Uma notícia que já era esperada vem tomando cada vez mais endosso ao longo das últimas semanas: a NFL deve realizar uma brusca redução no teto salarial para a temporada de 2021. Mesmo com o retorno das maiores ligas esportivas ao redor do mundo, as consequências econômicas no ambiente serão observadas no futuro recente, com a diminuição das receitas advindas das principais fontes de renda para as franquias.
Os principais componentes de receita da NFL são os direitos de TV, o merchandising – ou seja, o licenciamento para venda de produtos – e a venda de ingressos, e todos serão massivamente afetados pelos efeitos do COVID-19. Os contratos televisivos, os quais representam mais de 50% das receitas da liga, devem ser renegociados; a venda de produtos sofrerá uma queda pelo menor poder de compra das pessoas e o mesmo pode ser dito dos ingressos, pois nem sabemos se os estádios poderão receber público em algum ponto da próxima temporada.
Dessa forma, após 18 anos consecutivos de elevação nas receitas, a NFL como um todo estará frente à uma redução nas suas fontes de lucro, o que levará a uma consequente redução no teto salarial das franquias. Ainda que cada equipe receba a mesma quantia da liga, os lucros anuais divergem em decorrência das outras fontes monetárias dos times, o que torna a situação ainda mais cautelosa para aqueles que não possuem uma posição financeira favorável ou que dependem muito das receitas de jogos – como o Dallas Cowboys que pode perder um valor estimado de $621 milhões de dólares.
Para além do auxílio que Roger Goodell prometeu fornecer para as franquias, é necessário encontrar alternativas para que elas possam lidar com a crise econômica oriunda do novo Coronavírus. De outra forma, poderemos ver situações financeiras calamitosas, as quais podem afetar drasticamente a vida de dirigentes e de jogadores.
O que os clubes podem fazer
A pouca margem livre no teto salarial é um problema imediato que surge quando pensamos nas consequências de sua redução para 2021. No atual momento, apenas duas franquias possuem mais de $30 milhões de dólares disponíveis no salary cap, enquanto a grande maioria se mantém abaixo dos $20 milhões, um pequeno espaço que depende de manobras dos indivíduos que controlam os salários das equipes para que uma maior folga seja aberta.
Isso não é um movimento inesperado, dado que, na última década, o salary cap aumentou vertiginosamente, chegando ao ponto de crescer em um ritmo de $10 milhões de dólares por temporada desde 2013. Com isso, as franquias criaram o hábito de apertar seus tetos salariais, pois, no ano seguinte, esse indicador aumentaria e permitiria uma folga maior.
Evidentemente, isso não será possível em 2021 e as franquias e a própria direção da liga precisam de alternativas para lidar com seus contratos. A NFL não apresentará a rigidez típica a ponto de cortar vínculos quando uma equipe ultrapassar o salary cap, embora seja esperado que os próprios times renegociem os valores de seus jogadores menos importantes para evitar maiores problemas financeiros; afinal, ainda que auxílios sejam enviados e uma maior flexibilidade no teto salarial seja permitida, os times sofrerão grandes prejuízos econômicos e reduzir a folha salarial é essencial para evitar uma crise prolongada.
Como o Acordo Coletivo Trabalhista da liga (CBA) permite uma renegociação dos vínculos com os jogadores em momentos de pandemias, é necessário que as franquias conversem com seus atletas para realizar as necessárias reduções salariais – obviamente, em valores justos para que ninguém saia prejudicado. Também é interessante que as equipes mudem as estratégias contratuais de seus principais nomes, pois a continua elevação do teto salarial levou a estratégia front load (contratos com maior valor garantido no início da extensão) a ser a mais utilizada; enquanto, com a crise, é mais interessante jogar o dinheiro garantido para o final do contrato, pois as “dívidas” da franquia serão postergadas para o período no qual as receitas voltarão a pingar nas contas do clube.
A consequência para os jogadores
Vamos ser honestos: jogadores que não são essenciais para seus times não receberão as extensões contratuais que desejam. Utilizando de um exemplo recente, Dalvin Cook anunciou que não entrará em campo na próxima temporada se não receber um novo vínculo por parte do Minnesota Vikings; diante de todo o cenário elucidado, faz sentido para a franquia de Minneapolis quebrar a banca por um running back que atuou em 60% das partidas e só provou seu valor na última temporada?
Franquias como Dallas Cowboys, Houston Texans e Kansas City Chiefs que oferecerão contratos multimilionários para Dak Prescott, Deshaun Watson e Patrick Mahomes, respectivamente, estarão de mãos atadas com o restante de seu elenco. As equipes lutarão e se endividarão para manter nomes que possuem nível de All-Pro, porém, oferecerão uma redução salarial para os atletas menos importantes. O custo de oportunidade de manter um running back, nesse caso, fica ainda maior, pois as limitações financeiras das equipes se elevaram.
Reitero que, a partir de 2022, devemos ver um retorno do crescimento das receitas da NFL e, com isso, os salários poderão ser reacordados. Até lá, a incerteza acerca da situação econômica continuará sendo um limitante em virtude da permanência do COVID-19 na sociedade, mesmo com todas as tentativas do governo americano de injetar liquidez para manter a economia do país girando rapidamente.
Dado isso, os jogadores possuirão um grande tradeoff em mãos: deixar de ganhar o contrato que desejam ou brigar pelos valores almejados e arriscar perder o emprego caso sua posição dentro do clube não seja fundamental. Dalvin Cook é apenas um exemplo, mas inúmeros casos surgirão no futuro próximo. A NFL está em uma cilada financeira e só uma cooperação mútua pode levar todos os lados a se reerguerem perante a redução do salary cap, colocando uma grande bomba em detonação nas mãos de Roger Goodell.
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