Este trecho é parte da coluna 4 descidas, escrita por Antony Curti. Você pode encontrar a coluna completa clicando aqui.
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8. Esse é o número mágico que permeia esse texto. Já são 8 anos desde que um running back ganhou o prêmio de MVP da liga pela última vez (Adrian Peterson, 2012) e Derrick Henry se tornou no domingo o 8º running back a ultrapassar a marca de 2000 jardas terrestres numa mesma temporada regular.
Voltando ao título do texto, recebi essa pergunta em uma live no meu YouTube e respondi: no mínimo, correr para 2000 jardas. Pois bem, Derrick Henry correu para 2000 jardas e não deve ser o MVP nesta temporada. A situação é um grande testemunho ao desprestígio da posição de running back nos últimos 10 anos e da máxima de que a NFL é uma liga de quarterbacks. Não é como se fato semelhante não tivesse acontecido também em outros esportes: na Era do Garrafão no basquete, o pivô era a estrela. Hoje, dificilmente você verá um jogador da posição sendo eleito como jogador mais valioso da liga – o mesmo se aplica aos running backs na NFL.
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Se a linha dos três pontos e seu maior uso revolucionou o basquete, o mesmo pode ser dito do jogo aéreo com a formação shotgun e mais recebedores abertos que vimos dos perfeitos Patriots de 2007 em diante. Como dito, é uma liga de quarterbacks. A marca para isso costuma ser 2011, quando tivemos uma cacetada de passadores rompendo a barreira das 5000 jardas (Drew Brees, Tom Brady e Matthew Stafford). O ano é conhecido como “O Ano do Quarterback”.
Mais jardas terrestres numa temporada – Ganhou o MVP?
1984, Eric Dickerson 2,105: Não <<
2012 Adrian Peterson 2,097 Sim
2003 Jamal Lewis 2,066 Não
1997 Barry Sanders 2,053 Sim, co-MVP
2020 Derrick Henry 2,027 ?
1998 Terrell Davis 2,008 Sim
2009 Chris Johnson 2,006 Não
1973 O.J. Simpson 2,003 Sim
> Eleito foi Dan Marino, com 48 passes para touchdown, mesma marca de Aaron Rodgers neste ano.
Curioso notar que estendendo a margem de erro do “ano do quarterback” para 2012, tivemos quatro running backs passando das 2000 jardas que foram eleitos MVPs se considerada a era moderna da NFL (1970-presente). É a metade. Também curioso notar a coincidência com 1984, guardadas as proporções que hoje é muito mais fácil chegar a 48 touchdowns e muito mais difícil chegar às 2000 jardas corridas – quando era o oposto naquele ano orweliano. Acho que essa frase, inclusive, resume as coisas. Se um quarterback tiver um ano minimamente acima da média, fica muito difícil que um running back seja eleito o MVP. Acho que a conclusão que temos é essa. Nos anos acima em que o running back do clube das 2000 jardas não foi eleito, acabou justamente sendo o caso, com Marino em 1984, McNair/Manning em 2003 e Manning novamente em 2009.
A ascensão da spread offense no college – e sua subsequente evolução para o nível profissional – mudou a forma com que os ataques do futebol americano são desenhados e, honestamente, parece improvável que esse cenário sofra uma reversão no curto/médio prazo. Hoje, o passe é bem mais valorizado que a corrida, e a NFL como entidade sabe disso, vide as tantas regras para favorecer a segurança do quarterback. Consequentemente, isso reflete também no prêmio de jogador mais valioso.
Henry certamente teve um grande ano: 10 partidas superando as 100 jardas terrestres, 5,4 jardas por carregada, 17 touchdowns. São números bem comparáveis à temporada de Peterson em 2012, quando ele de fato liderou o Minnesota Vikings aos playoffs naquele ano. No caso do Tennessee Titans, a produção de Henry decolou quando Ryan Tannehill assumiu a titularidade na semana 7 de 2019, ou seja, mais uma prova da importância de um jogo aéreo eficiente para que o jogo terrestre possa ter sucesso.
É uma pena que o feito de Derrick Henry não seja mais imortalizado com o MVP. Claro, eu posso estar errado e ele acabar sendo eleito – o que seria bacana, como dito. Mas é um Espírito da Arte da National Football League que, provavelmente, esse não seja o caso.
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