Que final apoteótico! Não poderia haver jogo melhor para coroar uma grande temporada que o Super Bowl LIV. Mudanças de liderança no placar, um xadrez tático muito equilibrado e tensão até os minutos finais. Ao fim, a sensação de um jogo digno do maior evento do ano para o torcedor, apagando aquela imagem tristonha que New England Patriots e Los Angeles Rams deixaram em fevereiro passado.
Tirei 5 lições do jogo, para a última coluna da temporada. Vamos a elas:
1- Se tiver a oportunidade contra Patrick Mahomes, rode a faca.
Existe uma máxima utilizada no futebol da bola redonda que ficou popular após o comentarista Júnior, da Globo, expor numa transmissão: “Quando você enfia a faca no inimigo, você tem que rodar a faca, se não ele pode sobreviver”. Não existe nada mais verdadeiro que isso quando você enfrenta Patrick Mahomes. Quando você acha que ele está morto e derrubado, ele ressurge. Houston Texans e Tennessee Titans já haviam cometido esse erro nos playoffs e o San Francisco 49ers repetiu ontem. Resultado: todos os três derrotados.
Faltando pouco mais de dez minutos, os 49ers tinham 10 pontos de vantagem e a posse de bola após uma interceptação. Era a chance de conseguir abrir três posses e aí sim colocar o Kansas City Chiefs nas lona. Não conseguiram, Jimmy Garoppolo não encontrou ninguém livre e a bola voltou para as mãos de Mahomes. Nos dois drives seguintes, o camisa 15 de Kansas City foi o que se espera um quarterback de elite: decisivo, conduzindo o time a dois touchdowns e a virada. Se quiser vencer Mahomes, rode a faca ou ele fará isso com você.
2- Kyle Shanahan amadureceu – mas não o suficiente
Durante a temporada, elogiei o amadurecimento do head coach dos 49ers Kyle Shanahan. Sua busca pelo equilíbrio e sua falta de medo em buscar o jogo corrido, reconhecendo as limitações de seu time e montando um sistema eficiente para minimizar esses problemas, foram pontos claros de evolução. Sua capacidade chamando jogadas foi refinada e isso resultou em resultados positivos para San Francisco em momentos cruciais. Porém, como no Super Bowl LI, quando era coordenador ofensivo do Atlanta Falcons e vencia o New England Patriots, ele errou em momentos cruciais.
Faltando pouco menos de dois minutos para o final do primeiro tempo e com três timeouts para pedir, Kyle deixou os Chiefs gastarem os 40 segundos de relógio antes de um punt em vez de pedir tempo. Recebeu a bola com pouco mais de um minuto e nada conseguiu produzir. Ganhando o jogo já no último quarto, optou por colocar a bola na mão de seu quarterback em vez de correr com a bola e torrar o relógio. Detalhe é que os 49ers tinham média de mais de 6 jardas por corrida. Passes incompletos, sacks, relógio parada, bola para Mahomes e mais uma derrota vencendo por dois dígitos no último quarto. Fica difícil te defender assim Shanahan.
3- Chris Jones será um homem milionário em breve
Agente livre depois da partida deste domingo, o interior defensive lineman Chris Jones fez questão de lembrar a todos os times que se interessam pelo seu jogo o motivo que pedirá um alto salário. Recuperado totalmente de uma lesão na perna que o limitou na final de conferência contra os Titans, ele provou que é a base da linha defensiva dos Chiefs. A melhora de performance da unidade toda quando ele está em campo é notória.
Se as estatísticas não foram as melhores, com apenas um tackle, sua presença criando pressão e forçando Garoppolo a decisões ruins estão no vídeo. Várias vezes vimos os running backs dos 49ers mudando de direção por Jones ter vencido seu bloqueador. O que dizer então dos dois passes desviados em duas jogadas seguidas, logo no drive que San Francisco buscava a virada? Sensacional. Me arrisco a dizer que Jones será em breve o segundo jogador de sua posição mais bem pago na liga, ficando atrás apenas de Aaron Donald.
4- Andy Reid pode tirar as medidas para jaqueta dourada
Por mais que eu não concordasse, uma pecha de “perdedor” acompanhava Andy Reid até ontem. Afinal, eram seis derrotas em finais de conferência e mais uma no único Super Bowl que havia chegado até então. Muitos diziam que ele não sabia ser equilibrado, que tomava decisões ruins e continuava arriscando mesmo quando tinha a situação controlada a seu favor. Enfim, dizia-se que o velho Reid não sabia vencer. Ledo engano: ele provou que ainda sabe ser ousado e mesmo assim venceu.
Logo no primeiro quarto, ele arriscou duas quartas descidas e converteu ambas, em drives que resultaram em 10 pontos. Soube também ousar e mandar 6 homens numa blitz na quarta descida mais importante do jogo. Teve perspicácia para usar Mahomes fazendo speed option para ajudar a controlar Nick Bosa em situações de conversões curtas. Não teve medo de mandar quatro recebedores em profundidade numa terceira descida para 15 jardas crucial. Ganhou à la Reid, como tinha que ser. Tire suas medidas Andy, vão precisar para sua jaqueta no Hall da Fama.
5- Os 49ers estão no caminho certo
Por mais que Shanahan tenha cometido seus erros, Garoppolo não tenha entregue no final do jogo o que se esperava de um quarterback num Super Bowl e que a defesa tenha cedido três drives seguidos para touchdown no último quarto, não se pode jogar fora tudo. O bom trabalho deste ano tem que ter continuidade. Ninguém sai de uma temporada com 4 vitórias para uma de 13, com direito a ir ao Super Bowl e liderar até faltarem menos de dez minutos sem mérito. Claro que existe amargor na boca pela derrota, mas é hora de controlar os ânimos.
Garoppolo teve a primeira temporada completa como titular e pode evoluir. Não acredito que chegue a ser um jogador da elite na posição, mas isso não o torna ruim. Pode render ainda mais com crescimento do tempo de jogo. Shanahan também está maturando e precisa apenas de refino em momentos decisivos. Nick Bosa tem tudo para ser uma estrela, Deebo Samuel e Fred Warner são jovens em ascensão e Raheem Mostert tem alguns anos de brilho ainda. Com mais uma boa free agency e um draft de qualidade, os 49ers seguirão muito fortes no caminho das vitórias.
