Com a criação do teto salarial na NFL, ao início da década de 1990, as franquias perderam bastante “poder de fogo” em manter seus principais jogadores quando os contratos destes chegavam ao final. Assim, para equilibrar mais as coisas e não fazer com que jogadores ávidos por dinheiro deixem as franquias na mão, a liga criou o instrumento da Franchise Tag – ou, em tradução livre, “Etiqueta do Jogador Importante para a Franquia”. Em outras palavras, é justamente isso que você pensou: um meio de “segurar” um jogador [importante] cobiçado pelos outros times.
Claro, isso não vem de modo fácil: a franquia acaba tendo que compensar esse jogador com bastante dinheiro. Ao mesmo tempo, também há de ocorrer um compromisso de tentar desenvolver um contrato de longo prazo – até porque, se não, vira bagunça. A franchise tag é, na prática, benéfica para a NFL como um todo. Depois da ressaca do Super Bowl, a “marcação” dos jogadores com a tag é o primeiro grande evento do calendário da liga – seguido pelo Combine, Free Agency, Draft e etc.
Lembrando, claro, que apenas um jogador por time pode ser “etiquetado” com as duas primeiras modalidades – neste ano, caso queira, uma franquia pode TAMBÉM colocar a transition tag. Isso vai/pode ser útil para Dallas, Tampa Bay e Tennessee, como você verá a seguir.
I) A Franchise Tag Exclusiva: A um dado jogador (e apenas um) é oferecido um contrato de um ano, cujos valores não sejam menores que a média dos cinco maiores salários da posição desse jogador – ou em 120% do salário desse jogador anteriormente, o que for maior. O time tem direitos exclusivos para negociar com esse jogador.
II) A Franchise Tag Não-Exclusiva: A um dado jogador é oferecido um contrato garantido (ou seja, se ele for cortado recebe do mesmo jeito) de modo que aquele não vá para a Free Agency. O salário, igualmente, é baseado na média dos cinco maiores salários da posição ou em 120% do salário anterior – novamente, o que for maior. A diferença é que o jogador pode negociar com outros times.
Aqui vem a sacada/diferença: se um outro time fizer uma proposta, o time original tem o direito de igualar essa proposta em até sete dias – e agora a sacada maior ainda; Se não igualar, o time original recebe duas escolhas de primeira rodada como compensação. Obviamente, isso normalmente impede que as outras franquias queiram se engraçar com o jogador “etiquetado”.
III) A Transition Tag (“Etiqueta de Transição”): Igualmente por um ano, como as demais – só que com algumas diferenças. Em princípio, porque o salário oferecido é a média dos dez maiores salários vigentes na posição. A Transition garante que o time possa igualar uma proposta de outra franquia – mas não pode ser usada caso o time já tenha usado quaisquer dos outros dois tipos. Na prática, é como transformar um jogador em free agent restrito. A novidade para 2020 é que pelo CBA antigo (Acordo Coletivo-Trabalhista) os times podem colocar duas tags se quiserem: uma exclusiva ou não exclusiva e mais a transition.
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O prazo para as equipes designarem os jogadores taggeados vai de 25 de fevereiro a 16 de março de 2020. Caso o CBA seja aprovado na sexta, o time que colocou a segunda tag tem que retirá-la – nenhum time ainda usou duas vezes.
Quem já recebeu:
A.J. Green, WR, Cincinnati Bengals: A permanência de Green, hipoteticamente saudável, ajudaria na transição de Joe Burrow do college football para a NFL. Não me parece uma ideia ruim, ainda mais sendo contrato de um ano via tag. Assim, para reforçar o primeiro ano de seu futuro-novo quarterback, os Bengals vão segurar Green por pelo menos mais uma temporada (ou, o que já me parece uma ideia ruim, renovar até julho por longa duração).
Chris Jones, iDL, Kansas City Chiefs: A franchise tag para jogadores dessa posição, no interior da linha defensiva, é barata. Quando se tem um jogador como Jones que, além de conter o jogo terrestre e selar o miolo da linha, ainda consegue pressionar o quarterback e vez ou outra dar tapa na trajetória da bola… Bom, é uma barganha usar a tag para se proteger. Foi o que o Kansas City Chiefs corretamente fez.
Justin Simmons, S, Denver Broncos: Exemplo parecido ao de cima, já que a tag para safeties. O recurso foi usado para tirar Simmons do mercado enquanto negocia-se um contrato de longa duração – ele foi bem na última temporada e tem apenas 26 anos. Seus números vem melhorando a tendência é que assim sigam: os sistemas de Vic Fangio, head coach e arquiteto defensivo de Denver, costumam melhorar o desempenho de jogadores da posição.
