O Cincinnati Bengals disputou seu último Super Bowl há 33 anos, caindo diante do San Francisco 49ers de Joe Montana. Desde então, a franquia viveu uma longa seca nos playoffs, nunca tinha vencido fora de casa na pós-temporada, enfim, todos martírios encerrados por Joe Burrow e cia. há poucas semanas.
Veja como era a NFL e o contexto dos próprios Bengals na última vez que eles visitaram à final. Donos do melhor ataque da liga graças ao talento de Boomer Esiason e as ideias do seu treinador, Cincinnati foi um intruso na festa das potências da época, de certo modo semelhante ao que o time de 2021 conseguiu fazer.
Supremacia da NFC sobre a AFC
Cincinnati chegou ao seu último Super Bowl bem na época em que as franquias da AFC só apanhavam na grande decisão. Entre 1984 e 1996, as equipes da Conferência Nacional ganharam todos os títulos, estabelecendo uma hegemonia nunca igualada; a maldição só foi quebrada com a vitória do Denver Broncos sobre o Green Bay Packers no Super Bowl XXXII. Além das dinastias de San Francisco 49ers e Dallas Cowboys, tivemos as “mini-dinastias” de New York Giants e Washington Redskins, os quatros times que monopolizaram os títulos nesse intervalo de quase 15 anos.
Os Bengals não viveram uma década de 1980 particularmente gloriosa, à parte as duas visitas ao Super Bowl. Por incrível que pareça, o Cleveland Browns foi a principal força da finada AFC Central naquela década, embora nunca tenha superado a barreira da Final de Conferência e de John Elway. Pensando no âmbito geral da AFC, os bichos-papões eram sobretudo Denver Broncos e Oakland/Las Vegas Raiders.
Cincinnati teve a competência de encaixar duas temporadas boas e só parar no Super Bowl. Para o seu azar, no entanto, o adversário nas duas ocasiões acabou sendo Joe Montana; em 1988, por exemplo, o quarterback comandou um lendário drive da vitória de 92 jardas em pouco mais de 2 minutos e meio.
Boomer Esiason MVP e as doideiras de Sam Wyche
O time dos Bengals de 1988 era facilmente o mais divertido da história da franquia… Até hoje. Um dos grandes responsáveis foi Sam Wyche, dono de uma personalidade um pouco excêntrica e algumas táticas curiosas para vencer jogos. O head coach, por exemplo, tinha o hábito de mandar 12 jogadores ao huddle visando confundir a defesa adversária e cavar faltas. Ele fez isso até a NFL mudar o livro de regras e proibir a malandragem.
O treinador também ficou famoso por criar – ele, e não o Buffalo Bills um ano depois – um ataque no-huddle frenético, o qual em 1988 ajudou Cincinnati a terminar em primeiro em pontos (28), jardas terrestres (169,4) e jardas totais (378) por partida. Uma curiosidade sobre esse ataque é que o comissário Pete Rozelle tentou proibi-lo. Segundo as palavras do próprio Wyche, Rozelle ligou para ele duas horas antes do duelo contra o Buffalo Bills na Final da AFC e avisou que a equipe seria punida com uma falta por conduta antidesportiva se usasse o no-huddle. Wyche, então, ameaçou levar a história a pública e Rozelle desistiu da ideia.
Quem também se beneficiou desse ataque foi Boomer Esiason, vencendo o prêmio de MVP em 1988. Hoje em dia um quarterback com 3.572 jardas aéreas, 28 touchdowns e 14 touchdowns quase corre o risco de perder o emprego no final da temporada, mas há 35 anos esses números eram espetaculares. Não por acaso Esiason é até o momento o maior signal caller da história da franquia, conseguindo arrumar um papel de destaque na liga em plena primeira era de ouro dos quarterbacks (Montana, John Elway, Jim Kelly, Dan Fouts, etc.)
Cincinnati terminou com o título da AFC Central e a melhor campanha da conferência, batendo Seattle Seahawks e Buffalo Bills no mata-mata. Eles deram trabalho aos 49ers no Super Bowl, porém os 14 pontos de San Francisco no último quarto garantiram a vitória por 20 a 16 dos californianos. Montana brilhou no drive decisivo, mas Jerry Rice foi o MVP do dia ao agarrar 11 passes para 245 jardas e um touchdown, até hoje o recorde de mais jardas na decisão.
