Quando fizemos inúmeros textos falando sobre os grandes valores contratuais dessa free agency, era esperado que uma renovação de um dos melhores wide receivers da última temporada viesse com valores astronômicos. Porém, essa não foi a realidade. Adam Thielen assinou um contrato de 4 anos e $64M – uma média de $16M por ano – e que pode chegar até $73M contando os incetivos, com $35M garantidos.
Pode parecer alto a primeira vista, mas por um recebedor que teve média de 102 recepções e 1325 jardas nas duas últimas temporadas e foi ao Pro Bowl (sim, o Pro Bowl não é a melhor das métricas, mas ajuda a entender a relevância de um jogador) em ambas, o valor é bom. Como a própria ESPN americana disse: “esse contrato que Minnesota conseguiu é uma das maiores barganhas da NFL”.
Contudo, o contrato tem implicações maiores do que os próprios valores.
Além da alta quantia salarial paga a Stefon Diggs e Kirk Cousins argumentando contra o novo contrato, os Vikings possuem outras necessidades urgentes a serem tratadas, sendo sua linha ofensiva a principal delas. Para piorar a situação, o salary cap está apertando a franquia, a qual possui apenas $2M disponíveis para serem gastos em novos contratos.
Há um ditado conhecido que diz que “mudar faz bem”. Porém, era a hora dos Vikings se desfazerem de um excelente wide receiver em prol de outras necessidades? Qual o custo de oportunidade real de Thielen? Seu ganho é maior que sua perda?
Afinal de contas, quanto vale Adam Thielen?
No começo da temporada de 2018, o wide receiver que já havia feito uma boa última temporada ganhou o estrelato. Após conseguir 8 jogos seguidos com 100 jardas de recepção, o recebedor – que não chegou a ser escolhido em seu Draft – marcou um novo recorde histórico para a NFL.
Após o feito, entretanto, sua temporada continuou em um bom ritmo, mas não no nível estelar que o levou ao recorde. Aqueles que jogam Fantasy sentiram isso na pele após o recebedor ganhar os jogos das primeiras oito semanas praticamente sozinho (inclusive, o site Player Profiler lhe considerou um jogador volátil devido as suas grandes oscilações) e contribuir em um nível normal, depois.
Após a semana 8, Thielen realizou um jogo para mais de 100 jardas (contra os Packers na semana 12) e nos outros sete obteve uma pífia média de 46 jardas. Isso é pouco e preocupante. O que pode ter levado a isso?
Essa queda pode ser responsabilizada nas costas de Kirk Cousins e seu desempenho – novamente – médio nessa temporada, o que o levava a ter grandes oscilações – principalmente nos jogos grandes – e que foi responsável pela queda dos números do recebedor? Em partes, mas não é simplesmente isso.
O principal ponto para esse texto é: quanto disso é culpa de Adam Thielen?
O wide receiver é incrível correndo rotas (discutivelmente, o melhor da liga no quesito) e suas mãos são excelentes (quem se lembra da incrível recepção na semana 8 contra os Saints?), o que por si só garante segurança sobre suas qualidades. Além disso, Thielen é bom em todos os aspectos técnicos que um wide receiver necessita e seu tape mostra isso claramente. Seu trabalho de pés e de mãos é espetacular na linha de scrimmage e isso já o torna uma arma mortal de separação e de grandes ganhos rápidos de jardas.
Porém, há algo que somente a habilidade não consegue suprir: a dobra na marcação.
Até a semana 8, Thielen teve uma média de 12,25 targets por jogo (ou seja, bolas que foram lanças em sua direção). Da semana 9 em sequência, essa média foi de apenas 7,125 targets. Na red zone esse números seguem a mesma via: até a semana 8, o recebedor foi acionado 13 vezes nas 20 jardas finais do campo; da semana 9 em diante, foi acionado 7 vezes (caiu pela metade).
Claro que contra isso, teoricamente, não há o que Thielen fazer. Se a marcação dobra, a janela de passe é menor e o espaço que ele ganha na linha de scrimmage é reduzido logo depois. O problema é que essa deficiência contra a marcação dupla é o que levanta os questionamentos sobre o contrato.
Em termos de média salarial, Thielen e DeAndre Hopkins (que foi, discutivelmente, o melhor wide receiver na última temporada) estão empatados, pois Hopkins ganha $16,2M enquanto o recebedor do Vikings ganha $16M. A grande diferença está em como cada um lida com as adversidades. Hopkins é considerado um dos 5 melhores recebedores da liga há algum tempo e, devido a isso, sempre recebeu marcação dupla dos adversários. Porém, Hopkins sempre produziu muito e jogou com quarterbacks de baixo nível por toda sua carreira até a chegada de Deshaun Watson. Na última temporada? Nenhum passe dropado mesmo com todas as dobras recebidas e os contatos extras dos adversários.
