Poucas relações entre head coach e quarterback são tão difíceis de explicar quanto a do Philadelphia Eagles. É quase impossível definir Nick Sirianni e Jalen Hurts em poucas palavras. Talvez a melhor seja “entre tapas e beijos”: na voz de Joelma, é claro. Se o treinador é um turbilhão de emoções, o mesmo pode se dizer do quarterback – só que em doses menos cavalares.
Jalen Hurts terá um feito enorme antes de entrar em campo no próximo domingo. Nenhum quarterback na história dos Eagles chegou duas vezes ao Super Bowl. Hurts conseguiu isso em um espaço de dois anos, além de ter a chance da revanche contra um amargo algoz. A versão 2024/25 dele é bem diferente da versão do Super Bowl LVII: seja para o bem, seja para o mal. Contudo, um bom jogo dele pode mudar o curso da narrativa – e isso é totalmente possível de acontecer.
Perder é difícil, ter uma segunda chance é mais difícil ainda
Para além do feito histórico na franquia, Jalen Hurts já tem outro para chamar de seu. No século XXI, nenhum quarterback perdeu o seu primeiro Super Bowl e voltou a outro. E quando eu digo nenhum, é nenhum mesmo. Desde jogadores pedestres à lá Rex Grossman, passando por MVPs como Cam Newton e Matt Ryan, ninguém nunca mais voltou ao grande palco após perder na sua primeira aparição. Hurts é o primeiro a ter essa segunda chance, o que prova – mais do que nunca – o quão difícil é conseguir isso.
2024 foi um ano de “um copo meio cheio, meio vazio” para Hurts. O lado meio cheio envolve a melhora do jogo terrestre com a chegada de Saquon Barkley e, falando do quarterback em si, menos turnovers. Por outro lado, cuidar melhor da bola trouxe um conservadorismo a mais ao jogo dele. Com isso, vieram mais sacks e o ataque aéreo, como todo, ficou menos eficiente.
Isso trouxe problemas ao longo da temporada regular e em alguns momentos nos playoffs – e com razão. Hurts sofreu 38 sacks durante a temporada regular, uma média de 2.53 por jogo e 271 (!!) jardas perdidas por sacks. Em muitas ocasiões, essas jardas perdidas com os sacks eram em segundas ou terceiras descidas, o que matava campanhas e forçava o time a ir para o punt. Um bom exemplar disso é o jogo no Divisional Round contra os Rams, onde ele sofreu sete sacks.
Porém, a virada de chave na opinião geral veio na final de conferência. Hurts teve uma atuação impecável contra Washington: 22/28 de passes completos para 246 jardas, um touchdown passado e três terrestres. Ao lado de Barkley, que também teve os seus três TDs, ele destroçou a defesa dos Commanders da melhor forma possível: correndo bem com a bola, mas passando com precisão e sem cometer turnovers. Em resumo, uma versão mais polida do ótimo Jalen Hurts de 2022.
O desafio do próximo domingo é gigante não por conta dos velhos personagens, mas sim pelo fator tempo. A defesa de Steve Spagnuolo continua a mesma, só que mais experiente. O mesmo pode se dizer do quarterback dos Eagles. Diferente de dois anos atrás, Hurts não é mais o personagem principal do ataque. Ele é uma espécie de maestro, cujo pode ou não aparecer e tomar o protagonismo para si. Quando isso acontece, a história vira outra: para a alegria dos Eagles.
En définitive, c’est la vie et nous adorons la partager
A expressão francesa acima significa, em tradução livre, “portanto, isso é a vida e nós adoramos compartilhá-la”. Vivemos uma era de vários jovens quarterbacks talentosos ao mesmo tempo, algo que não acontece com tanta frequência na história da NFL. E antes que você me diga “Anna, nós tivemos Brady, Manning, Brees, Rodgers…”: procure no Google a lista de quarterbacks titulares em 1999 ou 2000 para ver o nível de talento que tínhamos lá atrás (salvo algumas exceções).
A NFL muda constantemente: a forma de jogar hoje é diferente, em certa medida, do que há 10 anos atrás. Assim como os quarterbacks: vai ter sempre aquele que vai banalizar a discussão por ser um ET (Mahomes); vão ter aqueles que são osso duro de roer (Burrow, Lamar, Allen); vão ter os péssimos; os modorrentos e etc. No entanto, saber apreciar os inúmeros talentos e dar o devido valor a eles é algo que, atualmente, cada vez mais faz falta.
Jalen Hurts é um quarterback top-5 da liga? Para alguns, sim. Para a maioria, talvez não. Outros podem responder com um sei lá, irmão, meu time não tem nem quarterback! e seguir com a vida. O estilo dele difere de Mahomes, Lamar, Josh Allen, Joe Burrow, Justin Herbert e assim vai. Isso não significa que ele deva ser menos creditado (ou até menosprezado), muito pelo contrário.
Chegar duas vezes ao Super Bowl em um curto espaço de tempo é um feito para pouquíssimos. Se o final dessa história terminar com o Vince Lombardi voltando à Filadélfia, ele será a cereja do bolo.
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