir tempo, basicamente, são quando literalmente não tem tempo para pedir ou se já pediu um tempo na mesma descida (múltiplos por descida não são permitidos).
VIII) Mudança da punição do “illegal touching” de 5 jardas para perda da descida
Por que foi aprovada? Uma punição maior para os espertinhos que sairem do campo de jogo e voltarem sendo os primeiros a receber um passe para frente. Agora, ao invés de simples 5 jardas, o time que a cometer irá perder a descida.
IX) Eliminação dos múltiplos posicionamentos de bola após falta dupla com posse de bola
Por que foi aprovada? Essa é difícil de explicar, mas vamos lá: não haverá múltiplos posicionamentos de bola (spot) quando houver dupla falta – isto é, falta de ataque e de defesa na mesma descida – quando houver mudança de bola. Anulam-se e o time que ficou com a bola começa onde a bola foi declarada como morta, pronto. Exemplo usando outra mudança de regra para 2016: dupla falta em retorno que gera touchback, o spot será na linha de 25 jardas. O objetivo aqui é facilitar a aplicação das faltas.
X) Chutes para Extra Points permanentemente terão sua linha de scrimmage na linha de 15 jardas
Por que foi aprovada? Na realidade era uma regra provisória para ano passado e agora foi tornada permanente. Em todas as semanas da temporada regular houve pelo menos um chute de ponto extra errado – o que, queira ou não, mudou o extra point de “jogada na qual o comentarista olha outra informação na colinha” ou “jogada na qual você vai buscar um refrigerante” para “jogada na qual as pessoas não vão tirar o olho da tela”. Tá, nem tanto. Mas deixou de ser algo tão automático. A distância total fica em 33 jardas, portanto.






