O número de demissões não chega nem perto do que acontece no Campeonato Brasileiro de futebol, mas a NFL também vive sua própria “dança das cadeiras” de treinadores quando uma temporada chega ao fim. Franquias que tiveram um desempenho decepcionante ao longo do ano, que caminham sem rumo e sem perspectiva de melhora ou que simplesmente querem dar uma nova injeção de ânimo no elenco e nos torcedores, não costumam hesitar muito na hora de mandar um head coach embora. Em 2015, este foi o caso de seis equipes: Dolphins, 49ers, Buccaneers, Browns, Giants e Eagles.
Embora os técnicos recém-contratados tenham em comum o fato de estarem chegando em lugares com algum tipo de problema, a missão e os objetivos de cada um deles varia de acordo com a situação encontrada nos times. Por exemplo, certos treinadores têm a incumbência de comandar o processo de reestruturação das franquias em longo prazo, enquanto outros apenas precisam fazer pequenos ajustes para tornar suas equipes candidatas à uma vaga nos Playoffs. É muito importante entender tais diferenças antes de criar expectativas ou fazer cobranças.
Com isto em mente, hoje iremos discutir o que podemos esperar dos seis head coaches estreantes em 2016. Confira se eles estão em condições de conseguir sucesso imediato em seus times ou então se é preciso ter um pouco mais de paciência e pensamento no futuro.
Hue Jackson, Cleveland Browns
Ao término da última temporada regular, Jackson se tornou um dos nomes mais quentes do mercado de treinadores, sendo apontado como o alvo de diversas franquias que estavam atrás de um novo comandante. Isto se deu graças ao seu ótimo trabalho como coordenador ofensivo dos Bengals entre 2014 e 2015. No dia 13 de janeiro, ele foi anunciado como o novo head coach dos Browns.
A contratação de Jackson sem dúvida foi um dos grandes acertos da franquia de Ohio recentemente, porém não dá para imaginar que ele fará milagres logo de cara. O técnico chegou em Cleveland com a missão de liderar a reconstrução da equipe e acabar com a bagunça dos últimos anos, mas isso obviamente exige tempo e um projeto em médio e longo prazo. Para começar, Hue tentou estabilizar a posição de quarterback cortando laços com Johnny Manziel e trazendo Robert Griffin III. Este vem tendo um bom desempenho na pré-temporada, contudo ainda é cedo para saber se ele dará conta do recado quando as partidas estiverem valendo de verdade. Ademais, o time sofreu uma grande reformulação no elenco depois da saída de inúmeros atletas importantes e um Draft com 14 escolhas.
Atuando na complicadíssima AFC North (Ravens, Steelers e Bengals), em fase de reconstrução e com um plantel inexperiente, não faz sentido esperar muita coisa de Jackson no seu primeiro ano junto aos Browns. Uma vaga nos Playoffs ou mesmo um record positivo são sonhos distantes por enquanto. A meta para o treinador e a franquia é acabar 2016 com Griffin saudável e jogando bem, sem a primeira escolha geral do próximo Draft e com a perspectiva de dias melhores no futuro.
Chip Kelly, San Francisco 49ers
Após ser demitido de Philadelphia devido à decepcionante temporada de 2015, Kelly ganhou uma nova chance de continuar na NFL ao ser contratado pelos 49ers. Na Califórnia, o treinador tentará apagar a má impressão do ano passado, quando uma sucessão de decisões polêmicas tomadas por ele durante a offseason bagunçaram e atrapalharam o time dos Eagles.
A tarefa não será nada fácil. San Francisco até agora não conseguiu se recuperar da gigante debandada de talento ocorrida na intertemporada passada – o que era esperado, dado o volume de ótimos jogadores que deixaram a equipe. A franquia ainda conta com alguns bons nomes como Joe Staley, NaVorro Bowman e Carlos Hyde, mas, no geral, seu elenco está bastante enfraquecido, sobretudo na defesa e em comparação ao que era há dois ou três anos. Além disso, a disputa pela titularidade entre dois quarterbacks contestados como Blaine Gabbert e Colin Kaepernick não é o cenário ideal. Para piorar, os 49ers fazem parte de uma das divisões mais competitivas da liga, a NFC West.
É possível que a chegada de Kelly e a implantação do seu acelerado e pirotécnico sistema ofensivo ajude o ataque de San Francisco, o qual foi o pior da NFL em pontos na temporada passada (238). Contudo, é difícil vislumbrar um grande salto de desempenho por conta da falta de qualidade do elenco. A tendência é os 49ers repetirem ou no máximo melhorarem um pouco a campanha de 2015, mas nada muito significativo.
Adam Gase, Miami Dolphins
Assim como Hue Jackson, Gase era um dos nomes mais badalados do mercado de técnicos. Seu sucesso como coordenador ofensivo dos Broncos (2013/2014) e Bears (2015) o transformou em uma mente ofensiva bastante respeitada na liga. Agora, ele terá sua primeira oportunidade como head coach em Miami.
Os Dolphins são uma das franquias mais enigmáticas e frustrantes dos últimos tempos. A equipe vive presa no reino das seis, sete ou oito vitórias por temporada desde 2009 e não vai aos Playoffs desde 2008, quando terminou o ano com o record de 11-5 graças à wildcat e um quarterback mais consistente em Chad Pennington. Falta de talento não vem sendo exatamente o problema, pois Miami conta com jogadores de qualidade no elenco – sua linha defensiva, por exemplo, é considerada uma das melhores. O ex-treinador Joe Philbin muitas vezes era apontado como o principal culpado pelos fracassos do time, mas agora essa desculpa não existe mais.
