Em julho de 2010, um movimento esportivo inédito tomou conta da televisão americana. LeBron James fez um programa especial na ESPN chamado “The Decision” em que revelou qual seu próximo time na NBA – na época, trocando o Cleveland Cavaliers pelo Miami Heat. Parece pouco, mas esse foi o ato base que instaurou uma nova era em relação ao poder dos jogadores na liga de basquete.
A escolha de LeBron envolvia não apenas uma troca de uniforme. Estávamos vendo o melhor atleta de sua geração deixando dinheiro e o time que o selecionou de lado para atuar pela equipe que desejava. Desde então, o que as franquias ofereciam importava menos: os jogadores começavam a comandar. A cada ano que passa, vemos mais atletas “comuns” com contratos enormes e recheados de opções em seus vínculos para decidirem se desejam ou não continuar no time.
Na NFL isso foi pouco comum durante muito tempo. Com raríssimas exceções, os jogadores possuíam poder de barganha quase nulo com as diretorias das equipes, o que resultava em contratos com média salarial baixa e pouco dinheiro garantido. Nos últimos anos, esse último ponto começou a tomar outro rumo, mas ainda faltava o passo adiante, aquela “decisão” que seria a faísca para uma mudança de postura na relação entre atletas e franquia.
Na intertemporada de 2021, essa transformação veio em dose dupla.
Rodgers, Watson: início de uma nova era?
Logo no início desta offseason, vimos o primeiro ato inesperado que pode ser o indício de novos ventos na NFL. Deshaun Watson pediu para ser trocado do Houston Texans, pois não concordava com os rumos que a franquia estava tomando, julgando que poderia ser prejudicial ao seu futuro. Poderia parecer uma atitude comum, só que Watson tinha acabado de assinar uma renovação contratual que o manteria em Houston até, pelo menos, 2025.
Um dos melhores e mais talentosos quarterbacks da liga, Watson era a cara da franquia e o nome que faria o torcedor sonhar pelo sucesso. Claro, as acusações de assédio mudaram tudo – e são mais importantes do que qualquer fator dentro de campo; no entanto, os rumores de troca reacenderam nos últimos dias e as informações são de que a franquia está ouvindo ligações de outros times sobre possíveis negociações. Mesmo estando sob contrato por muito tempo e sendo peça crucial do time, ele conseguiu o que queria.
Watson não é a única e nem a principal peça desta narrativa. A história de Aaron Rodgers nessas últimas semanas foi emblemática, com capítulos dignos de novela que podem mudar para sempre como o desenrolar será dado entre atletas e franquias. Ele voltou para o Wisconsin, mas não sem antes conseguir tudo o que queria e mais um pouco: obteve as concessões desejadas no contrato, trouxe seu amigo (Randall Cobb) de volta e, ainda por cima, jogou isso na cara da diretoria em uma entrevista coletiva.
Em suma, Rodgers falou: “vou jogar 100% esse ano, mas quem manda no meu futuro sou eu, não importa o que está no contrato“. Isso não é apenas um debate por um novo vínculo, é uma nova forma de levar as relações. Não estamos falando qual lado está certo, mas é inegável que aqui podemos estar tendo uma mudança de ares que só será percebida em alguns anos. No entanto, ela pode se dar somente em uma posição.





