Jones foi escolha ruim, mas Giants acertam depois

Barganhas aliviam uma primeira rodada desastrosa de New York

“Em três anos, nós descobriremos o quão louco eu sou”. Foi assim que Dave Gettleman se defendeu das críticas e pediu paciência aos torcedores após ser massacrado pela escolha de Daniel Jones na 6ª posição geral. De certa maneira, ele está correto: não tem como julgar plenamente uma classe de jogadores antes dela entrar em campo. Por outro lado, é improvável que o general manager ainda tenha um emprego daqui a três anos, caso as previsões e análises mais catastróficas sobre o quarterback se mostrem verdadeiras.

No geral, os Giants fizeram um trabalho decente encontrando atletas talentosos e bom valores para suprir as principais carências do elenco, sobretudo nos dias 2 e 3 do recrutamento. Contudo, o que aconteceu na 1ª rodada, principalmente as seleções de Jones e do iDL Dexter Lawrence, puxou para baixo as avaliações recebidas por New York.

No final das contas, tudo gira em torno de Daniel Jones: a percepção sobre o Draft 2019, o futuro da franquia e o próprio emprego de Gettleman. Esse é o preço que você paga por tomar uma das decisões mais controversas da década, apostando uma pick 10 em alguém que tinha uma nota de 2ª ou 3ª rodada.

Escolhas no Draft 2019 pelo New York Giants

1/6: Daniel Jones, QB, Duke
1/17: Dexter Lawrence, iDL, Clemson
1/30: Deandre Baker, CB, Georgia
3/95: Oshane Ximines, EDGE, Old Dominion
4/108: Julian Love, CB, Notre Dame
5/143: Ryan Connely, LB, Wisconsin
5/171: Daris Slayton, WR, Auburn
6/180: Corey Ballentine, CB, Washburn
7/232: George Asafo-Adjei, OT, Kentucky
7/245: Chris Slayton, iDL, Syracuse

Valor das escolhas foi o grande problema na 1ª rodada, mas boas decisões depois ajudaram a salvar o Draft dos Giants

Falaremos em detalhes sobre Daniel Jones depois, então agora vamos focar em Dexter Lawrence na 17ª posição. Embora seja um jogador talentoso, Lawrence é um iDL especializado em parar o jogo terrestre e com pouco potencial como pass rusher. Isso significa que ele deve ficar em campo por um número limitado de snaps, por duas ou às vezes até uma só descida. Na NFL de hoje em dia, não há tanto valor para defensores assim, ainda mais na metade da primeira rodada – e considerando a profundidade de talento na classe de EDGES.

Talvez New York tenha ficado sem ideias após Brian Burns sair para os Panthers uma pick antes e Lawrence simplesmente fosse o próximo nome do board. Seja como for, ele lembra muito Damon Harrison, o qual foi negociado pelos Giants por uma escolha de quinta rodada no meio da temporada passada. Ademais, ao colocar na balança o fato de que a principal escolha recebida na troca de Odell Beckham Jr. virou um nose tackle, a rejeição dos torcedores tende a aumentar.

Após duas seleções questionáveis, as coisas começaram a mudar a partir de DeAndre Baker. Os Giants fizeram um trade up pela 30ª escolha, abrindo mão da suas picks de 2ª, 4ª e 5ª rodada pelo cornerback de Georgia. Pode parecer demais à primeira vista, mas foi um preço justo e New York tinha muita munição para realizar uma troca desse tipo. Baker é menor do que o desejado para a posição e decepcionou no teste de velocidade do Combine, porém é um jogador tecnicamente polido e pronto para ser titular imediatamente, atuando ao lado de Janoris Jenkins. À parte algum tipo de birra com Gettleman, não há muito o que reclamar aqui.

Na sequência, a franquia conseguiu dois steals: Oshane Ximines e Julian Love. Embora a posição pudesse ter sido endereça mais cedo, é sempre um prazer conseguir um EDGE talentoso como Ximines no final da terceira rodada – assim como Lawrence, sua vinda também só foi possível por conta da troca de Beckham Jr. Saído de uma universidade pequena, Oshane talvez precise ganhar um pouco mais de massa muscular na NFL, mas já pode participar da rotação de pass rushers da equipe, até porque tem tamanho para jogar como outside linebacker em defesas com esquema base 3-4.

