Pergunte ao Doutor é nossa nova coluna, trazendo a opinião de um médico especializado na área sobre as lesões que afetam a NFL. Gustavo Ferrareto Pires é médico ortopedista, com especialidade em cirurgia esportiva. Fã de futebol americano, juntou suas duas paixões para escrever: o esporte e a medicina. Você pode o seguir no Instagram em @gustavoferrareto
Na final da NFC da temporada passada, o quarterback do San Francisco 49ers, Brock Purdy, sofreu uma torção no cotovelo direito em um lance com o EDGE Haason Reddick (vídeo do lance abaixo). Sem condições de continuar, Brock foi obrigado a abandonar a partida e viu da sideline seu time perder o jogo.
https://www.youtube.com.br/watch?v=yphS6W0tRCk
Nos dias após o jogo, foi divulgado que o QB teve uma ruptura ligamentar no cotovelo, mais especificamente no ligamento colateral ulnar, e seria submetido a uma cirurgia, estando a temporada 2023 possivelmente comprometida. Foi realizada a cirurgia ainda em março, porém os reports mais recentes mostram que, apesar de estar treinando, Brock não deve começar os jogos da pré-temporada. Que lesão é essa que poderia comprometer a temporada do Mr Irrelevant do draft 2022?
O ligamento colateral medial ou colateral ulnar (LCU) liga o úmero à ulna e é importante componente do complexo ligamentar medial do cotovelo. Com a cabeça do rádio, são os principais estabilizadores das forças que atuam de fora para dentro, ou de lateral para medial, no cotovelo (estresse em valgo, no jargão ortopédico). Este ligamento é dividido em três partes, a banda anterior (componente mais importante), a banda posterior e a banda transversa ou ligamento de Cooper.
Devido aos seguidos estresses em valgo ocorridos durante o movimento de lançamento, os arremessadores costumam ter uma frouxidão do LCU associada a lesões de cartilagem na cabeça radial e na porção lateral do úmero. Isto é conhecido como thrower’s elbow ou cotovelo do lançador, atingindo tanto quarterbacks quanto outros atletas que praticam esportes “overhead”, pitchers de baseball, jogadores de vôlei, arremessadores de dardo, entre outros. Reparem que estes atletas costumam exercer um movimento de rotação para trás do braço seguido de rápida extensão do cotovelo.
Ao sofrer o impacto no braço, Brock teve seu braço rodado ao extremo para trás, sofrendo ruptura do LCU. Devido à alta demanda esportiva, foi optado pelo tratamento cirúrgico e o quarterback foi submetido à reconstrução ligamentar medial do cotovelo. Há alguns tipos de cirurgia descritos, sendo necessário uso de enxerto ou âncoras metálicas, a depender da técnica escolhida. O protocolo de reabilitação do atleta envolve:
- curta imobilização (cinco a sete dias) após a cirurgia
- até a quarta semanas pós-operatória: uso de órtese com mobilização passiva do cotovelo, porém sem extensão máxima
- entre quatro e seis semanas de pós-operatório: início dos exercícios de força
- após quatro meses de pós-operatório: início dos exercícios de arremesso, com tempo de treino e distância do arremesso progressivos
- entre nove e 12 meses: liberada simulação da intensidade do jogo nos treinos.
https://youtube.com/shorts/0Pmk6Baynos?feature=share
Em geral, a cirurgia de reconstrução costuma ter bons resultados, restaurando a estabilidade em valgo do cotovelo e a força de arremesso pré-cirúrgica.
Então o QB dos Niners vai voltar ao desempenho que tinha pré-lesão com certeza? Não é bem assim…
Como toda cirurgia, a reconstrução ligamentar do ligamento colateral ulnar apresenta riscos inerentes ao próprio procedimento, neurite ulnar (inflamação ou até disfunção do nervo ulnar) e infecção são os principais. Caso o protocolo de reabilitação pós-operatório não seja seguido, há um risco maior de ruptura do enxerto, sendo necessária uma nova cirurgia (fala-se em completa integração do enxerto entre oito e nove meses, por isso exercícios com intensidade total costumam ser liberados apenas após este período). Além disso, atletas que já apresentavam lesões de cartilagem antes da cirurgia podem evoluir com manutenção ou piora da dor lateral do cotovelo após a reconstrução. Se evoluir com dor persistente durante a recuperação, o QB pode precisar trabalhar algumas mudanças em sua mecânica de lançamento.
Pelas notícias divulgadas pelos insiders, Brock Purdy vem treinando com algumas restrições, dando bons sinais de recuperação da lesão. O próprio head coach dos Niners, Kyle Shanahan, porém, disse que acha improvável que o jogador esteja em campo na pré-temporada.
A reabilitação parece estar correndo bem, mas ainda precisaremos de paciência para ver Brock 100% saudável em campo.
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