O melhor jogador dos Patriots por um dia

Jonas Gray apareceu do nada, alcançou 201 jardas terrestres para New England num só jogo e, então, desapareceu novamente. O que aconteceu?

Imagine o seguinte cenário: você é um jogador não-draftado e totalmente desconhecido pelos fãs da liga em geral. De repente, você é promovido pelo New England Patriots para o elenco principal da equipe e recebe a chance de se provar em horário nobre contra uma das melhores equipes da liga. Sua exibição é tão boa que você vence o jogo quase que sozinho, e então você some pra sempre dos radares da NFL.

Pode parecer um cenário confuso, mas aconteceu em 2014 com o time de Bill Belichick, justamente o ano em que a equipe venceria seu quarto Super Bowl. Jonas Gray mostrou seu cartão de visitas num Sunday Night Football numa partida incrível contra o Indianapolis Colts, mas um simples erro na semana seguinte fez com que o treinador dos Patriots nunca mais desse grandes oportunidades ao running back.

Rumo ao estrelato

Produto de Notre Dame, Gray nunca foi um grande jogador pela universidade, e uma lesão grave no joelho em seu último ano de College Football não lhe ajudou em nada no processo pré-Draft. Depois de assinar com o Miami Dolphins e passar também pelo Baltimore Ravens, sem muito sucesso nas duas equipes, ele se juntou aos Patriots em janeiro de 2014. Após começar aquela temporada no practice squad, o corredor foi promovido ao elenco principal no mês de outubro depois da lesão de Stevan Ridley.

Gray era surpreendentemente rápido para um running back com 104kg, e nos seus três primeiros jogos, ele acumulou 131 jardas em 32 carregadas. Para o jogo contra os Colts, Bill Belichick sabia que os donos da casa não teriam Arthur Jones, o melhor defensor contra a corrida de Indianapolis, disponível. Dessa forma, o treinador dos Patriots moldou o plano de jogo buscando abusar dessa fraqueza: um jogador de linha ofensiva a mais em quase todas as jogadas e a maioria das carregadas para Gray.

Nem em conto de fadas isso daria tão certo. ‘A maioria’ se transformou em, bem, praticamente todas. Jonas acumulou 37 carregadas e aproveitou-as ao máximo: 201 jardas e 4 touchdowns naquela noite. De acordo com estatísticas da ESPN relativas ao Fantasy, somente 1,3% das equipes tinham Gray ativos naquela semana; no jogo seguinte, contra o Detroit Lions, 32,9% das pessoas tinham-no na lineup titular. E ele não participou de um snap sequer.

Carregador de celular fez Gray perder horário e cair em desgraça

Depois de explodir em horário nobre, todo mundo achava que Jonas Gray se transformaria numa estrela dos Patriots, que, como sabemos, é um dos melhores da liga em encontrar valor.

O que também sabemos é que Bill Belichick é totalmente impiedoso quando o assunto é disciplina. Na cultura de New England, nenhum indivíduo é maior que a equipe como um todo – Tom Brady certamente sabe disso. Na semana seguinte ao desempenho contra os Colts, os Patriots tinham um encontro de equipe marcado para as 07h30 da manhã na sexta-feira.

Gray ficou até tarde da noite assistindo game film e deixou seu celular carregando a bateria enquanto dormia – exceto que o carregador não estava totalmente conectado na tomada. A bateria do celular acabou durante a madrugada e o running back só acordou 08h30 daquela manhã de sexta-feira. Uma conhecida regra de Bill Belichick é que “se você se atrasa por um minuto num determinado dia, você não treina naquele dia”.

Um artigo da ESPN relata que Gray foi comunicado para não aparecer no centro de treinamento naquele dia até Kevin Anderson, um funcionário do time, dissesse para que ele o fizesse. Desesperado, o running back mandou várias mensagens até decidir aparecer no Gillette Stadium no fim daquela tarde, onde ele encontrou Belichick e explicou a situação. Segundo o artigo, Belichick repetidamente disse apenas que “aquilo não pode acontecer”.

Dois dias depois, no jogo contra o Detroit Lions, Jonas Gray não recebeu um snap sequer; contra o Green Bay Packers, na semana seguinte, apenas uma carregada; duas contra o San Diego Chargers no outro domingo. Contra os Dolphins, na semana 15, ele até teve bom desempenho, com 11 carregadas, 62 jardas e 1 touchdown, porém, aquela seria a última participação notável de Gray na liga: ele não foi ativado para vários dos jogos seguintes dos Patriots naquela temporada, incluindo o Super Bowl XLIX, e seria dispensado no ano seguinte.

As passagens subsequentes por Dolphins e Jacksonville Jaguars também não tiveram sucesso e ele nunca mais foi contratado por uma equipe da NFL. Foi um erro honesto, é claro, mas que serve como prova de que Bill Belichick é totalmente rigoroso quando o assunto é disciplina.

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