O field goal do calouro Evan McPherson na prorrogação contra o Kansas City Chiefs levou o Cincinnati Bengals ao terceiro Super Bowl da sua história. Desde 22 de janeiro de 1989, contra Joe Montana, o torcedor do sudoeste de Ohio esperava uma nova chance no palco principal do futebol americano, num dos eventos mais prestigiados do esporte mundial.
E lá estarão no dia 13 de fevereiro, na Califórnia. No início da temporada, as casas de aposta mostravam um considerável retorno financeiro para os aventureiros dispostos a imaginar o Cincinnati Bengals no Super Bowl. Mesmo com um promissor Joe Burrow no seu segundo ano como profissional, ainda que voltando de lesão, a franquia trazia consigo mais perguntas do que respostas quanto às necessidades no elenco e a forma de contorná-las.
Piscamos, cinco meses se passaram, e cá estamos, às vésperas do Super Bowl LVI. Desde o começo da pós-temporada, o time caçula de Ohio venceu três partidas, triunfando sobre o seed número um da Conferência Americana em Tennessee e superando um déficit de 18 pontos contra o temido Kansas City Chiefs em pleno Arrowhead Stadium. As duas primeiras vitórias fora de casa da equipe na histórias pós-temporada foram duelos históricos irretocáveis. Com uma demonstração de resiliência e fibra, o Cincinnati Bengals é o campeão não só da AFC Norte, mas da Conferência Americana – e, de certa forma, faz circular o ar na conferência para os anos vindouros.
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Ao chegar ao Super Bowl LVI, o Cincinnati Bengals se torna o rosto de um novo ciclo da NFL, especialmente na Conferência Americana. Nos últimos anos, vimos inúmeras aposentadorias e trocas de time que já desenhavam uma outra geração nas rédeas do esporte. A começar por 2018, primeiro ano de titular de Patrick Mahomes, que alcançou a final de conferência para enfrentar um certo time de Boston rumo à sexta conquista do Super Bowl.
No mesmo ano, Josh Allen e Lamar Jackson foram selecionados na primeira rodada do Draft, alterando drasticamente os rumos das suas franquias. Lamar Jackson venceria o MVP em 2019, enquanto Josh Allen cresceria exponencialmente ano após ano até se tornar um dos nomes de elite da posição. Em 2020, novos contornos para a AFC: Joe Burrow foi a primeira escolha geral do Cincinnati Bengals, Tua Tagovailoa encontrou um lar em Miami e Justin Herbert se tornou o novo signal caller do Los Angeles Chargers. Além disso, e de maneira extremamente simbólica, Tom Brady deixou a Conferência Americana para se tornar o titular do Tampa Bay Buccaneers.
Dos gigantes do começo do século, apenas Ben Roethlisberger se mantinha no time que o selecionou, em visível declínio. Philip Rivers teve um quase-canto do cisne com o Indianapolis Colts, Peyton Manning venceu o Super Bowl 50 e deixou os gramados há muito. Nesse século, os outros vencedores do Super Bowl da Conferência Americana foram os Ravens de 2000 e 2012 e o Kansas City Chiefs há algumas temporadas – e sabemos bem que enquanto Mahomes segue seu belo caminho no Missouri, Joe Flacco já não é um fator de risco seja como Bronco, Jet ou Eagle.
Com essa passagem de tocha de gerações, a Conferência Americana se estabilizou na rivalidade entre dois grandes quarterbacks – Josh Allen e Patrick Mahomes, que dão ares da grandiosa disputa entre Tom Brady e Peyton Manning na conferência. Além deles, Lamar Jackson já se mostrou um nome gigantesco numa franquia tarimbada, embora as lesões tenham degringolado o 2021 dos Ravens. Surgiu, também nesta temporada, um Los Angeles Chargers promissor com Justin Herbert e o ousado comandante Brandon Staley, que esperávamos que disputasse a pós-temporada.
Finalmente, das franquias-irmãs de Ohio, não foi Baker Mayfield que consolidou um novo contender. De Cincinnati saiu um time jovem, ainda em construção, ancorado em Joe Burrow e no recém-chegado Ja’Marr Chase. Juntando o camisa 1 aos wide receivers Tee Higgins e Tyler Boyd, tem-se uma base sólida para o futuro. Burrow mostrou não ter medo de arriscar passes 50/50 – aqueles que você precisa confiar que seu alvo é capaz de triunfar no duelo com o defensive back. Uma qualidade gigantesca para um jovem quarterback, que por mais que cometa erros em alguns momentos, supera-os com insistência, calma em momentos de pressão e coragem para “fechar” partidas. Do lado defensivo, contra o Kansas City Chiefs, o time foi capaz de realizar ajustes e crescer na hora decisiva, colocando oito na cobertura no segundo tempo e colocar Patrick Mahomes em ritmo de fuga, correndo para cima e para baixo apenas para ser derrubado por Sam Hubbard ou Trey Hendrickson.
O Super Bowl LVI é o marco de uma nova Conferência Americana, e o Cincinnati Bengals se mostra um dos jovens pilares desse ciclo.
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Ouve-se dizer que o elenco do Cincinnati Bengals tem futuro. É verdade, porque ainda há necessidades notáveis – em especial na linha ofensiva, pelo menos de forma menos discreta. Com mais tempo, o time, que já alcançou o Super Bowl no seu segundo ano da era-Burrow, promete ficar no topo da conferência por anos a fio. Depois de anos batendo na trave – traves essas chamadas Andy Dalton e Marvin Lewis, de forma reducionista – o time fundado por Paul Brown parece ter atravessado o seu Cabo das Tormentas e chegado à calmaria de uma franquia bem gerida.
Entretanto, vale dizer que o time já colhe os frutos da gestão no presente. Chegar à final da NFL não é um feito simples. Talvez o New England Patriots tenha mexido com nossos parâmetros do quão difícil é sequer chegar no Super Bowl, mas ninguém chega lá por acaso. E temos um time que venceu três duras partidas de pós-temporada pronto para enfrentar outro jogo fora-de-casa, uma vez que o Los Angeles Rams jogará no SoFi Stadium.
O esporte é feito de ídolos, e os torcedores os adotam. Com essa conquista da Conferência Americana, certamente veremos novos adeptos do laranja e preto, vestindo camisas de Joe Burrow e Ja’Marr Chase pelo mundo afora. Superando os favoritos nessa pós-temporada, o Cincinnati Bengals escancarou as portas da AFC e inaugurou uma nova era. Aproveitemos!






