“Eu preciso aceitar que não dá mais para separar as nossas vidas”. No último período, o som de “Evidências” fez a torcida cantar alto em um pequeno intervalo da partida. E é esse o sentimento que fica no coração de cada torcedor que esteve no estádio. O ar na Arena Corinthians era diferente na última sexta-feira (06/09), na primeira partida da NFL no Brasil. Uma noite, realmente, histórica.
Nick Sirianni, inclusive, fez questão de ressaltar isso ao entrar na coletiva de imprensa, dizendo que parecia “uma atmosfera de playoffs”. E realmente assim se assemelhava. Os inúmeros torcedores do Green Bay Packers fizeram muito barulho para tentar atrapalhar as jogadas, mas a torcida do Philadelphia Eagles também não deixou de apoiar sua equipe. O volume no estádio era ensurdecedor, como se estivéssemos falando de um grande clássico do Campeonato Brasileiro.
“Eu sei que te amo”. Foi difícil segurar a emoção. Mas precisava? Saquon Barkley, no pós-jogo, disse que ficou extremamente emocionado no momento do hino nacional brasileiro. “Nunca vi algo parecido”, disse. As evidências apontavam para este encontro predestinado: NFL e Brasil – e os “donos da casa” nos presentearam com a primeira vitória de uma linda jornada que se inicia.
Mudanças vistas logo de cara
Philadelphia precisava aproveitar essa vistosa estreia de temporada para demonstrar que seria um ano diferente, após decepcionante reta final em 2023. A princípio, conseguiram, ainda que não sem percalços. O início de jogo não foi fácil: Jalen Hurts parecia estar em outra rotação e cometeu dois erros crassos, lançando uma bola em cobertura tripla, interceptada, e sofrendo um fumble recuperado por Green Bay.
Ao menos, uma das novidades foi responsável por segurar esse ímpeto inicial dos visitantes. A experiência de Vic Fangio fez a diferença e via-se uma defesa de Philadelphia bem postada. A unidade evitou o pior, limitando o ataque de Green Bay a dois field goals, mantendo a partida em uma posse. A marcação em zona era evidente, com a linha defensiva se movimentando bastante para cobrir diferentes gaps, o que anulou o jogo corrido dos Packers no início da partida.
Foi o suficiente para que Hurts respirasse a atmosfera na Arena e percebesse que estava, sim, em casa. O jogo, então, se transformou – e vimos do que esse ataque pode ser capaz ao longo do ano. Kellen Moore, novo coordenador ofensivo, mostrou uma de suas principais cartas: a movimentação antes do snap. A equipe saiu da água para o vinho: em 2023, utilizou-se desse artifício em apenas 35,1% de seus snaps (pior marca da liga); já na estreia, em 65,8%, quase o dobro.
E não pense que foi apenas uma estatística bonita. Essa novidade foi convertida integralmente em eficiência para o quarterback. Quando houve movimentação pré-snap, Hurts completou 15 de 21 tentativas de passe (71%) para dois touchdowns. Sem ela, completou 5 de 13 (38%) e foi interceptado duas vezes. Os caminhos foram abertos mais facilmente, principalmente quando você possui recebedores que sabem explorar o espaço, como é o caso de A. J. Brown e Devonta Smith. Além disso, Moore mesclou bem as rotas para atacar o meio do campo em passes rápido ou buscar big plays – como no caso do touchdown de Brown.
Isso tudo também auxilia a elevar a confiança do quarterback. Hurts é um passador que possui mental forte e possuir um sistema favorável ao seu lado auxilia a acelerar a recuperação dentro das partidas. Até na leitura de blitzes – antiga dificuldade sua – vimos notória evolução. O solo brasileiro tem algo de especial.
A grande estrela da noite (depois da torcida)
Inspirado pelo estádio de futebol, Saquon Barkley iniciou sua trajetória na nova franquia com direito a “hat-trick”. Depois da torcida, Barkley foi a grande estrela da noite e mostrou como pode fazer a diferença nessa equipe. Soube aproveitar do ótimo trabalho da linha ofensiva, lendo bem os gaps e demonstrando velocidade, além de seu papel fundamental como recebedor – a rota e recepção no touchdown são primorosos.
É claro que nem tudo são louros. A defesa de Philadelphia, após início promissor, voltou a apresentar velhos problemas, principalmente no segundo nível, com linebackers incapazes de cobrir suas zonas na cobertura aérea ou parar o jogo terrestre, quando Josh Jacobs ou Emanuel Wilson passavam da linha de scrimmage – não havia meio termo para Green Bay pelo chão; ou não ganhava jardas, ou era um ganho gigantesco. Fangio possuirá trabalho para organizar o grupo, mas, como Sirianni disse na coletiva em pergunta feita por minha pessoa, “ele é um grande coordenador defensivo há décadas e sabe como resolver isso”.
Vivemos a história, caros amigos. Confesso que foi difícil transmitir em poucas palavras um sentimento tão lindo. Obrigado por estarem ao nosso lado. Que venha muita mais no futuro.