Gase terá duas missões em seu primeiro ano na Flórida: ajudar o quarterback Ryan Tannehill a decolar e levar os Dolphins aos Playoffs. Lembrando que sob sua tutela, Jay Cutler (2015) e Peyton Manning (2013) tiveram as melhores temporadas da carreira, então Tannehill estará em boas mãos para enfim explodir na NFL. Talvez o novo técnico não consiga chegar aos Playoffs logo de cara devido à competitividade da Conferência Americana, entretanto pelo menos um record positivo (ou algo perto disso) pode ser buscado.
Ben McAdoo, New York Giants
Ben McAdoo, coordenador ofensivo dos Giants entre 2014 e 2015, foi promovido ao cargo de head coach depois de Tom Coughlin ser demitido renunciar ao cargo de técnico da equipe. A escolha foi elogiada por muitas pessoas, inclusive pelo quarterback Aaron Rodgers, que trabalhou com McAdoo nos Packers, mas existe uma certa preocupação com a sua inexperiência.
New York não vai aos Playoffs desde 2011, quando sagrou-se campeão do Super Bowl. Desde então, a franquia vem acumulando decepções, records negativos e times cheios de problemas. Na temporada passada, os Giants sonharam em boa parte do tempo com um lugar no mata-mata, contudo um final de ano péssimo (seis derrotas nas últimas sete partidas do campeonato) acabaram com os planos. Para 2016, a diretoria abriu a carteira na Free Agency tentando qualificar o elenco, sobretudo o setor defensivo – um dos piores da NFL em 2015.
Sem dúvida a cobrança sobre McAdoo será para que ele leve New York de volta aos Playoffs. Entretanto, jogando na caótica e equilibradíssima NFC East, não será simples. Falando de maneira sincera, por ora é impossível prever o que acontecerá com os Giants. No papel, o time incontestavelmente é melhor do que o de 2015, porém na prática só poderemos saber se isso significará um salto de qualidade dentro de campo quando a temporada começar de verdade. Ademais, será que McAdoo está pronto para lidar com a pressão de substituir um nome de peso como Coughlin, ainda mais precisando conviver com uma mídia “corneta” como a de Nova York? Estas dúvidas só terão respostas daqui a alguns meses.
Doug Pederson, Philadelphia Eagles
Pederson, ex-coordenador ofensivo dos Chiefs, foi o escolhido para apagar o incêndio após a demissão de Chip Kelly. Ele já possui um histórico de trabalho em Philadelphia, tendo feito parte da comissão técnica da equipe de 2009 a 2012 – inclusive, lá foi quarterback nos anos 1990. Esta será sua primeira experiência como treinador principal na NFL.
Os Eagles passaram boa parte da intertemporada desfazendo o que Chip Kelly fez em 2015 – por exemplo, mandando embora jogadores como Byron Maxwell, Kiko Alonso e DeMarco Murray. Além disso, povoaram a posição de quarterback mantendo Sam Bradford, contratando Chase Daniel e draftando Carson Wentz – este último um projeto para o futuro. A franquia parece viver uma espécie de fase de transição por conta de todas estas mudanças no elenco e a chegada de um jovem signal caller, mas ao mesmo tempo tem condições de brigar por bons resultados agora – sobretudo graças ao equilíbrio na divisão de que faz parte.
Assim como ocorre com os Giants, é difícil prever o destino dos Eagles em 2016. A equipe não é a favorita ao título da NFC East, porém também não deve ser descartada da disputa. Com um elenco apenas normal, um quarterback titular não tão confiável assim (Sam Bradford) e poucos atletas de destaque nos dois lados da bola, a sensação é que Pederson não deve ser tão pressionado por sucesso imediato quanto Ben McAdoo, até porque Philadelphia não investiu recentemente tanto como New York, então um record positivo já é uma meta realista para o treinador estreante.
Dirk Koetter, Tampa Bay Buccaneers
Tampa Bay demitiu Lovie Smith e para seu lugar promoveu Dirk Koetter, outro ex-coordenador ofensivo que subiu de cargo. Koetter tem uma vasta experiência como técnico principal no College Football e coordenador na NFL. Ele chegou aos Buccaneers em 2015 e é visto como um dos grandes responsáveis pelo ótimo ano de calouro vivido por Jameis Winston.
Já explicamos em detalhes neste outro texto porque o time da Flórida merece ser considerado um candidato aos Playoffs, ainda que como um sleeper. Resumindo, o ataque possui jogadores jovens e talentosos, Winston tende a seguir evoluindo e a defesa se reforçou bem na intertemporada. Tampa Bay não se transformou em uma potência de uma hora para a outra, mas pelo menos provavelmente deixou de ser o saco de pancadas dos últimos anos.
O objetivo de Koetter é continuar desenvolvendo Jameis Winston e no mínimo melhorar o record conseguido pelos Buccaneers na temporada passada (6-10). Se tudo der certo (e a previsão do nosso texto se confirmar), ele poderá ter boas chances de ameaçar na NFC South e lutar por uma vaga nos Playoffs.
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