Yannick Ngakoue, EDGE, Jacksonville Jaguars: O Jacksonville Jaguars desmontou, sejamos sinceros. Ngakoue pode não ter a mídia que um Calais Campbell tinha, mas a verdade é que a produção esteve lá nos últimos anos. A chance dele jogar mais um snap no norte da Flórida é minúscula. A tag aqui foi usada como em outros casos anteriores: coloca-se a tag e troca-se o jogador em sequência. É o que deve acontecer.
Quem ainda pode receber até segunda:
Dak Prescott, QB, Dallas Cowboys: Não tem muito o que fazer aqui: as negociações se arrastaram até a véspera e, ao contrário de uma prova que você estudava na madrugada anterior durante a faculdade, aqui não tem salvação. Prescott não pode chegar ao mercado se Dallas quiser renovar – porque caso chegue, certamente alguma equipe dará 40 milhões de dólares para ele. O histórico da franchise tag é justamente esse: proteger a franquia, impedir que um atleta cobiçado chegue ao mercado. Dallas fará isso como outras franquias na história da NFL já o fizeram.
Derrick Henry, RB, Tennessee Titans: Running back não vale rios de dinheiro. Com o volume de toques que Henry teve na bola no ano passado, ele está a um tackle de se machucar. Contrato de longa duração aqui é kamikaze e é para situações como esta que a franchise tag existe. A tag exclusiva dará 12 milhões de salário para Derrick Henry e isso é péssimo negócio para ele e ótimo negócio para os Titans – o risco dele fazer greve e leveonbellzar é enorme, mas o risco dos Titans darem um contrato longo e ele virar uma bomba é pior.
Shaq Barrett, EDGE, Tampa Bay Buccaneers: Mais um uso de franchise tag que faria sentido, dar mais um ano de “teste” para um jogador que soa como sucesso de carnaval. Shaq Barrett nunca fez nada na carreira até liderar a NFL em sacks no ano passado. Um ano a mais para ver do que ele é capaz me parece a saída sensata para todos os lados.

Ryan Tannehill, QB, Tennessee Titans: 24 milhões por um ano: esse é o preço da transition para QBs. Parece-me razoável pensar nisso: transforma-se Tannehill num free agent restrito e a um valor bem bacana. No mundo ideal, os Titans conseguem, ainda, renovar com ele por dois anos num valor parecido/ano e com a maior parte do dinheiro garantido no primeiro ano. É um contrato nos moldes de Case Keenum nos Broncos.
Amari Cooper, WR, Dallas Cowboys: Neste ano, como dito acima, existe a possibilidade de usar a tag exclusiva/não exclusiva e a transition. Esta, na prática, transforma o jogador em free agent restrito. Ou seja, Dallas poderia igualar propostas de outras equipes – é o uso ideal para Cooper, porque dá essa “última palavra” para Jerry Jones. Conhecendo-o, a gente sabe que ele vai querer igualar. Eu, porém, não o faria. Somente igualaria em termos razoáveis, dado que a classe de wide receivers do Draft 2020 é bastante talentosa.
Brandon Scherff, OG, Washington Redskins: Lesões são problema na carreira de Scherff, é bem verdade, mas é um jogador que, se saudável, pode produzir. Com a chegada de Ron Rivera, o foco no jogo terrestre deve ser endossado e se eu fosse os Redskins apenas transformaria Brandon em free agent restrito. Se algum time for maluco o suficiente para dar a vida por um guard com histórico de lesões, vai com Deus. A tendência, de toda forma, é que um contrato de longa duração seja negociado com o próprio Washington Redskins.
Arik Armstead, DL, San Francisco 49ers : Caso semelhante ao de Shaq Barrett mas com dois agravantes: 1; Armstead é escolha de primeira rodada e só rendeu MESMO nesta última temporada (e, na minha concepção, muito porque tinha dobras em outros nomes fortes da DL) e 2; Os 49ers têm apenas 17 milhões de dólares de espaço no teto salarial de 2020. Risco muito alto mesmo para um ano.
Bud Dupree, EDGE, Pittsburgh Steelers: Praticamente o mesmo caso de Armstead, mas a situação dos Steelers no cap é ainda pior: neste momento, Pittsburgh é o time com menos espaço no teto salarial.
Para saber mais:
OS 10 PIORES USOS DE FRANCHISE TAG NA HISTÓRIA DA NFL 🏈
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