Essa diferença indica que Thielen é ruim e não mereceu o valor? Não. O recebedor é um excelente jogador e o contrato foi, como dito no começo, uma barganha. Porém, após ser elevado ao pódio dos wide receivers, Thielen teve dificuldades em manter a posição e oscilou suas performances. Isso pode ser um mau presságio para a próxima temporada, ainda mais se considerarmos o grande e real problema que sua renovação traz.
O custo de oportunidade do contrato, o desprezo pela linha ofensiva e o pensamento para o Draft
Como dito no começo do texto, a renovação de Adam Thielen é mais uma que pesa contra o salary cap dos Vikings, o qual está a beira da implosão. Além dos já mencionados contratos de Stefon Diggs e Kirk Cousins (que vale lembrar, tem dinheiro totalmente garantido), Danielle Hunter, Eric Kendricks e Anthony Barr também renovaram seus contratos recentemente (o último após toda a polêmica com o New York Jets).
Todos são jogadores importantes para a franquia e isso pouco seria discutido entre outros momentos. O grande problema é que os Vikings vêm jogando com cinco caixas de papelão ao invés de jogadores na linha ofensiva. O custo de oportunidade dos contratos renovados (inclusive o de Thielen) é a falta de renovação de novas peças na linha ofensiva.
Para exemplificar nos números, Kirk Cousins sofreu na última temporada 40 sacks, 165 hurries (quando o passe é apressado) e 95 hits. Além disso, a linha ofensiva do time é a 24ª pior em termos de média de jardas terrestres, com uma média de 4,2 por carregada.
O Bulio falou em como a franquia falhou em não endereçar algum jogador da posição na free agency e o novo contrato de Thielen não deixa dúvidas que eles pensam em endereçar a posição apenas pelo Draft, mesmo que novos jogadores de linha venham a se tornar agentes livros nesse período de offseason.
Porém, parece que os diretores não pensaram que os Vikings não possuem escolhas de topo para endereçar os melhores prospectos da posição. Na escolha 18, Jonah Williams, Andre Dillard e Jawaan Taylor não devem estar disponíveis para a posição de offensive tackle e isso indica que a franquia deve ir de center na primeira rodada (a menos que a posição continue a ser desvalorizada, como falei nesse texto na parte de Matt Paradis), provavelmente com Garrett Bradbury. Na segunda rodada, é improvável que bons prospectos como Yodny Cajuste e Dalton Risner estejam à disposição na escolha 50, e isso torna as coisas difíceis para Minnesota.
Se a franquia não possuir um plano muito bom para o Draft, a base para a próxima temporada continuará instável na posição e Kirk Cousins continuará sofrendo; se por um lado ele tem seus problemas, é necessário ajuda para que ele consiga executar suas leituras com um pouco de tranquilidade. Além disso, é sempre bom lembrar que a franquia joga em uma divisão que está reforçada em termos de pass rush. Os Bears possuem um mini monstro chamado Khalil Mack; os Packers endereçaram os problemas da posição na free agency com as contratações de Preston e Za’Darius Smith; e os Lions contrataram Trey Flowers na tentativa de melhorar a situação da franquia na posição.
Há esperança na terra gélida?
Amanhã, estréia a última temporada de Game Of Thrones e se tem algo que a série pode ensinar aos Vikings é que não há como proteger o Norte e manter o trono da região sem uma boa barreira te protegendo (sim, eu estou falando da Muralha). A analogia é a mesma para o futebol americano: se a franquia quer tentar alçar voos maiores na Conferência Nacional, é necessário um grande investimento em linha ofensiva nos próximos anos, ainda mais jogando em uma divisão tão gélida como a NFC North.
Os Vikings possuem “dragões” fortes o suficiente para destruir outras muralhas e segurar os ataques inimigos (diga oi para Danielle Hunter, Everson Griffen, Xavier Rhodes, Harrison Smith e cia.), mas é preciso que a sua muralha não seja derrubada antes que o estrago maior seja feito.
É necessário que a franquia faça um Draft perfeito para que as bases sejam fundadas e que um bom trabalho de reestruturação salarial aconteça para que sejam contratados jogadores experientes para trazer solidez ao setor.
É sempre bom lembrar: o inverno sempre chega e quem sempre protegeu o reino do Norte foi uma grande Muralha.
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