Surpresa: com certeza teremos um running back que será draftado na primeira rodada em 2017. Caso eu escrevesse isso há três ou dois anos, me rotulariam como maluco. Uma coisa é fato: a posição de corredor nunca foi tão depreciada na história da NFL. Adrian Peterson, outrora corredor para 2000 jardas e jogador mais valioso da liga, foi cortado pelos Vikings, assinou por apenas 3,5 garantidos com os Saints e será o 22º mais pago da liga. Apenas o 22º, melhor dizendo.
Há vinte anos seria impensável que um nome como Peterson estivesse recebendo um último salário tão baixo. A título de comparação – com inflação ajustada – Emmitt Smith recebeu contrato de 5 milhões de dólares em 2003 para terminar sua carreira com os Cardinals. Smith tinha 33 anos (um ano a mais do que Peterson) e ganhou média de 1,5 milhões a mais. Ah: o teto salarial era de 70 milhões em 2003. Hoje é de 160 milhões. Ou seja: na prática, o valor de um running back de elite, futuro Hall da Fama, caiu pela metade em 15 anos.
Um dos motivos pelo qual Peterson demorou tanto tempo para assinar é que ele queria um contrato com valores que, bem, não fazem jus a sua produtividade recente e tampouco à valoração atual na posição. O outro motivo, tão importante quanto, é a rica classe de running backs do Draft de 2017.
No ano passado e retrasado, tínhamos Ezekiel Elliott e Todd Gurley como prospectos de primeira rodada – com um abismo em sequência. Em 2014, o primeiro running back a ser draftado foi Bishop Sankey, apenas na segunda rodada (escolha 54). Logo depois, vieram Jeremy Hill (55) e Carlos Hyde (57). Em 2013 a situação não foi muito diferente. O primeiro running back selecionado novamente veio apenas na segunda rodada, com Giovani Bernard (37).
2017 é um ano diferente porque podemos ter três (ou quatro) caras escolhidos já na primeira rodada. Além disso, embora não haja um Ezekiel Elliott, já três sólidos prospectos em termos de primeira rodada. E, não obstante, há muito talento na segunda rodada e mesmo na terceira. A título de exemplificação, Wayne Gallman – que foi campeão nacional com Clemson – é rankeado como um cara de terceira ou quarta rodada – tamanho é o talento de prospectos acima dele.
Como você já percebeu, a classe é boa. Mas quais times precisam de running backs?
No topo da primeira rodada, os Jaguars são o primeiro nome quando pensamos em necessidade na posição. O jogo terrestre foi horrível no ano passado e não foi só culpa da (fraca) linha ofensiva de Jacksonville. T.J Yeldon e Chris Ivory não são soluções. O Los Angeles Chargers também tem carência na posição – embora dificilmente deva endereça-la na primeira rodada. Na sequência, o Philadelphia Eagles é outro time que pode gastar escolha de primeira rodada num cara versátil que por tabela ajude o jogo aéreo – sim, estou falando de você, Christian McCaffrey.
Logo depois dos Eagles, o Indianapolis Colts tem carência na posição – ao menos para o médio prazo. Frank Gore terá 34 anos na temporada 2017 e Robert Turbin não é um jogador acima da média. Por ainda ter Gore, a primeira rodada para um back é muito. Nas seguintes, fique de olho.
A lista de times carentes por corredores continua com Washington. Inclusive, no meu Draft Simulado, coloquei um saindo para a franquia da capital. Rob Kelley liderou o time em jardas terrestres e sequer foi draftado. Chris Thompson liderou o time em snaps jogados, mas foi uma escolha de quinta rodada em 2013. Combinados, os corredores do time têm apenas 504 jardas recebidas. Ante esse panorama, escolher Cook seria uma adição acima da média (considerando que o extra-campo fique limpo). Dalvin pode ser o típico back que fica presente nas três descidas. Daí o porquê dele cair como uma luva em Washington.
Por fim, dois times com carência na posição e um que pode não ter até quinta. O Oakland Raiders não conta mais com seu titular do ano passado, Latavius Murray – este foi para Minnesota. Marshawn Lynch pode ser o nome do time nesta temporada – o que não impede que os Raiders procurem alguém a partir da terceira rodada. E para terminar nossa lista, o Green Bay Packers. O time teve tanto problema na posição que teve que improvisar Ty Montgomery como running back (ele é wide receiver, originalmente). Montgomery não mandou tãããão mal, mas é necessário trazer um corredor de ofício – Eddie Lacy saiu na free agency para os Seahawks, vale lembrar.
Como são muitos backs, vou ranquear dez deles e depois falo sobre os cinco principais.
- Leonard Fournette (LSU)
- Christian McCaffrey (Stanford)
- Dalvin Cook (Florida State)
- Joe Mixon (Oklahoma)
- Alvin Kamara (Tennessee)
- Curtis Samuel* (Ohio State)
- Samaje Perine (Oklahoma)
- Marlon Mack (South Florida)
- Kareem Hunt (Toledo)
- Wayne Gallman (Clemson)
* Foi usado bastante como “h-back” em Ohio State. Pode alinhar no slot também, a exemplo de McCaffrey.
Menções honrosas: Jamaal Williams (BYU), D’onta Foreman (Texas), T.J Logan (North Carolina), Jeremy McNichols (Boise State), Donnel Pumphrey (San Diego State).
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1 Leonard Fournette (LSU) – 4.49 40 yd
Prós: Praticamente uma locomotiva, tem corpo para ser físico em corridas entre os tackles e avançar após o primeiro contato. Fournette é o running back mais “parrudo” deste Draft, capaz de ser a peça central de um jogo terrestre físico. É aquele protótipo de corredor clássico a là O.J Simpson e Jerome Bettis que já há algum tempo não víamos.
