Se eu pudesse escolher, sem qualquer restrição pela realidade e passagem do tempo, eu gostaria de ver Peyton Manning, Drew Brees, Andrew Luck, Kurt Warner, Reggie Wayne, Patrick Willis, Vernon Davis, LaDainian Tomlinson e tantos outros jogando para sempre. Estes jogadores, para mim, marcaram uma época de conhecer o futebol americano, de me acostumar a ver o esporte a cada domingo. Foram fortes figuras na minha formação de NFL, quase como se um bacharelado – só que ao invés de Teoria Geral do Direito Privado, era James Harrison retornando uma interceptação por 99 jardas no Super Bowl XLIII.
Aos poucos, cada um deles deixou os gramados, escreveu sua história no livro da NFL e deu o passo seguinte à curta carreira de atleta. Gradualmente, novas estrelas surgiram e tomaram seus lugares. Quase sem perceber, dinastias perderam a identidade da época que eu as conheci, e franquias antes combalidas alçaram vôo. Ao longo dos anos, times acertam e erram nas escolhas não só de jogadores recém-saídos da universidade, mas também de comissões técnicas.
Para falarmos de acertos em 2022, sem sombra de dúvidas, devemos incluir o New York Giants, New York Jets e Atlanta Falcons. Sem pompas na pré-temporada, sem a empolgação que outros times contavam entre abril e agosto, as três equipes são exemplos perfeitos do dinamismo da NFL. Além disso, mostram também a necessária busca pela melhoria, a árdua tarefa de tirar o máximo possível do seu elenco, pois a competição é sempre implacável.
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Na NFL, não adianta pensar que aquilo que já foi atingido se repetirá em determinado ano, apenas por ser o status quo. Explico: em anos anteriores, Aaron Rodgers em Lambeau seria garantia de vitória contra o New York Jets. Inclusive, o campeão do Super Bowl III não vencia o Green Bay Packers desde 2006. E, pelo histórico de Rodgers, da dificuldade em jogar em Wisconsin e do (infeliz) estigma que assola os Jets desde a última década, era a crença para a Semana 6 da temporada 2022.
Todavia, a história e o passado não entram em campo. Os Jets, a cada semana, desafiam as expectativas, mesmo com o início da temporada sob a batuta de Joe Flacco. Perderam para os titãs da NFC North, mas venceu duelos importantes contra o rival Miami Dolphins, além de ter conseguido um milagre contra o Cleveland Browns. Os ares parecem diferentes.
Mesmo assim, esperava-se uma vitória de Green Bay. Mesmo com as dificuldades em encontrar um ritmo ofensivo permeando toda a temporada, era a hora do Aaron Rodgers encaixar. Afinal, sempre encaixou, certo? Em algum momento, o que aconteceu acontecerá novamente, não?
Que horas a página do “sempre foi assim” vira?
Sem explosão, Aaron Rodgers e Matt LaFleur foram alvos fáceis para a boa defesa comandada por Robert Saleh. Sendo um ataque que anota menos de 18 pontos por partida em 2022, o Green Bay Packers não é mais o bicho papão de outrora. E pode até ser que as coisas melhorem, até porque piorar é difícil, sejamos sinceros. Só que isso não vai acontecer porque “sempre foi assim”, mas por méritos da equipe em corrigir as próprias falhas no ano de 2022.
A competição mudou. Os times ao redor cresceram. Todo ano demanda adaptação, amadurecimento do projeto e ajustes. Não basta confiar nos MVPs do passado se não houver um trabalho correspondente no presente.
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No reverso dessa moeda, o New York Giants e o Atlanta Falcons abraçam novas identidades. Os tetracampeões do Super Bowl expurgam os demônios de decisões péssimas das comissões técnicas e de Dave Gettleman. Mesmo com incontáveis lesões ofensivas, o time recuperou Saquon Barkley e conta com uma sólida defesa para vencer jogos. E vence. Não importam as treze derrotas de 2021 – a lição foi aprendida e o time está abrindo seu caminho em 2022.
Em Atlanta, o time renasce com uma identidade terrestre comandada por Marcus Mariota. Quem diria, em sã consciência, que o retrospecto da equipe seria idêntico ao do Tampa Bay Buccaneers na NFC South, chegando na sétima semana da temporada? É a beleza da NFL – a barra de exigência cresce a cada temporada. Quem se adapta, triunfa. Quem toma más decisões ou confia em ideias vetustas, sucumbe.
Falando na equipe de Tom Brady, o desafio de 2022 é completamente diferente daquele de 2021. Sem Bruce Arians, com alterações colossais de um ano para o outro na linha ofensiva, e a perda de elementos estabilizadores como Rob Gronkowski, o camisa 12 está numa situação única. Essa temporada. Eis o desafio. Não basta ser o melhor de todos os tempos; não basta ter disputado seiscentos Super Bowls e ter vencido quatrocentos e trinta e seis deles. A NFL bate na porta e exige adaptação. Pode ser que ele volte à forma Super Tom Brady que cansamos de ver em Massachusetts e na Flórida. Só que será um Tom Brady adaptado às novas realidades ao seu redor, justamente por focar no presente e no caminho à sua frente.
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Nos últimos anos, vivemos uma passagem de tocha marcante na geração de quarterbacks. E, com isso, instaurou-se inseguranças em franquias consolidadas. Pittsburgh Steelers, Indianapolis Colts, Denver Broncos, New England Patriots, New Orleans Saints, todos eles ainda buscam uma identidade após períodos marcantes de qualidade. Enquanto buscam, outras equipes albergam talento e se armam com jovens estrelas e promissores técnicos – vemos isso claramente na ascensão de cinco grandes signal callers na AFC.
Claro que existem times estáveis – encontram formas, ano após ano, de desenvolver seus talentos e se manter no topo – vide Kansas City Chiefs e Buffalo Bills. E isso só acontece pela capacidade de adaptação, e não por ser “o que sempre foi feito”. Se fosse o caso, o Cincinnati Bengals não estaria tendo lá suas dificuldades. Ou, ainda, o Denver Broncos, que no papel era promissor, mas não saiu disso.
Todo ano projetos dão frutos ou morrem na praia. É a natureza cíclica do esporte que tanto amamos. Sempre existe uma surpresa, uma volta por cima, uma decepção. O status quo não sobrevive, não nas condições na qual a NFL existe. E é por isso que todos nós voltamos, ano após ano, a cada setembro.






