Não existem dúvidas que o Cleveland Browns é um dos times com maior expectativa ao seu redor neste momento da intertemporada. Após quebrar o jejum de vitórias e consolidar Baker Mayfield como seu titular na segunda metade do último ano, o time efetivou Freddie Kitchens como seu treinador principal e foi atrás de grandes nomes como Odell Beckham Jr. e Sheldon Richardson.
A defesa recebeu especial atenção: nomes como Olivier Vernon e Morgan Burnett chegaram na free agency; Mack Wilson e Greedy Williams também chegam via Draft para dar profundidade. Tudo isso visa melhorar a performance defensiva, que foi a terceira pior dentre todos os times da NFL na temporada passada. O coordenador defensivo Gregg Williams foi demitido, e Steve Wilks, ex-treinador do Arizona Cardinals, foi quem assumiu o comando com a meta de colocar a talentosa unidade ao menos no top 10.
O novo coordenador tem por característica utilizar a defesa em marcação por zona como base e ser muito agressivo em terceiras descidas, se utilizando de inúmeras blitzes para pressionar o quarterback – com as peças que a unidade dispõe, não será difícil implementar esta filosofia. Wilks ainda tem como característica armar fortes defesas contra o jogo terrestre: em 2017, quando foi coordenador defensivo do Carolina Panthers, limitou os oponentes a apenas 3,9 jardas por tentativa de corrida.
Um tipo de cobertura defensiva que com certeza veremos muito é a cobertura cover 3. Neste tipo de cobertura, o fundo do campo é dividido em três partes: as duas laterais sobre responsabilidade dos cornerbacks, e o meio sendo responsabilidade de um safety. Com a chegada de Morgan Burnett (#42), o time conseguiu o jogador ideal para jogar próximo ao box com capacidade para defender contra o jogo corrido e ao mesmo tempo velocidade e tempo de reação adequados para cobrir o flat. No exemplo abaixo, vemos a defesa contra um personnel 11, com Burnett cobrindo lateral de um lado e o nickel corner TJ Carrie (#38) cobrindo a mesma zona no lado oposto.
— ALL22ProFootball (@All22_PF) May 14, 2019
Com Sheldon Richardson (#98) e Larry Ogunjobi (#65) ocupando o meio com grande presença física, os linebackers Joe Schobert (#53) e Christian Kirskey (#58) tem maior liberdade para patrulhar o meio do campo tanto na cobertura de passe quanto avançando contra o corredor. Olivier Vernon (#54) e Myles Garrett (#95) são responsáveis por criar pressão pela lateral e também em prevenir o jogo corrido; Morgan Burnett tem papel fundamental ajudando a controlar a lateral, e evitando assim que os EDGEs fiquem sobrecarregados com dois bloqueadores. A cover 3 é um sistema balanceado e que ajuda a prevenir jogadas em profundidade tanto quanto corridas ou jogadas de screen.
Outra cobertura muito utilizada também por Wilks é a cover 4. Nesse modelo de cobertura, o campo é dividido no fundo em quatro partes, sendo as duas laterais cobertas pelos cornerbacks e o meio dividido pelos safeties. Com isso, apenas três jogadores são responsáveis pela cobertura dos flats e do meio do campo. A grande vantagem é que, com cornerbacks velozes e com excelente tempo de reação como Greedy Williams (#26) e Denzel Ward (#21), não é necessário que os mesmos se posicionem pré snap já em profundidade. A defesa ganha força contra passes curtos, diminuindo a vulnerabilidade no flat e acaba se tornando uma defesa com nove homens próximos a linha de scrimmage. A adição de Mack Wilson (#51) à unidade lhe dá um jogador versátil, com capacidade para controlar o jogo corrido na lateral bem como auxiliar na cobertura de passe em cover 4.
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Se utilizando de coberturas seguras como as de zona, o coordenador espera forçar terceiras descidas longas e assim poder colocar em prática seu vasto pacote de blitzes. Nessas situações, o time deve atuar em cobertura homem-a-homem e atacar o quarterback adversário com variados jogadores. Além disso, estas situações de blitz colocam as linhas ofensivas em constante estresse, e diminuem os bloqueios duplos sobre os EDGEs, fazendo com que o talento de Olivier Vernon e Myles Garrett possam se sobressair.
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Uma blitz corriqueiramente utilizada por Wilks em Carolina é a de um linebacker interno atacando o gap A. Uma movimentação chamada stunt é utilizada, com os jogadores do miolo da linha defensiva se movendo para um lado e forçando o center e o guard a reagirem para o mesmo, deixando o gap A do lado oposto vulnerável ao ataque. Joe Schobert é um jogador da função com capacidade de executar a pressão necessária e será uma arma nessa situação; Mack Wilson e Morgan Burnett se revezarão na cobertura dos running backs e tight ends.
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Falando de Morgan Burnett, sua capacidade de jogar próximo à linha de scrimmage faz com que ele seja uma arma surpresa em algumas blitzes. Apesar de não ser um pass rusher natural, trata-se um jogador físico o suficiente para causar problemas a qualquer bloqueador. Uma variação que Wilks sempre gostou de usar é fazer com que o EDGE ataque a lateral bem aberto, forçando o offensive tackle a acompanhá-lo. Com o guard tendo de bloquear o iDL, abre-se espaço para uma blitz atrasada do safety. Com Vernon e Garrett em campo, a preocupação dos offensive tackles é constante, e pode gerar este espaço para que o safety surja apressando o passe.
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Como podemos notar, o novo coordenador defensivo terá todas as armas para implementar rapidamente sua filosofia e elevar o nível defensivo com rapidez. Poucos times na divisão, quiçá na NFL, tem um elenco com profundidade para tamanha variação esquemática sem perder efetividade como os Browns têm defensivamente. Com uma boa produção na defesa, o ataque poderá ter mais tranquilidade para vencer jogos, evitando os sufocos e jogos perdidos no final como na temporada de 2018. A hora é agora e os Browns não podem deixar passar.






