E AGORA, O QUE ACONTECERÁ COM OS PATRIOTS?

Eliminação precoce diante dos Titans pode ser o estopim para mudanças drásticas em New England, incluindo uma transformação radical no elenco e até mesmo o fim da era Tom Brady

Ainda é muito cedo para sabermos a dimensão exata do que aconteceu no sábado à noite, mas há uma boa chance de a vitória do Tennessee Titans sobre o New England Patriots no Wild Card ter sido um marco na história da NFL. À parte a reação exagerada causada pela derrota de New England – seja entre os que torcem a favor, seja entre aqueles que torcem contra -, existe uma possibilidade real de que a eliminação signifique a chegada de novos tempos em Foxborough – ou até na NFL como um todo.

Calma, não estamos decretando o fim da dinastia. Na verdade, ninguém sabe o que vai acontecer com Tom Brady ou com o resto do time – nesse momento, poucos dias após o baque causado pela derrota, provavelmente nem Bill Belichick tem uma ideia clara de qual rumo seguir. Contudo, talvez pela primeira vez em 20 anos, estejamos em vias de presenciar uma revolução em New England, a maior desde a chegada do head coach à franquia no ano 2000.

Obviamente a principal questão a ser resolvida é a permanência ou não de Brady para a próxima temporada. Essa promete ser uma novela que irá se arrastar pelos próximos meses. Ademais, Belichick, o treinador e general manager, precisará também lidar com eventuais baixas em sua comissão técnica e rever sua estratégia de montagem de elenco, afinal falta de talento e profundidade no plantel foi um problema sério em 2019.

Ataque é onde as principais mudanças devem ocorrer

Dois personagens fundamentais para a soberania dos Patriots na última década podem estar de saída em 2020. O primeiro, como você deve imaginar, é Tom Brady. Não vamos especular para onde o quarterback pode ir ou então quais alternativas a franquia tem para substituí-lo. Vamos apenas considerar a grande possibilidade de ele parar de jogar ou ao menos mudar de time, já que o próprio jogador disse achar a aposentadoria “bastante improvável”.

Pela primeira vez em 20 anos como profissional, Brady pode se tornar agente livre. Seu contrato se encerra em março e uma cláusula especial no acordo o impede de receber a franchise tag. Ou seja, ele e a franquia terão que sentar para negociar uma renovação. A grande pergunta é: os Patriots terão interesse em mantê-lo por mais uma temporada? Por mais que a história e os seis anéis de campeão do quarterback falem por si só, o mundo da NFL costuma ser cruel com jogadores em declínio.

Brady fará 43 anos de idade em agosto e vem daquela que talvez seja sua pior temporada da carreira. Por mais que o talento ao seu redor tenha sido mais escasso do que em outras épocas, não há como ignorar a visível queda física e técnica nas atuações do signal caller. Deste modo, por mais que doa nos torcedores, se Robert Kraft e Belichick acharem que é hora de seguir em frente, será uma decisão perfeitamente compreensível.

O próprio Tom Brady, aliás, pode querer mudar de ares. Há alguns meses surgiu a notícia de que esta poderia ser sua última temporada em New England, após ele colocar a sua mansão na Nova Inglaterra à venda. Além disso, há dois anos, tivemos aquela grande reportagem da ESPN norte-americana a respeito das tensões existentes no relacionamento entre o quarterback, Belichick e Kraft. Enfim, o que queremos dizer é que talvez a separação seja de comum acordo, embora, não custe repetir, não tenhamos a menor ideia do que vai acontecer.

O segundo personagem possivelmente de saída é Josh McDaniels. O coordenador ofensivo tem entrevistas de emprego marcadas com várias franquias, o que obviamente significa que ele tem interesse em assumir um cargo de head coach – segundo as informações atuais, o Cleveland Browns seria o seu emprego favorito.

Em um momento de prováveis grandes transformações, incluindo o iminente fim da era Tom Brady, McDaniels talvez pense que o seu ciclo em New England chegou ao fim e queria tentar uma segunda experiência como treinador principal na NFL. Seria uma baixa gigante para os Patriots, afinal McDaniels foi o grande arquiteto ofensivo do time na última década, construindo quase sempre ataques muito eficientes.

Reformulação no elenco é praticamente inevitável

New England sofreu com a falta de qualidade do seu plantel em 2019, principalmente no ataque. Isso precisa ir na conta de Bill Belichick. A equipe não soube lidar com as perdas de Rob Gronkowski e de outras armas ofensivas, encerrando o ano com um grupo de recebedores formado por Julian Edelman, Phillip Dorsett, N’Keal Harry, Jakobi Meyers e o veteraníssimo Benjamin Watson. As aquisições de Antonio Brown e Mohamed Sanu, nomes que deveriam ser referência no corpo de wide receivers, não ajudaram em nada e mostraram-se dois colossais erros de cálculo.

Ademais, as lesões dos titulares da linha ofensiva revelaram a pouca profundidade de talento da unidade, comprometendo o desempenho de todo o ataque. Tudo isso torna urgente uma grande revitalização ofensiva, pois, com ou sem Brady em 2020, as coisas não podem continuar como estão.

Contando as escolhas compensatórias, a projeção é que New England tenha 11 ou 12 picks no próximo Draft, capital de sobra para qualificar o elenco. A questão é tirar o máximo possível dessas escolhas, um problema sério para Belichick nos últimos anos. Curiosamente, o head coach/general manager tem se saído melhor assinando com free agents pouco badalados ou buscando calouros não-draftados do que draftando.

Além da reformulação no ataque, os Patriots terão que lidar também com alguns jogadores de defensa importantes atingindo o mercado. O principal deles sem dúvida é Devin McCourty, o grande líder defensivo da franquia na última década – o safety pode inclusive se aposentar. Destaque também para as possíveis partidas de Kyle Van Noy, Jamie Collins e Danny Shelton, além de Matthew Slater, provavelmente o melhor especialista de toda a liga.

Todas essas transformações acabariam por acontecer mais cedo ou mais tarde, mas é bastante provável que a eliminação contra o Tennessee Titans logo de cara nos playoffs tenha acelerado o processo, sobretudo após um desempenho aquém do esperado na temporada regular. O nascimento de uma nova era em New England parece inevitável, resta saber se o império de vitórias e títulos construído por Brady e Belichick nos últimos 20 anos sobreviverá a esta iminente revolução.

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