De pé, num canto, Richard Sherman arrumava suas coisas no vestiário. Não falaria com nenhum repórter naquela dia, como fora de praxe ao longo de toda a semana da final da Conferência Nacional. Apenas coletivas, nada de papo ali. Vez ou outra, um companheiro de defesa passava e dava um tapinha em seu ombro. Nitidamente, era um líder do vestiário do San Francisco 49ers e uma peça fundamental na defesa de Robert Saleh.
Dois anos depois, Sherman não tem nenhum vestiário para ser líder. Não tem um time para chamar de seu. Há especulações, claro. Conforme publiquei na coluna Radar de ontem, o New Orleans Saints é um time cogitado para o cornerback. Faria sentido por um lado, dado que o time perdeu Janoris Jenkins na free agency. Por outro, como falarei adiante, não tem pé nem cabeça se a ideia é colocá-lo em sua posição de origem.
In the Zone
Sherman, desde os tempos de Seattle Seahawks, é um cornerback típico da marcação em zona. Inteligente e instintivo, o camisa 25 brilha quando tem que patrulhar um lado do campo em específico – ou um terço do campo, como as muitas vezes que Seattle e San Francisco chamaram o Cover 3. Ele não conta com velocidade final ou agilidade para espelhar as rotas como um Jalen Ramsey ou um Darrelle Revis no auge. Mesmo recém-chegado de Stanford via Draft, a marcação homem-a-homem não era o forte de Sherman e tampouco a base da defesa de Seattle.
A menos que a defesa do New Orleans Saints sofra uma total e completa reformulação tática para 2021, não faz nenhum sentido contratar o ex-49ers. Os Saints rodaram marcação em zona em apenas 39,6%, a segunda defesa que menos usou o expediente na temporada passada. Embora o leitor possa pensar numa alternativa, como Sherman jogando de safety, a transição não é tão simples assim.
Ademais, os times que mais rodam marcação em zona já têm cornerbacks para chamar de seus – investiram recentemente na posição, seja pela Free Agency ou Draft. Alguns exemplos são Carolina, New York Giants e Cleveland. Sobra o terceiro time que mais rodou zona em 2020, o Seattle Seahawks. Já falo mais sobre.
Safety?
Um dos principais problemas de Sherman no ano passado foi ser queimado em momentos-chave – sem contar as lesões que vem acumulando nas últimas temporadas. Além de ter perdido velocidade nos últimos anos por conta da idade, tacklear foi algo complicado. Ele teve 41,3 de nota no ProFootballFocus quando o assunto foram tackles – ranking bem abaixo da média. Os outros quesitos, como cobertura ao passe, também declinaram em relação ao ano anterior.
Contar com Sherman patrulhando o fundo do campo, por mais que haja a virtude da experiência e da mais absoluta e virtuosa inteligência defensiva, é temerário e um senhor risco considerando o declínio na habilidade física – seja em tacklear, seja em ter velocidade para o alcance necessário da posição.
Final próximo?
Considerando que Sherman tem como encaixe necessário e possível num time com doses cavalares de marcação em zona, meio que sobra o Seattle Seahawks como alternativa válida. Mas com um senhor desconto no contrato, dado que a equipe tem apenas 5 milhões de dólares disponível na folha salarial. Esse é outro problema, aliás, para Sherman nessa luta contra o desemprego às vésperas do training camp: a folha salarial de 2020 está apertada, dado que o teto salarial diminuiu em relação ao ano passado.
O outro problema é que… Bem, a saída de Sherman não foi das mais amistosas. Voltar para o Seattle Seahawks não seria tão simples assim – até porque a tendência é que o time invista nos jovens que lá estão e o time acabou de trazer Ahkello Whiterspoon, ex-companheiro de Sherman em San Francisco e com experiência no sistema de zona.
Seja lá, seja em qualquer outro lugar, Sherman vai precisar dar um senhor desconto no contrato. Ele nem de perto é o mesmo cornerback de outrora e os times estão apertados. Sendo assim, temos três possibilidades – descontando o rumor de New Orleans, que taticamente não parece fazer muito sentido considerando a manuteção integral da comissão técnica de 2020. Seattle, Dallas e Buffalo. Os Cowboys fazem sentido pela chegada de Dan Quinn, ex-coordenador de Sherman em Seattle e alguém que ama rodar marcação em zona. Os Bills, por conta de Levi Wallace não ser nenhuma unanimidade e o time rodar até que bastante a marcação em zona.
No final das contas, sendo muito honesto, não sei se vejo Sherman num time nesta temporada. Seu declínio foi vertiginoso no ano passado e não parece haver muita demanda pela posição por conta do Draft e da Free Agency já terem passado e pelo cap estar menor. Isso sem contar um dos principais problemas: as lesões. Sherman teve uma lesão crônica na panturrilha nos últimos anos e em 2019 também sofreu com lesão no posterior da coxa. É uma pena, porque é um dos grandes da posição na última década. Mas como tantos ciclos, eis mais um que parece ter chegado ao fim na NFL.
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