Contras: Tal qual uma locomotiva, Fournette precisa dos trilhos certos. Ele não vai funcionar em qualquer esquema ofensivo, principalmente saindo da formação shotgun. Precisa “engatar a primeira marcha” antes de desenvolver ganhos. Além disso, seus ganhos são melhores quando o “buraco” está ali. Se a linha ofensiva do time onde ele cair for fraca, pode dar ruim.
Previsão: Se não for escolhido pelos Jaguars ou pelos Panthers no top 10, são duas hipóteses aqui. Ou cai até Giants/Raiders ou cai para a segunda rodada.
2. Christian McCaffrey (Stanford) – 4.48 40 yd
Prós: Vice no Heisman Trophy na temporada de 2015 (Derrick Henry, Alabama, venceu), McCaffrey é um canivete suíço para uma unidade ofensiva. Além de running back, ele pode alinhar no slot ou como h-back para receber passes. Ademais, também atua (muito bem) como retornador. A produção em Stanford foi fora de série – em todos os anos teve pelo menos seis jardas por carregada. Atlético e ágil, é comparável a caras como James White ou Darren Sproles.
Contras: Embora tenha um corpo adequado para um jogador da posição, McCaffrey precisa ganhar massa muscular para enfrentar os linebackers profissionais da NFL. Ademais, não desenvolveu habilidades em proteção ao passe – precisa fazê-lo o mais breve o possível para ser uma arma importante em terceiras descidas. Machucou-se na temporada passada, o que levanta questionamentos sobre como seu corpo vai se portar ao tomar punição de jogadores mais físicos das defesas da NFL.
Previsão: Metade da primeira rodada, seja com Eagles ou com algum dos times carentes de playmakers.
3. Dalvin Cook (Florida State) – 4.51 40 yd
Prós: Corredor extremamente prolífico em Florida State, foi o foco do ataque nas duas últimas temporadas. Em cada uma delas, teve pelo menos 19 touchdowns e pelo menos seis jardas por carregada. Atleta ágil quando o tackleador está nas proximidades, parece ter boa percepção de campo de jogo (ao que chamamos de “visão” do RB). Comparável a running backs dos anos 2000, como Edgerrin James.
Contras: Muitos fumbles que poderiam ter sido evitáveis ao longo de sua carreira. No jogo aéreo, não se desenvolveu num recebedor prolífico – quantidade alta de drops. Embora tenha boa visão no campo aberto, entre os tackles ela precisa se desenvolver – aliás, ele precisa se desenvolver como um corredor entre os offensive tackles. Além dos fumbles e de um pequeno histórico de lesões (ombro direito), tem uma extensa lista de problemas extra-campo – falamos sobre aqui.
Previsão: Ou Washington na primeira rodada ou cai até o fim dela, com Packers. Forte chance de cair para a segunda rodada.
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4. Joe Mixon (Oklahoma) – 4.45 40 yd
Prós: Running back de “um corte”, Mixon é ágil e capaz de estender jogadas para fora dos tackles graças a sua agilidade nos membros inferiores e excelente visão. Capaz de quebrar tackles a partir de técnica (cortes e stiff arm) e não só usando o corpo. Boa proteção de passe em formação shotgun e, considerando o resto da classe, produtividade acima da média em recepções.
Contras: Alguns contras parecidos com Dalvin Cook. Seis fumbles na carreira e alguns lapsos no jogo aéreo (o clássico correr antes de receber o passe). Embora seja fisicamente dedicado na proteção ao passe, precisa de mais técnica. Ao correr por dentro dos tackles, às vezes é impaciente demais e dá com a cara na linha. Como você percebeu, DENTRO do campo, tinha tudo para ser o primeiro deste ranking. Só cai tanto por conta dos sérios problemas fora de campo, ainda mais no pós-Ray Rice. Há documentação em vídeo de Mixon dando um soco numa mulher e quebrando seu maxilar. Para alguns times, é visto como prospecto radioativo por conta disso e de outros incidentes.
Previsão: Packers no final da primeira rodada como teto; Bengals no meio da segunda rodada faz bastante sentido, ainda mais pelo histórico do time não se importar tanto com problemas extra-campo de seus atletas (vide a dupla do barulho, Adam Jones e Vontaze Burfict). Deve sair na segunda ou terceira rodada. Se cair na metade da terceira rodada, fica cada vez mais radioativo para outros general managers e corre o risco de cair para a quinta.
5. Alvin Kamara (Tennessee) – 4.54 40 yd
Prós: Back de um corte com produtividade acima da média em corridas para fora dos tackles. Nomeado como capitão de seu time mesmo sendo terceiranista em Tenn. Boa capacidade de “navegação” no lado de fora do campo. Alto número de touchdowns na temporada final. Interessante notar que ele passou por um momento de superação: originalmente foi recrutado por Alabama, mas foi suspenso por Nick Saban duas vezes e sofreu grave contusão no joelho esquerdo. Pediu para ser liberado da bolsa de estudos e tentou a vida em um junior college (equivalente a Escola Técnica aqui no Brasil, por assim dizer). Lá, brilhou e conseguiu vaga em Tennessee.
Contras: Do que você leu acima já deve ter percebido dois “contras” principais. Se eu elogiei suas corridas para fora da linha ofensiva, você já deve ter imaginado que ele tem problemas para navegar entre os offensive tackles. Fumbles e lesões (estas, principalmente) fazem com que cocemos a cabeça. Sua durabilidade no longo prazo pode ser um problema grave na NFL.
Previsão: Segunda rodada.
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