Quatro Descidas é a coluna semanal de Antony Curti sobre a NFL, publicada todas as segundas. São quatro assuntos de atualidades da liga. Para ler o índice completo da coluna, clique aqui.
1st and 10: Pão e Circo
Em 271 – ou 272 – A.C., supostamente aconteceu uma revolta na Dalmácia que foi um tanto quanto rápida e ineficaz. Seu líder, que usurpou o poder de Roma, chamava-se Urbanus – ou, em tradução para o inglês, Urban. Ninguém sabe ao certo o ano ou mesmo se isso aconteceu.
O que sabemos que aconteceu foi a política do Pão e Circo pelo homônimo moderno de Urbanus. Aos 34 anos, Tim Tebow foi contratado para ser tight end do Jacksonville Jaguars. Algo que não faria muito sentido levando em conta que fora o físico para a posição e um training camp anterior como tight end… Bem, ele não tinha nenhum histórico na posição. Com uma idade um tanto quanto avançada para aprender uma posição no futebol americano, a chance disso dar certa era minúscula.
Na época da contratação, levantei os potenciais motivos para tanto. Não faria muito sentido do ponto de vista “dentro de campo”, por mais que o time tivesse uma carência na posição. Fora de campo, porém, motivos eram mil. Tebow é uma das personalidades mais populares do norte da Flórida. Ele foi quarterback nos Gators e Jacksonville não fica tão longe do campus da universidade.
Não surpreende que a camisa mais vendida da NFL em maio foi de Trevor Lawrence. Primeira escolha geral do Draft e grande esperança do futuro dos Jaguars, o torcedor abraç… Opa, tem algo errado aqui. A camisa mais vendida da NFL inteira naquele mês foi de Tim Tebow: um ex-jogador em atividade numa posição em que ele praticamente não tinha experiência alguma e que estava jogando beisebol de segunda divisão[foot]Fiz essa referência para que o leitor não aprofundado na MLB entenda o conceito das Minors, grosso modo[/foot] nos últimos anos.
Veja, nada contra Tebow, a quem percebo ser uma personalidade muito querida e carismática. Sei que o leitor pode gostar bastante dele e possivelmente sentir-se ofendido com o que escrevi no parágrafo anterior, mas a verdade é que disse apenas fatos, não emiti opinião. A opinião vem no setor seguinte.
2nd and 7: Logan
Não, a referência não é para o Wolverine. Logan Thomas foi draftado na quarta rodada do Draft de 2014 após carreira até que sólida em Virginia Tech como quarterback. Ele chegou a ter nove tentativas de passe por Arizona na temporada de calouro, completando apenas um passe.
Sem espaço como quarterback a nível profissional, Thomas fez a transição para tight end em 2016. Seu primeiro ano com números decentes na posição foi em 2018, jogando pelo Buffalo Bills. Para ter números que importassem dentro de campo, quatro anos – praticamente uma carreira de college football.
Em 2020, Logan Thomas é um sólido tight end. Para mim, um dos jogadores mais subestimados da posição, aliás. No ano passado, ele teve 670 jardas recebidas – sétimo da posição e na frente de caras que jogaram de TE no college, como Evan Engram e Hunter Henry. Principal peça da posição no Washington Football Team, Thomas ainda somou seis touchdowns recebidos no ano passado, nona melhor marca entre os tight ends.
Ou seja: não é como se desse para virar tight end do dia para a noite e menos ainda numa idade tão avançada. Como comparação, Greg Olsen tem 36 anos, foi um dos melhores da posição na década passada e acabou de aposentar. Tebow tem apenas dois anos a menos. Dentro de campo, a tendência disso dar certo era minúscula.
3rd and 4: Por que o circo era grave
A situação como um todo foi exposta como absurdo neste final de semana. Se Tebow apenas entrasse em campo uma vez ou outra – mesmo na pré-temporada – e não comprometesse, tudo certo. Afinal, o marketing que sua presença gerou poderia acabar compensando. Sem contar o fator “parça do vestiário”.
Meyer é um cara de grupo. Você não é tão vitorioso no college football como ele foi sem ter total comando no vestiário. A ideia para mim era clara.
i) Vender camisa e carnê de ingressos da temporada à rodo com Tebow estando no elenco e numa época de “baixa” nessas vendas, que é maio-junho
ii) Tirar totalmente a atenção e empolgação de Trevor Lawrence para que ele se desenvolva “em paz” neste primeiro ano, ainda mais com a linha ofensiva questionável que o time tem
iii) Ter no vestiário, em Tebow, um cara da confiança de Meyer[foot]Novamente lembrando, ambos foram campeões juntos no College Football pelo Florida Gators[/foot]
Só que ficou feio demais.
