Curti: Escolha de Atlanta é a ignição para o efeito dominó do caos no Draft

Falcons têm a quarta escolha geral do Draft e ela pode valorizar muito pela lei da oferta e demanda. A oferta pode ser a possibilidade de escolher Justin Fields; A demanda? Vários times que precisam de quarterback

Com o San Francisco 49ers apertando o gatilho e subindo para a terceira escolha geral, a possibilidade da equipe da NFC West conseguir o quarterback que quer é imensa. Com Trevor Lawrence virtualmente sendo uma certeza na primeira escolha geral para Jacksonville e os rumores de Zach Wilson no New York Jets serem ventilados para todo lugar, San Francisco tem a possibilidade de escolher Mac Jones ou Justin Fields – os dois mais cotados segundo a maior parte dos insiders americanos.

Como efeito, assim que San Francisco escolher, a fila roda. Em rodando, chega a vez do Atlanta Falcons, dono da quarta escolha geral do Draft. Seja quem for o quarterback da #3 para os 49ers – que subiram por um quarterback, sem sombra de dúvidas – restamos à conclusão que ainda haverá dois quarterbacks disponíveis. Uma combinação de Mac Jones/Trey Lance ou Justin Fields/Trey Lance é o mais possível, dado que Lance é um diamante cru e na maior parte dos Drafts Simulados aparece disponível ao final do top 5.

Dois quarterbacks, a oferta

Para este texto, utilizaremos mais ou menos de leis da microeconomia. Em resumo com “tradução livre”, quando a oferta é qualificada e baixa e a demanda é alta, o preço de um dado produto tende a subir. Aqui, temos menos quarterbacks para times com fome de quarterbacks. São dois nomes disponíveis na #4 e 28 times ainda a escolher na primeira rodada. Antes de mais nada, sejam quem forem esses dois, eles fazem parte dos quarterbacks “de primeira rodada”.

A diferença de qualidade desse grupo – i.e. Lawrence, Fields, Wilson, Lance e Jones – para as demais prateleiras é gigantesca. Kyle Trask de Florida, altamente cotado para ser o sexto quarterback do Draft, passa longe de ser um prospecto de primeira rodada – tendo problemas na mecânica, colocação de bola e a preocupação de ser um gigantesco produto dos sistema dos Gators em 2020.

Muitos times querendo quarterback, a demanda

É possível listar pelo menos cinco times com demanda por quarterback neste Draft. Seja demanda de curto ou médio prazo, temos New England, Denver, Pittsburgh, Chicago, New Orleans e Washington como reais possibilidades de subida por um quarterback. A lista pode chegar a sete times caso você acredite nos rumores de que Philadelphia poderia voltar para o top 10 por um quarterback. No caso, desconsideramos o Carolina Panthers porque a equipe, segundo Adam Schefter, deve ativar a opção contratual de Sam Darnold – o que lhe prende ao quarterback pelas próximas duas temporadas.

Dois quarterbacks, seis times. É só fazer a conta: o preço vai subir. Quem é o vendedor aqui? Atlanta.

Agora, resta a questão: trocar ou não?

Esse é o gatilho para um efeito dominó no Draft. Primeiro de tudo, vamos endereçar a questão: “ué, mas Atlanta não poderia pegar um quarterback?”. Claro que não dá para descartar isso, como qualquer coisa em se tratando de Draft. Não é como se Jordan Love nos Packers no ano passado fosse uma coisa que concordássemos, por exemplo, mas aconteceu. A questão aqui é que os Falcons acabaram de reestruturar o contrato de Matt Ryan, “rolando” dinheiro garantido para os próximos anos. Se Ryan for cortado/trocado HOJE, em 2021, Atlanta tem 70 milhões de dinheiro preso no teto. Em 2022? 40 milhões. Fica completamente impraticável.

Ao mesmo tempo, venhamos e convenhamos: não faz sentido do ponto de vista contábil. Ainda, nesse interim, você draftaria um quarterback de primeira rodada para deixá-lo dois anos no banco enquanto Matt Ryan ainda tem gasolina no tanque e há outros mil buracos no elenco de Atlanta? No máximo, considero a possibilidade de Trey Lance – por ele ser um diamante precisando de lapidação – mas sinceramente não vejo muito sentido. Ainda mais no “lucro” que os Falcons teriam/terão ao vender essa escolha para um time sedento por quarterback. Caso ainda assim não queiram trocar – no ano passado, Detroit não quis e foi no cornerback Jeff Okudah. Atlanta poderia fazer o mesmo com Kyle Pitts – tornando o ataque do novo treinador Arthur Smith uma máquina potente, com Ryan, Pitts, Calvin Ridley e Julio Jones.

Um cenário de bastante lucro para Atlanta, porém, seria a troca para baixo. Além de acumular escolhas, poderia tentar negócio com Denver e New England – o que ajudaria a equipe da Georgia. Explico; Denver tem a nona escolha geral do Draft. New England tem a décima-quinta. As duas estão na “zona de alcance” dos principais cornerbacks do Draft – Patrick Surtain Jr, Jaycee Horn, Caleb Farley – e a posição é uma necessidade para Atlanta. Caso os Falcons façam negócio com alguém do final da primeira rodada, sem problemas também. Seja New Orleans, Chicago, Washington ou Pittsburgh, esses times têm escolhas na “zona de alcance” de EDGEs deste Draft.

Obviamente não é uma escolha fácil. Vai gerar uma repercussão pelos próximos anos nos Falcons, ainda mais se Tom Brady aposentar ao final desta temporada e a corrida pela NFC South ficar aberta em 2022.

E se Atlanta não trocar, o que acontece?

Aí o bicho pega e idem em cenário menos caótico caso Atlanta escolha Trey Lance ou outro quarterback e sobre apenas um de “primeira rodada”. Cincinnati tem a quinta escolha geral e obviamente não quer um quarterback, dado que acertou em cheio com Joe Burrow no ano passado. Ao mesmo tempo, o time pode querer muito uma proteção a ele em Penei Sewell, melhor offensive tackle do Draft. Ou então reforçar o corpo de recebedores com Ja’Marr Chase – ideia que não gosto muito, dado que sem proteção fica difícil a vida, mas enfim. Depois, temos Miami, que subiu da 12 para a 6 após a troca com San Francisco. Os Dolphins certamente estão ali por uma arma ofensiva, seja Chase ou Kyle Pitts. A bola da vez vira a sétima escolha geral, com Detroit.

Os Lions não precisam de quarterback de imediato – Jared Goff – e estão em reestrururação. Assim, mais escolhas viriam a calhar. Para Denver, esse cenário de Atlanta e Cincinnati não trocando seria maravilhoso. O gasto para sair da nona escolha para a sétima seria bem menor do que da nona para a quarta. New England, na décima-quinta, também estaria lambendo os beiços.

Seja como for, creio que tenha dado para perceber como a escolha de Atlanta é o “botão de ignição” do Draft 2021, dados os três quarterbacks que devem ser escolhidos antes e a sede de muitos times por outro quarterback sendo escolhido depois. Quando o dominó cair – com escolha de jogador, um quarterback ou troca – a coisa vai ficar bem legal na noite do dia 29.

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