Avaliar um quarterback no nível profissional não é fácil. Por vezes, os problemas que ele apresenta podem ser resolvidos “de uma hora para outra”, com tempo para adaptação e um trabalho bem-feito, vide Josh Allen. Por outras, o entorno fraco não permite mensurar qual o percentual de culpa que o passador tem sobre os problemas da equipe. Diante disso, sempre procuro ressaltar nos meus textos aqui no site: fortaleça o entorno de seu quarterback, para não restarem dúvidas quanto ao seu real talento.
Eu sei que pode passar pela sua cabeça que um quarterback foi feito, justamente, para auxiliar um time a superar suas adversidades, no entanto, não é possível esperar que uma pessoa, por si, possa resolver todos os problemas de uma equipe – beira à loucura. O Jacksonville Jaguars está aprendendo isso com Trevor Lawrence; o Cincinnati Bengals colheu os frutos ao fortalecer o entorno de Joe Burrow.
Vendo os exemplos, o Miami Dolphins seguiu a regra e dedicou sua intertemporada a dar o melhor suporte possível para Tua Tagovailoa. Após um ano de calouro fraco, o havaiano não demonstrou nada de apetitoso em 2021 e os questionamentos começam a surgir. A franquia decepcionou na última temporada, mas o primeiro a cair foi Brian Flores. Com muitas caras novas, a equipe fez todo o possível para deixar o quarterback confortável, chegou a hora dele corresponder ou procurar uma nova casa.
Águas passadas não movem moinhos
Quando olhamos os jogos de Tua nos dois últimos anos, não é difícil perceber os pontos fracos do ataque de Miami. Para usar as palavras de forma clara, era uma unidade ofensiva que chegava a dar sono, pois o grupo parecia nunca sair da segunda marcha mesmo tendo atletas de qualidade. Não à toa, um deles foi o único ponto positivo visto nesse deserto no último ano: Jaylen Waddle quebrou o recorde de recepções em uma temporada de calouro e bateu a barreira das 1000 jardas. Um início muito promissor.
Dentro dessa inércia ofensiva, jogar toda a culpa para cima do quarterback seria beirar o exagero. O ataque não demonstrava nada de interessante e, taticamente, não fazia sentido. Há um exemplo claro sobre isso: Tua era o terceiro quarterback que mais rápido passava a bola (2,53s), muito por conta da porosa linha ofensiva, mal lançava no fundo do campo (7,5% dos passes, segunda pior marca) e, mesmo assim, Miami foi, por muito, o time que mais rodou play-action no último ano (42,8% dos recuos de passe; o Baltimore Ravens, em segundo lugar, utilizou o recurso em 34,9% desses recuos).[foot]Dados do Pro Football Focus[/foot] É um plano de jogo incongruente, com foco errado.
Não é preciso ser um grande analista para perceber que o braço de Tua vem sendo um problema e que as perspectivas para este ano, nesse tópico, não são das mais animadoras – digamos que o vídeo postado pela franquia não surtiu o efeito esperado. Ainda assim, o sistema não o auxiliava e se prender no que ocorreu nos últimos dois anos é a receita para o fracasso, sendo preciso fazer o diferente. É essa a grande missão de Mike McDaniel em sua jornada pela Florida; ao menos, a franquia fez o possível para torná-la mais fácil.





