Segundo a matéria, escrita por Seth Wickersham, a instabilidade começou com a presença de Alex Guerrero, preparador físico de Brady, no CT patriota. Alguns atletas acabavam ficando numa sinuca entre tratar-se com Guerrero para agradar Brady ou com os médicos dos Patriots, para não enfurecer Bill Belichick – conforme supostamente a matéria alega. O outro foco da peça de Wickersham é sobre Jimmy Garoppolo – segundo o repórter, Robert Kraft ordenou a Bill Belichick para que este trocasse Garoppolo. Belichick ficou pistola, mas acatou – e trocou Jimmy “apenas” por uma segunda rodada por conta de sua crença de que Garoppolo seria bem sucedido em San Francisco (ademais, trocá-lo para outra Conferência seria o ideal).
Como conclusão da matéria, fontes do New England Patriots disseram a Seth que o clima não está legal e que a temporada de 2017 pode ser a última com os três (Belichick/Brady/Kraft) juntos. O New England Patriots emitiu comunicado oficial respondendo a peça;
“Pelos últimos 18 anos, nós três tivemos uma relação de trabalho muito boa e produtiva. Nos últimos dias, houve várias reportagens da imprensa as quais especularam teorias sem fundamento, muito exageradas e de longe imprecisas. Nós três compartilhamos o mesmo objetivo. Estamos ansiosos pelo enorme desafio de competir na pós-temporada e pela oportunidade de trabalhar junto no futuro, tal como fizemos pelos últimos 18 anos. É infortúnio que precisemos responder essas falácias. Como nossas ações mostraram, permanecemos unidos”.
Caso você tenha preguiça de ler textão – segura, porque este vai longe – gravei um vídeo com os principais pontos. Abaixo você pode assistir – aproveita e clica aqui para se inscrever no canal.
Queira ou não, o texto da ESPN americana traz fatos
O texto da ESPN.com indubitavelmente traz dois fatos que se mostraram verdadeiros e que muito provavelmente foram a premissa para a apuração: Alex Guerrero, o preparador físico de Brady, foi “banido” do CT do New England Patriots e Jimmy Garoppolo foi trocado. Essas duas coisas são factuais e de fato aconteceram, não há como contestar.

Fato é que de fato houve um atrito com a presença de Guerrero. E ela, a menos que tenha deixado cicatrizes absurdas, já ficou para trás. Não é como se o que aconteceu entre Guerrero/Médicos dos Patriots/Atletas fosse se repetir. Essa questão é o ponto mais factível da peça toda: realmente houve problema, mas Belichick já despachou o cara.
Agora vem a questão Garoppolo
Outra possível verdade, que não duvido: Garoppolo recebeu proposta de 18 milhões de dólares/ano para renovar num contrato com bônus, que elevaria esse valor caso e quando ele se tornasse titular. Jimmy recusou. Perfeitamente normal. Garoppolo cansou de ser o Príncipe Charles da NFL. Cansou de ter talento e continuar no banco. No seu lugar, eu teria feito exatamente o mesmo. Esses 18 milhões seriam fichinha perto do que ele conseguiria na free agency – se Mike Glennon ganhou 15 de média, quanto Garoppolo ganharia? Mais e sem ser reserva, né?
Daqui para frente, vejo alguns problemas na verossimilhança do texto de Wickersham. O fato de que Brady apareceu jubilante para treinar depois de Garoppolo ser trocado é algo que faz sentido, é justificado e não me parece ser errado. Nas entrelinhas, Wickersham dá a entender que Brady parece ter mexido os pausinhos para que isso tenha acontecido, daí sua felicidade por “vencer”. Ora. Se um desafiante ao seu posto consegue emprego em outra empresa, você vai ficar com cara de velório? Vai ficar chateado por ter sido preferido pelos diretores? Não né?
Pois bem. Ademais, Seth indica que a ordem para trocar Garoppolo tenha vindo diretamente de Robert Kraft depois de extensa reunião. Esse fato já foi desmentido por, adivinhe, uma fonte anônima ao ProFootballTalk, site afiliado à NBC Sports. Nunca saberemos o que aconteceu, mas fato é que a troca, em si, faz sentido sim. O texto de Wickersham ser apenas com fontes anônimas é complicado também.
