Mesmo depois de cinco temporadas na NFL, é difícil dizer se Jameis Winston é um bom quarterback com panes mentais ou um quarterback ruim com lampejos de genialidade. Em todo o caso, sua capacidade de ferir os adversários com lindos passes profundos, ao mesmo tempo em que fere o seu próprio time com turnovers, faz dele um dos jogadores mais divertidos da liga – principalmente se você não for torcedor do Tampa Bay Buccaneers.
Nada simboliza melhor a “experiência Jameis Winston” do que a vitória por 38 a 35 sobre o Indianapolis Colts. Nela, o signal caller lançou 456 jardas, quatro touchdowns e três interceptações – incluindo uma pick six. Winston começou a partida sendo interceptado logo na primeira campanha, mas, no final, Tampa Bay venceu o jogo e ele somou um caminhão de jardas aéreas e touchdowns. Entre o começo e o fim do duelo, porém, vieram mais duas interceptações e outros passes que poderiam ter se transformado em turnovers, intercalados entre algumas conexões incríveis com Chris Godwin, Mike Evans e O.J. Howard. Enfim, a “experiência Jameis Winston” em sua essência.
Embora divertida para os observadores neutros, a inconsistência do quarterback é um problema grave para os Buccaneers e transforma Winston em uma grande incógnita. Mantê-lo ou não em 2020, já que ele está no último ano de seu contrato de calouro, é a grande decisão a ser tomada pela franquia nos próximos meses.
Winston é naturalmente propenso a turnovers e isso não vai mudar
Winston teve três head coaches e três coordenadores ofensivos em suas cinco temporadas como profissional, mas mesmo assim é basicamente o mesmo quarterback da época de Florida State, apresentando os mesmos defeitos e as mesmas virtudes. Tampa Bay transformou Dirk Koetter em treinador principal porque ele, supostamente, tinha uma boa química com o signal caller e o faria evoluir. Tampa Bay contratou Bruce Arians, apelidado de “o encantador de quarterbacks”. Nada disso adiantou.
Está na hora de encarar os fatos: Winston é isso aí e não vai mudar. Os turnovers não diminuirão com a experiência ou com um sistema diferente. O máximo que dá para fazer é aprender a sobreviver com os erros dele. Hoje, acreditar que o quarterback irá cuidar melhor da bola no futuro é simplesmente apostar na sorte, haja vista nada nos últimos cinco anos indicar que isso acontecerá.
Talvez alguém caia na tentação de achar que Jameis está atuando melhor por causa das estatísticas de 2019. Ele lidera a NFL em jardas aéreas (4,573) e só está atrás de Lamar Jackson em passes para touchdown (33 a 30), além de ter se tornado primeiro jogador da história a lançar 450 jardas em duas partidas consecutivas. Tudo isso é impressionante, porém tem mais a ver com o fato dele estar jogando em um ataque muito agressivo e vertical, a marca dos times de Bruce Arians.
Winston tenta, em média, quase 40 passes por jogo, quando antes tentava 33 ou 34 – se mantiver seu ritmo, terminará o ano com mais de 630 lançamentos. Em suma, o fato dele estar passando a bola mais vezes faz com que suas estatísticas inflem – incluindo o número de interceptações -, porém, colocando em perspectiva, é basicamente o mesmo padrão de 2015 a 2018. O que muda mesmo é só o volume.
O site Pro Profootball Focus produziu um artigo muito interessante sobre o quarterback, mostrando como a sua inconsistência é absolutamente consistente ao longo das temporadas. Entre outras coisas, o site revela que, desde 2015, Winston sempre fica entre os 5 primeiros da liga em lançamentos com notas positivas (ou seja, passes que viram primeiras descidas ou bons avanços), ao mesmo tempo em que sempre está entre os piores no quesito evitar lançamentos negativos (jogadas propensas a turnovers). Enfim, ele desde que entrou na NFL está dando uma no cravo, outra na ferradura – embora as notas negativas de fato tenham caído um pouco em 2019.
Tampa Bay talvez queria seguir em frente, mas não há opções melhores
Sinceramente, por melhores que algumas estatísticas de Winston sejam, nenhuma equipe quer ter como titular o quarterback que lidera a liga em interceptações (24). Jameis, por exemplo, já teve quatro jogos com três ou mais interceptações – é muita coisa. Mesmo que ele venha de uma sequência de quatro vitórias com muitas jardas e touchdowns lançados, não dá para esquecer seus momentos ruins – em 2019 e ao longo de toda a carreira. A franquia certamente não esqueceu, tanto que, no começo do mês, Arians não assegurou o futuro do signal caller com o time, dizendo que vai esperar até o final do ano para tomar uma decisão.
O grande problema é: se não Winston, quem? Os Buccaneers estão muito longe das primeiras posições do Draft com a sua campanha 7-7. Se quiserem um quarterback calouro com grande potencial, eles teriam que vender a alma para subir no recrutamento ou selecionar alguém de segundo escalão na 2ª ou 3ª rodada e torcer para dar certo.
Na free agency, por sua vez, as perspectivas não são muito melhores. Por enquanto os principais nomes cotados para atingirem o mercado são veteranos consagrados como Tom Brady, Eli Manning e Philip Rivers, mas ninguém sabe se eles deixarão seus atuais times ou mesmo se ainda têm lenha para queimar na NFL. À parte esse grupo, existem somente reservas pouco inspiradores como Teddy Bridgewater, Marcus Mariota, Case Keenum e Chase Daniel. Na verdade, se Winston realmente se tornar agente livre, ele deve ser a principal opção do mercado, assinando com algum outro time para possivelmente ser titular.
Deste modo, a alternativa que resta a Tampa Bay é seguir com o seu atual signal caller por pelo menos mais uma temporada, simplesmente porque pode ficar pior do que já está. A franchise tag é a opção mais lógica como contrato emergencial e última chance de Winston, embora um vínculo similar ao que o Jacksonville Jaguars ofereceu a Blake Bortles dois anos atrás também seja uma ideia interessante.
Em 2018, Jacksonville estendeu o contrato do seu agora ex-quarterback por três anos e 54 milhões de dólares. Pareceu muito por Bortles, mas na prática era um acordo com pouco dinheiro garantido e que podia ser rompido sem maiores prejuízos à franquia depois de duas temporadas.
Isso seria o ideal para Tampa Bay, talvez até melhor do que a franchise tag, pois garantiria que a equipe tivesse mais tempo para avaliar suas opções e decidir o que fazer sem precisar gastar tanto dinheiro. Já um contrato de longa duração daqueles de 100 ou 150 milhões de dólares oferecidos a quarterbacks de elite está fora de cogitação – ou deveria estar, porque a gente nunca sabe o que se passa na cabeça dos general managers.
Os Buccaneers terão até o mês de março, quando o mercado abre, para decidir se continuarão ou não com o seu atual signal caller. O mais provável é que tenhamos pelo menos mais um ano da “Experiência Jameis Winston” em Tampa Bay. Se isso será bom ou ruim, porém, ninguém sabe – o provável, na verdade, é que seja apenas mais do mesmo.






