O que são os “void years” da NFL?

Artifício usado para amenizar os impactos de contratos ganhou notoriedade com a queda do teto salarial em decorrência da pandemia, especialmente com a "extensão" de contratos de quarterbacks.

Além dos cortes de jogadores, não foi pequeno o número de contratos que passaram por reestruturação nas últimas semanas enquanto as equipes tentavam se adequar ao teto salarial. A queda de aproximadamente 16 milhões no limite de gastos foi ocasionada pela diminuição de receitas por conta da pandemia de COVID-19, que impediu que os times pudessem arrecadar com a venda de ingressos.

Algumas equipes apelaram para um método curioso que era usado com maior frequência por Eagles e Saints antes de 2021: estender contratos com voidable years, ou seja, anos de contrato que se anulam automaticamente. Alguns jogadores que assinaram extensões com esse mecanismo nos últimos dias foram Taysom Hill, Tom Brady e Ben Roethlisberger. Se você ficou confuso com o significado desses acordos, vem com a gente.

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A utilização desse mecanismo é bastante simples: em uma determinada data – quase sempre o primeiro dia do ano fiscal da NFL, o mesmo que abre a free agency -, o restante do contrato se anula automaticamente e o jogador fica disponível para assinar com qualquer equipe. Se você leu isso e se perguntou “ué, então por que os times simplesmente não assinam os contratos mais curtos?”, a resposta está ligada aos bônus de assinatura de um contrato e no impacto que um determinado acordo tem na folha salarial.

Ao adicionar bônus de assinatura num contrato, a principal vantagem deste é que o impacto na folha salarial pode ser dividido igualmente ao longo dos anos, embora os times paguem-no quase que instantaneamente aos jogadores. Como o Deivis definiu bem, é quase um cartão de crédito: compra agora, pague depois.

A prática comum a partir daí pra times que estão apertados na folha salarial é transformar o salário base em bônus de assinatura na reestruturação de contratos. O jogador não perde dinheiro com essa mudança, mas a equipe ganha flexibilidade para fazer movimentos. Nem sempre que um time reestrutura o contrato ele adiciona mais anos que se anulam automaticamente – os Eagles, por exemplo, costumavam transformar em bônus de assinatura e apenas empurrar o impacto no cap pra frente, resultando na péssima situação financeira da franquia em 2021.

Pra darmos um exemplo de como isso funciona, vamos usar a extensão que enlouqueceu a internet no domingo:

Os Saints estavam desesperados com a situação financeira da equipe e remodelaram o contrato de Taysom Hill para abrir espaço na folha salarial. Mas eles também estenderam o contrato de Hill por 4 anos e 140 milhões de dólares com todos esses anuláveis. Ou seja: New Orleans podia ter colocado 4 anos e 200 milhões de dólares e não ia mudar absolutamente nada porque o contrato será anulado no ano que vem. Sean Payton e Mickey Loomis estavam apenas se sentindo engraçadinhos.

Os 140 milhões de dólares não tem qualquer importância ali, mas os 4 anos sim. É que, dessa forma, eles podiam dividir o bônus de assinatura do jogador nos anos seguintes, com os mais de 7,5 milhões de dólares liberados no cap divididos pelos próximos 4 anos – 1,93M a cada temporada.

Brady fez basicamente o mesmo, Roethlisberger também em sua mais recente reestruturação. Esse mecanismo se tornou comum para equipes com o teto salarial abaixando em decorrência da pandemia, especialmente porque vários contratos haviam sido negociados sob a expectativa que o cap continuasse crescendo e agora precisam correr contra o tempo. Voidable years, no fim das contas, não é tão um conceito tão difícil assim de entender, não é mesmo?

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