Geralmente, quando a gente usa “5ª série” numa frase, provavelmente faz referência a brincadeiras tolas ou de duplo sentido. Não será o caso aqui. O título faz referência ao sentimento que tenho há algum tempo torcendo para o Chicago Bears e em seus jogos contra o Green Bay Packers.
Aaron Rodgers disse que “ainda era o dono” do Soldier Field, Chicago Bears ou qualquer coisa que seja. Por mais agressivo e nada politicamente correto que tenha soado – algo que ele não está nem aí – não foi nenhuma mentira. Por mais que seja difícil assumir, é a realidade. A última vitória dos Bears em Green Bay foi em 2015. Desde 2011, são apenas três vitórias. Novamente: ele não mentiu.
O torcedor dos Bears certamente acorda diferente no dia em que enfrenta os Packers. Existe, por menor que seja, a esperança de que “aquele dia será diferente e vamos vencer”. Afinal, são dois elencos profissionais de futebol americano. Meu sentimento, porém, é o mesmo que tinha pelos idos de 2000.
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Estudava de tarde e tínhamos apenas uma turma da 4ª série e uma da 3ª série – elas dividiam o recreio e tínhamos apenas uma quadra para jogar futebol. Futsal, que seja. Não havia alternativa: éramos sempre nós contra eles. Só que tem um problema: perdíamos sempre. Nada mais natural, afinal de contas, um menino de 10 anos (4ª série) tem coordenação motora anos luz mais avançada que um de 9. Um ano faz diferença nessa época. Então, era sempre em vão. Sonhávamos com jogadas ensaiadas, pênaltis cavados, qualquer coisa para vencer aqueles odiados meninos mais velhos da 4ª série. Foi em vão. O ano inteiro.
Tivemos uma “campanha” de dar inveja ao Detroit Lions de 2008: perdemos literalmente todos os jogos do recreio que foram disputados naquele longíquo ano de 2000. Provavelmente, algo como 0-150 ou algo assim. Não conseguíamos nem empatar. Às vezes, o jogo até era disputado, mas outras tantas era um sonoro 4 a 1 naquela meia hora escassa de correria.
É exatamente assim que eu vejo Bears x Packers hoje. Justin Fields, recém-entrado na NFL, é um menino de 10 anos. Aaron Rodgers, três vezes MVP e campeão do Super Bowl, é um menino de 11. Tudo o que ele faz, faz mais rápido e melhor do que Fields. Um dia, porém, as coisas mudaram: os meninos da 4ª série foram para a 5ª e deixaram aquela unidade onde estudávamos. De repente, nós éramos os meninos mais velhos que não perdiam um jogo. Pode acontecer o mesmo quando eventualmente Rodgers chegar na 5ª série? Pode. Mas percebi outra coisa no caminho.
A gente achava que acordava pensando em vencer e que aquilo era a única coisa que importava. Talvez até tenhamos vencido algum daqueles jogos e minha memória esqueceu. Porque o resultado não era o mais importante. O sentimento de esperança que tínhamos, a camaradagem entre crianças com um objetivo em comum e confiavam uma nas outras para tentar o impossível, isso sim era o gostoso daquilo tudo. Claro que no final das contas o esporte é também sobre títulos e quem vence ou perde. Não podemos, porém, esquecer que ele também é sobre o caminho até lá. Se não, que graça teria?
