Poucos quarterbacks tiveram um início de carreira tão meteórico quanto Colin Kaepernick. Menos ainda foram tão dominantes e chegaram ao Super Bowl logo em seu primeiro ano como titular na NFL – um dos casos mais famosos, como sabemos, foi Tom Brady em 2001.
Kaepernick e o novo ataque terrestre do San Francisco 49ers, apoiado na mobilidade do jovem signal caller, tomaram a liga de assalto em 2012, apresentando um desafio quase impossível às defesas adversárias, as quais não tinham a menor ideia de como parar as read-options chamadas pelo coordenador ofensivo Greg Roman.
A oportunidade só veio porque Alex Smith se machucou
Escolhido na 2ª rodada do Draft 2011 e vindo da não muito relevante Universidade de Nevada, Kaepernick sentou no banco de Alex Smith por mais de um ano até ter sua primeira chance como titular. Isso só aconteceu na semana 10 de 2012, após Smith sofrer uma concussão diante do St. Louis Rams.
Curiosamente, sua estreia deu-se em um Monday Night Football diante de um Chicago Bears também sem seu quarterback titular, já que Jay Cutler estava machucado. Ou seja, tinha tudo para ser uma partida tétrica de horário nobre entre dois times com signal callers reservas. Kaepernick, contudo, jogou tão bem que San Francisco destruiu Chicago por 32 a 7, mostrando como ele era superior a Jason Campbell – o substituto de Cutler. Colin quase não correu com a bola, mas lançou para 243 jardas e dois touchdows.
Estava inaugurada a controvérsia com Alex Smith. O veterano ficou fora de combate por mais um tempo, mas, quando se recuperou plenamente, não voltou à equipe. Jim Harbaugh optou por manter Kaepernick como titular, apostando na faísca que o jovem havia dado ao ataque. Não foi uma decisão simples, pois Smith era um veterano com bastante experiência e estava vivendo seus melhores dias com os 49ers. Alguns meses mais tarde, ele acabaria sendo trocado para o Kansas City Chiefs.
Kaepernick foi o tempero que faltava ao time
San Francisco contava com uma defesa fantástica e já possuía forte orientação terrestre, base da filosofia ofensiva de Harbaugh, porém Kaepernick levou as coisas para outro patamar. Ele foi o primeiro quarterback a realmente ter muito sucesso explorando a read-option, embora o conceito tenha começado a se popularizar já em 2011 com Cam Newton no Carolina Panthers.
Para resumir, a read-option consiste no signal caller receber o snap normalmente alinhado na formação pistol e ler a movimentação da defesa, optando por ele mesmo correr ou entregando a bola ao running back. O coordenador Greg Roman, que anos mais tarde repetiria a fórmula com Lamar Jackson no Baltimore Ravens, merece boa parte do crédito pelo fato do ataque dos 49ers ter sido quase imparável por duas temporadas, até os coordenadores defensivos finalmente começarem a encontrar soluções.
Em 2012, porém, ninguém estava de fato preparado para lidar com Kaepernick, o que ficou evidente no Divisional Round daquele ano, quando o quarterback correu 16 vezes para 181 jardas e dois touchdowns na vitória por 45 a 31 sobre o Green Bay Packers.
Kaepernick venceu cinco dos sete jogos em que foi titular na temporada regular. Além de potencializar o jogo terrestre de San Francisco, ele também fazia estrago lançando a bola. Colin nunca foi um signal caller preciso e com altos percentuais de passes completos, mas ele era capaz de castigar com eventuais lançamentos profundos por conta do medo que as defesas tinham de suas corridas.
O segundanista seguiu brilhando nos playoffs, ajudando os 49ers a reverterem uma desvantagem de 17 a 0 contra o Atlanta Falcons, fora de casa, na Final da NFC, em um confronto em que ele correu apenas duas vezes com a bola e precisou ganhar o jogo no braço.
O próprio Super Bowl XLVII foi outro exemplo de uma grande atuação. As pessoas costumam lembrar apenas dos três lançamentos incompletos para Michael Crabtree nos minutos finais diante dos Ravens, incluindo a infame interferência de passe nunca marcada pelos árbitros, mas Kaepernick terminou a noite com 302 jardas aéreas (um touchdown e uma interceptação) e mais 62 terrestres (com outro touchdown), ajudando San Francisco a quase vencer um jogo em que eles ficaram 22 pontos atrás no placar durante o terceiro quarto – no final, Baltimore triunfou por 34 a 31.
A temporada 2012 dos 49ers e de Colin Kaepernick foi um dos mais legais e interessantes pontos fora da curva da história da NFL. Eles não venceram o Super Bowl, mas criaram quase do nada algo muito especial que os ajudou a chegar na grande final.
Leia também:
Playoffs Mágicos: Como Joe Flacco tomou a NFL de assalto em 2012 🏈
Análise tática: 3 pontos que fazem o ataque dos Saints ter sucesso 🏈
2020 é o ano do tudo ou nada para JuJu Smith-Schuster 🏈
Saints, 2009: A redenção de Brees e de New Orleans após o Katrina 🏈
