Na história do Fred Biletnikoff Award, prêmio dado ao melhor recebedor do College Football, apenas dois jogadores o venceram por mais de uma vez: Michael Crabtree (2007-08, Texas Tech) e Justin Blackmon (2010-11, Oklahoma State). Quem viu esses jogadores no College sabe que eles eram dignos de toda a pompa e que, não surpreendente, foram escolhas de top 10 quando se declararam para o Draft.
Só que o arco de carreira de ambos é bem diferente. Crabtree ficou na NFL por uma década e chegou até a disputar o Super Bowl pelo San Francisco 49ers, enquanto Blackmon é o protagonista de uma das maiores histórias de ‘e se’ do século. Com um talento e uma dominância física quase que inigualáveis para um prospecto, os problemas que ele enfrentava fora de campo acabaram com sua carreira tão rápido quanto ele se destacou.
Superestrela do College Football
Se hoje pensamos em Ja’Marr Chase como o prospecto perfeito na posição de wide receiver, Blackmon era esse mesmo cara em 2012. Sério, o que ele fez no College Football durante sua carreira por Oklahoma State foi coisa de cinema – e por dois anos consecutivos, provando que seu talento não foi produto de apenas uma temporada, numa época em que o peso da Bowl Season era milhões de vezes maior que o de hoje.
Só nas últimas duas temporadas, contando com 25 jogos, Blackmon acumulou 3304 jardas e 38 touchdowns por Oklahoma State. Não havia qualquer dúvida na época que ele era o melhor jogador da posição em todo o College Football: além de vencer o Biletnikoff por vezes consecutivas, ele também foi considerado um All-American de forma unânime tanto em 2010 quanto em 2011; vale notar também que em 2010 ele foi eleito o Jogador Ofensivo do Ano da conferência Big 12, se tornando o primeiro jogador da posição a vencer o prêmio em toda a história.
Você percebeu que eu citei a Bowl Season de forma aleatória ali? Pois bem, explico. O último jogo da carreira de Blackmon no College foi o Fiesta Bowl de 2012, quando #3 Oklahoma State enfrentou #4 Stanford num jogaço. Mordidos por não terem sido escolhidos para disputar a final nacional da temporada 2011, Oklahoma State venceu um clássico dos clássicos por 41 a 38 numa atuação histórica do recebedor.
8 recepções, 186 jardas, 3 touchdowns. Você pode ver embaixo.
Se o BCS tirou de Oklahoma State o direito de lutar pelo campeonato nacional, Blackmon decidiu anunciar seu talento para todo o mundo no último jogo de sua carreira universitária. Foi impossível não ficar de olho.
Quem também gostou muito foi o Jacksonville Jaguars, que subiu da sétima para a quinta escolha geral do Draft de 2012 para adicionar Blackmon ao seu time. Uma escolha digna do talento que acabou com o College Football nas duas temporadas anteriores.
Blackmon perdeu a batalha para si mesmo
O problema é que ele nunca conseguiu vencer a batalha mais importante e difícil que ele tinha: a da própria cabeça.
Blackmon violou repetidas vezes a política de abuso de substâncias da NFL e viu sua carreira acabar tão rápido quanto ele conquistou corações no College. A primeira prisão veio ainda em junho de 2012 por dirigir sob a influência de álcool, antes ainda de estrear no profissional. Na época, ele declarou que “nunca mais ia beber” e negou que tivesse problemas com bebida.
Em 2013, já em abril ele sofreu uma suspensão de quatro jogos da liga pela mesma violação. Participando de apenas 4 jogos naquela temporada, ele acumulou 415 jardas e um touchdown, antes de uma terceira violação e uma suspensão indefinida por parte da liga.
Se descobriu depois que esse problema era presente desde a época do College. O Tampa Bay Buccaneers, que desceu na troca com os Jaguars, tinha interesse em draftá-lo, só que tinha conhecimento dos problemas com álcool do jogador. Por uma semana, um scout dos Buccaneers esteve visitando todo dia um bar em Oklahoma State para descobrir quantas vezes Blackmon aparecia por lá durante o processo pré-Draft. O resultado? Quase todos os dias da semana.
Tampa Bay removeu Blackmon de sua board inteiramente.
Em 2019, seu antigo companheiro de equipe, Cecil Shorts, escreveu publicamente um artigo (agora deletado) sobre Blackmon, contando histórias da época em que jogaram juntos nos Jaguars. Shorts conta a história de quando Blackmon não apareceu num treino em 2013, logo antes de sua suspensão indefinida, e ninguém o encontrava; quando ele chegou no centro de treinamento, ele chorava e jurava que não tinha bebido, porém o hálito embriagado não deixava mentir. Shorts contava no artigo que, naquele exato dia, ele viu Blackmon fazer ‘o catch mais incrível que ele já havia visto’ durante o treino, ainda que completamente embriagado, e que ficava muito desapontado ao ver como um cara tão talentoso não conseguiu controlar seus próprios demônios quando chegou a liga.
Blackmon foi preso mais uma vez em 2014. Em 2015, seu pedido para ser liberado para voltar a jogar foi negado pela NFL. Sua carreira estava encerrada.
A ‘volta’ aos holofotes
O lado bom dessa história é que, dentro do possível, ela tem um final feliz. O ex-recebedor sumiu completamente das redes sociais e da mídia por bastante tempo, porém voltou a fazer aparições em Oklahoma State em 2021 e recentemente esteve gravando um documentário com uma mídia especializada da universidade para contar sua história. Se sua carreira na NFL não decolou, ao menos sua vida não foi estragada.
Essa não é uma história com qualquer julgamento porque cada pessoa tem seus problemas e sua forma de lidar. Para fãs, o que fica é o imaginário de um jogador que tinha tudo para ser um dos melhores wide receivers da década – e quiçá da história – e nunca conseguiu juntar tudo por problemas que ele tinha com ele mesmo.
Hoje, o mais importante é que Justin Blackmon está bem. O que mais podemos querer?
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