Falando na troca, uma segunda rodada de San Francisco não parece ser tão baixo quanto aparenta. Jay Cutler, após três temporadas como titular, foi trocado de Denver para Chicago (&%$#@#&) por apenas uma escolha de primeira rodada. Garoppolo ainda era, de certa forma, uma incerteza – apenas dois jogos como titular e não fez uma pré-temporada tão boa em 2017. Além disso, a tal segunda escolha dos 49ers vale quase como uma primeira dos Patriots: certamente seria no topo da segunda rodada, o que em termos de talento de prospecto escolhido, vale tanto quanto uma escolha de fim de primeira rodada – tal qual New England tem quase todo ano.
Trocar Garoppolo pode ter sido uma escolha ruim – mas havia piores. Para começar, a franchise tag (na casa de 25 milhões) era impraticável para um reserva. Seria o único modo de segurá-lo sem sair de mãos abanando – ou melhor, sem conseguir uma escolha compensatória no final da terceira rodada de 2019. Trocar Brady? Surrealmente estúpido, Brady está em ano de MVP e acabou de ser campeão. A torcida iria atear fogo no Gillette Stadium.
Como já há muito disse, os Patriots não tiveram outra escolha senão trocar Garoppolo – ao menos não depois do próprio Jimmy não renovar. E não foi nem a primeira vez que isso aconteceu. No ano passado. Jamie Collins também foi trocado porque não quis renovar. Tantas e tantas vezes jogadores foram dispensados por Bill Belichick porque não toparam o que New England queria pagar – Ty Law, Richard Seymour, entre outros.

Mesmo com todos esses potenciais problemas…
O New England Patriots terminou como primeiro cabeça-de-chave da Conferência Americana, venceu o Pittsburgh Steelers fora de casa e terminou o ano com campanha 13-3. Houve atritos? Claro! Todo mundo viu Brady discutindo com Josh McDaniels, para quem quisesse ver. E não foi a primeira vez que isso, aconteceu. A tal da dinastia acabou por conta disso? Não. Acabará agora? Sinceramente não sei.
Fato é que a maioria dos beat writers de Boston aponta que a chance de Bill Belichick largar o time é pequena. Brady, em ano de MVP, também deve continuar em 2018. Mas antes, falemos do futuro próximo: pós-temporada 2017-2018.
Essa reportagem era a narrativa que Bill Belichick precisava para motivar seu time.
Ser campeão na NFL é difícil, mas ser bicampeão é ainda mais. Tanto que só aconteceu duas vezes na Era Salary Cap – Broncos 1998/1999, Patriots 2003/2004. Os Patriots tiveram uma fenomenal motivação na temporada passada. Era “eles contra o mundo”, especialmente contra Roger Goodell por conta da suspensão de Brady em meio ao Deflategate. Neste ano, o time realmente parecia diferente. Aparte da ausência de Julian Edelman e do pass rush notoriamente mais fraco, a aura parecia diferente.
Essa reportagem era a narrativa que Bill Belichick precisava para motivar seu time. Macaco velho que é, usará isso a seu favor. Como tem sorte, estamos próximos a uma das mais densas classes de quarterback da história recente do Draft. Poderá draftar o sucessor de Brady e desenvolver Mason Rudol… digo, o sucessor, na próxima temporada.
Mesmo que o clima entre Brady e Belichick esteja o pior possível – o que garanto, não chega nem perto do clima entre Jon Gruden e seus quarterbacks, como vocês verão a partir da próxima temporada – eles não são burros. Sabem que depois dessa matéria, todas as atenções estarão em cima dos Patriots e do legado dos dois. Sabem que se o time ruir, essa será uma marca muito mais forte do que o término da Dinastia dos Steelers – Bradshaw jogando mal – dos Cowboys – apagando aos poucos nos anos 1990 e Troy Aikman se aposentando por conta das concussões – ou dos 49ers com a aposentadoria de Steve Young por conta de lesão.
Uma coisa eu tenho certeza: treta que for, sempre se motivaram por essas histórias de contestação. Se perderem nos playoffs, veremos como será. Mas muito provavelmente será por mérito do adversário. Se vencerem mais um Super Bowl, mostrarão que os cães ladram – mas a caravana não para.
Nota: Como muitos de vocês sabem, sou contratado pela ESPN Brasil para comentar jogos de NFL aqui em nosso país. Isso não indica que estou vinculado às opiniões e conteúdo emitidas por ela (e vice-versa). Espero que isso fique claro!
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