Honestly, the Tebow block that went viral wasn’t even his worst block of the night. This was *the very next play* pic.twitter.com/tINWyJpWSE
— Chris Paul Towers (@CTowersCBS) August 16, 2021
Não sei nem por onde começar e o pior é que essa não foi nem a única e nem a pior jogada de Tebow na partida de pré-temporada deste final de semana contra o Cleveland Browns. O bloqueio é totalmente sem técnica, a jogada é falha muito por conta dele e depois do ato, fica nítido como Tebow está perdido, meio que tentando digerir onde está e na situação em que se encontra.
Sinceramente, fiquei com pena. Tebow não precisava passar por isso, é um cara extremamente popular. Seu contrato não era garantido, então a situação não foi das melhores para ele – que ganhou enquanto esteve no time mas que passará longe de somar a cifra de 920 mil dólares do contrato para 2021.
Sei que pode haver o argumento de que “era apenas um jogo de pré-temporada” e que seria injusto julgá-lo por conta disso. Entendo o argumento e respeito, mas o próprio Jacksonville Jaguars lhe julgou. Lona no chão, circo desmontado: Tebow foi[foot]via Adam Schefter[/foot] cortado na manhã desde dia 17. A questão é que mesmo sendo apenas um jogo ou qualquer coisa do gênero, os bloqueios foram tão ineptos e sem técnica que passaram e muito do aceitável. Seria o equivalente a um running back ter quatro fumbles na pré-temporada ou um quarterback ter cinco interceptações.
Para o azar de Tebow, ele já cumpriu sua função social em Jacksonville. Já vendeu camisa, já ajudou a vender carnê de ingressos a torcedores que de maneira ingênua compraram a ideia de que veriam seu ídolo no segundo semestre num estádio de futebol americano. Os Jaguars usaram Tebow e agora, bem antes do final da pré-temporada – ainda faltam dois jogos, lembrando – o corte veio.
Uma pena. Ele não precisava ter passado por isso. É um cara batalhador, com uma excelente ética profissional. Mas infelizmente, excedeu o limite da sua competência como jogador de futebol americano.
Deve ser o último capítulo da Tebowmania. Draftado na primeira rodada de 2010 pelo Denver Broncos, Tebow teve lampejos em algumas partidas como quarterback e assim que pode, o time foi atrás de um quarterback de verdade em Peyton Manning. Tebow acabou virando máquina de notícias e marketing na pré-temporada, tendo vendido muitas camisas dos Jets, dos Patriots e agora dos Jaguars.
4th and 2: Os Jovens Quarterbacks da Pré-Temporada
Rapidamente, algunas notas sobre alguns jovens – calouros ou não – na primeira semana da pré-temporada da NFL.
Trevor Lawrence, Jaguars: Quando foi protegido, foi muito bem – antecipando os lançamentos, trabalhando bem passes curtos e médios. O problema é que essa proteção foi rara: jogo terrível da linha ofensiva de Jacksonville, que pode dar problemas ao time no desenvolvimento da primeira escolha geral do Draft.
Justin Fields, Bears: Brilhou contra a terceira defesa de Miami, mas teve problemas – em parte causados por sua linha ofensiva – no início da partida. Para além de ser contra a primeira, segunda ou terceira defesa dos Dolphins, Fields mostrou boas coisas naquilo que depende só dele, como progressão de recebedores, passe em movimento e voltar do intervalo mais motivado e sem ter quebrado mentalmente após um início ruim.
Trey Lance, 49ers: Uma casquinha de chocolate e baunilha do McDonald’s – considerando que você goste de um sabor e desgoste do outro, como é meu caso. Lance teve um passe maravilhoso para Trent Sherfield, em que operou com primor o play-action e com a força do braço, cobriu a marcação. Mas foram dois passes quase interceptados. Sua linha ofensiva não ajudou, com quatro sacks, mas ficou claro que ainda há dores de crescimento para o calouro de San Francisco – cujo futuro parece brilhante, frisemos.
Jordan Love, Packers: Não empolgou mas passou longe de comprometer. Teve alguns passes em média distância que gostei muito, como uma rota go para Jace Sternberger, tight end terceiranista do time que acabou não vingando ainda. De toda forma, algumas decisões mostraram que ainda está amadurecendo nas leituras da defesa. Bom sinal como um todo, porém.
Mac Jones, Patriots: Gostei muito do que vi na quinta passada, com Jones operando o sistema de Josh McDaniels com muito conforto. Entramos no Draft com a impressão de que Jones tinha teto de Alex Smith em seus melhores dias, mas ao vê-lo em campo no Gillette Stadium saí com a boa impressão de cosplay de Chad Pennington, quarterback de Jets e Dolphins nos anos 2000. Cerebral e preciso à curta distância, Pennington foi um único quarterback não-chamado Josh Allen ou Tom Brady a vencer a AFC East neste século.
PS: Zach Wilson mal jogou pelo New York Jets, então não seria justo falar sobre ele aqui.
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