Já entre os outros nomes chamados no terceiro dia, quem mais se destaca são o wide receiver Darius Slayton e o cornerback Corey Ballentine. Slayton é um recebedor velocista e propício a big plays, que preenche uma lacuna no plantel e pode ser a ameaça em profundidade do time no futuro. Já Ballentine é um defensor muito atlético e com bom potencial a ser lapidado. Apesar do futuro promissor, o jovem se envolveu em um fato bizarro poucas horas depois de ser escolhido no Draft: ele e um amigo foram baleados nos arredores do campus da universidade de Washburn. Corey passa bem e já foi liberado do hospital, mas Dwane Simmons, seu companheiro de time, infelizmente faleceu.

Melhor escolha: 4/108 – Julian Love: Em termos de valor, nenhuma pick foi tão favorável aos Giants como Julian Love. Escolhido na 108ª posição geral, o cornerback poderia ter saído bem antes, na 3ª ou talvez até no final da 2ª rodada. Ele não possui atributos físicos de elite, mas é um defensor bastante polido, com experiência e boa produção no College, o qual pode fazer qualquer coisa pedida pelos treinadores. É possível que ele já assuma o papel de nickelback da equipe, entrando em campo em formações mais carregadas com defensive backs.

Junto com quarterback, a outra posição mais carente de New York antes do Draft era cornerback. A ênfase em blitzes dada pelo coordenador defensivo James Bettcher coloca muita pressão na secundária, logo, ter jogadores talentosos no setor e capazes de se sobressair na marcação individual é fundamental. A aquisição de Baker, Love, Ballentine e a recuperação de Sam Beal, selecionado no Draft Suplementar de 2018, dá vida nova ao grupo de defensive backs.

Pior Escolha: 1/6 – Daniel Jones: Foi amor à primeira vista. Bastaram apenas algumas séries no Senior Bowl para Gettleman, segundo ele mesmo, apaixonar-se por Jones e decidir que aquele seria o seu quarterback. Convenhamos, uma semana não deveria ser a principal razão para uma decisão tão importante, afinal existiam três anos de vídeos do College Football a serem analisados e considerados. É um caso em que o excesso de convicção beira até a teimosia e a arrogância.

O golpe de misericórdia foi a crença do general manager de que outras duas equipes estavam altamente interessadas no seu crush: Broncos e Redskins – ambas escolhiam antes dos Giants voltarem ao relógio na 17ª posição. Foi assim que Gettleman justificou o reach, basicamente dizendo que se ele não pegasse o prospecto de Duke com a 6ª pick, algum outro time pegaria.

Leia também: Resumo 1ª rodada: Giants se superam e têm Draft mais questionável da década

Conforme dissemos em nosso texto sobre os perdedores da 1ª rodada, Gettleman ignorou qualquer tipo de avaliação técnica, qualquer noção de custo de oportunidade e valor da 6ª escolha geral para selecionar o seu jogador preferido. Jones pode surpreender e se desenvolver em um franchise quarterback em alguns anos – coisas assim acontecem -, mas todos os indícios são de um signal caller com teto baixo e que nunca deveria ser draftado nem perto do top 10. Se por acaso Broncos ou Redskins tivessem puxado o gatilho, bem, o reach e as críticas estariam na conta deles.

Nota: Regular

Como explicamos antes, qualquer avaliação do recrutamento dos Giants está “contaminada” pelo que eles fizeram que com as suas duas primeiras escolhas. Por exemplo, se a franquia tivesse selecionado um EDGE top de linha com a 6ª (alguém como Josh Allen), Daniel Jones com a 17ª pick e de resto fizesse tudo igual, a percepção sobre o Draft seria totalmente diferente, ainda que Jones continuasse sendo um reach. As análises sem dúvida seriam bem mais positivas.

Contudo, apesar de ter encontrado ótimos jogadores (e valores) para suprir suas maiores necessidades nas rodadas seguintes, é impossível ficar satisfeito com Daniel Jones e um nose tackle draftados no top 17. A conta não fecha. New York falhou em buscar o máximo de talento com as suas duas principais escolhas e isso é uma falha grave de Dave Gettleman. No máximo, concedendo o benefício da dúvida para o general manager e o quarterback calouro, podemos dizer que se tratou de um Draft regular.

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