Curti: Clima em Seattle é de “Castelo sem Rei” na volta de Russell Wilson

Entre torcedores tristes, camisas na promoção e Pete Carroll com otimismo exacerbado, ar paira enorme saudade temperada com ressentimento em Seattle

SEATTLE, WA – Vindo para um jogo dos Mariners no coladinho T-Mobile Park, um senhor se espanta com nossa equipe por lá. Afinal de contas, a transmissão daquele jogo de beisebol não era da ESPN matriz, mas de uma emissora local de Seattle. Logo ele levanta as sobrancelhas e percebe que não estávamos falando em inglês. “ESPN?”, ele pergunta intrigado. “ESPN Brazil”, respondo falando o nome de nosso pais com o sotaque dele para que o senhor entendesse.

Ele fica meio sem entender mas logo explico que estamos aqui para transmitir a volta de Russell Wilson a Seattle em seu primeiro jogo pelo novo time. “Traidor”, diz ele e fingir sair de costas. Ele volta e logo pergunto: se você pudesse falar algo para ele, imaginando que ele assistisse esse vídeo, o que diria? “Não posso falar porque seria linguagem obscena, ainda estamos muito magoados”.

Russell Wilson é o primeiro quarterback campeão com um time que é trocado para outro, o qual venceu no Super Bowl, e enfrenta seu ex-time fora de casa na Semana 1. É um tanto quanto específico como narrativa, mas veio à calhar para a NFL na montagem do calendário. Por estarem desde 2002[foot]Até 2002, os dois times faziam parte da mesma divisão, a AFC West[/foot] em conferências distintas, fora casos como o “Jogo 17”, Seattle e Denver enfrentam-se apenas uma vez a cada quatro anos. Quis o destino que isso acontecesse agora.

“Desejamos o melhor para ele, mas estamos tristes”, disse uma torcedora para mim. Seu namorado balançou com a cabeça, concordando. A verdade é que o torcedor de Seattle, embora entenda que Wilson tenha tido seus motivos para sair, ao mesmo tempo sentiu a perda de seu maior ídolo. E nem poderia ser diferente.

50% de desconto e ainda nos cabides

Nas proximidades do Lumen Field e do T-Mobile Park, estádios de Seahawks e Mariners, há lojas com produtos dos dois times. Numa delas, chamada “OnTheField” um cabideiro tem várias camisas de Russell Wilson à venda. 50% de desconto, saindo por 75 dólares e sendo um dos modelos mais bem-feitos da Nike, com os números costurados e todo o mais. Pergunto ao vendedor se estão sendo vendidas com frequência e o vendedor lamenta. “Talvez tenhamos que baixar ainda mais o preço, porque nenhuma saiu ainda em quase duas semanas˜, disse.

Na sexta, dois dias depois, volto à loja para descobrir se alguma camisa foi vendida. “Não, nenhuma. Vendemos mais camisetas dos Braves nesta semana do que qualquer uma de Wilson˜, disse. O Atlanta Braves, que tem uma torcida nacional nos EUA, joga aqui em Seattle nesta semana contra o Seattle Mariners. Aparentemente estão mais populares.

Castelo sem rei

Não são apenas as ruas de Seattle que não contam com Russell Wilson. No período em que estive aqui, não vi praticamente nenhum torcedor usando uma camisa com seu número ou uma camiseta tendo a sua silhueta. No centro de treinamento dos Seahawks, a energia é de seguir em frente. Durante a intertemporada, o head coach do time, Pete Carroll, tentou convencer as pessoas que o sentimento era como seus dias de college. Wilson não estaria mais em Seattle como muitos quarterbacks não estiveram mais com Carroll em USC por conta de terem pego o diploma.

O diploma, aqui, aparenta ser ir para uma equipe mais estruturada em elenco e com um viés mais moderno do que as toneladas de jogo terrestre que Carroll e Shane Waldron, coordenador ofensivo, são adeptos. “Geno está na sua melhor forma, estamos muito confiantes nele”, disse Carroll em uma das coletivas. A impressão que passa é que Pete realmente acredita que “vida que segue”. A realidade, porém, é que por mais maduro e por melhor que Geno Smith cuide da bola, Seattle sai de um time que briga por playoffs para um time que briga pelo topo do Draft com este novo quarterback.

A sensação de estar no CT e ver troféus e banners de campeão de divisão e campeão do Super Bowl sem Wilson é… estranha. É como estar num castelo sem o rei. Apenas o primeiro ministro segue no cargo – e tudo indica, por mais algum tempo.

“Serei apenas eu mesmo, é um jogo como outro qualquer, como foi contra Detroit”, disse Quandre Diggs, safety, em uma das coletivas desta semana. Sabemos, porém, que a perspectiva não é essa. A Semana 1, recebendo seu ex-quarterback, é o Super Bowl do Seattle Seahawks na temporada. Mostrar que ainda há vida nesse castelo sem rei que virou Seattle.

Denver Broncos @ Seattle Seahawks team transmissão da ESPN2 e Star + nesta segunda, 21h.

Para saber mais:
Guia Temporada 2022 pra quem tem pressa: ponto forte, fraco e quantas vitórias seu time vai ter
Prévias 2022: Tampa Bay Buccaneers
Prévias 2022: San Francisco 49ers

“odds