As últimas semanas foram bastante curiosas em relação aos contratos de jogadores que serão calouros durante a temporada de 2025. Desde 2011, quando a liga assinou um novo e muito modificado Acordo Coletivo de Barganha, os contratos dos calouros que chegam a NFL em um determinado ano são tabelados e possuem um valor máximo a ser negociado, tornando o processo muito simples para agentes, jogadores e franquias. Ao menos deveria ser assim.
A primeira escolha do Draft do Houston Texans, 34ª geral, foi Jayden Higgins, wide receiver de Iowa State. Higgins também teve seu contrato assinado de forma rápida, mas seu acordo teve uma pequena dose de pioneirismo. Ele se tornou o primeiro jogador escolhido na segunda rodada do Draft, desde 2011, a ter seu contrato totalmente garantido (11,7 milhões de dólares) já na assinatura, um luxo que estava restrito aos jogadores de primeira rodada até aquele momento. No dia seguinte, o Cleveland Browns fez o mesmo com o linebacker Carson Schwesinger, 33ª escolha geral, que teve seus 11,8 milhões de dólares assegurados no negócio.
Os contratos de Higgins e Schwesinger desencadearam uma guerra entre agentes, que viram ali uma ótima oportunidade para garantir condições melhores para seus jogadores já nos seus primeiros contratos, e franquias, que estavam de mãos totalmente atadas—incluindo Texans e Browns, que fizeram outras escolhas na segunda rodada do Draft de 2025.
Embora a situação esteja basicamente resolvida, com uma onda de contratos assinados nos últimos dias, dá pra dizer que a batalha foi vencida pelos jogadores e que isso pode ser um precedente interessantíssimo para os próximos anos. Explicamos o que aconteceu.
Nome e sobrenome da causa: Tyler Shough
Naturalmente existiam os burburinhos do porque a situação em questão estava se arrastando bastante e acompanhávamos por aqui durante nosso hiato no site, mas ficou claro com algum tempo que a causa residia em New Orleans. O quarterback Tyler Shough, escolha de segunda rodada dos Saints e famoso por completar 26 anos durante seu ano de calouro, foi reportado como o jogador que negociava um contrato totalmente garantido com a organização.
Um termo muito importante nos contratos negociados é o famoso “leverage”, que podemos simplificar como o lado que tem mais argumentos numa discussão. Shough ganhou muitíssima dessa leverage quando Derek Carr anunciou a aposentadoria repentina da NFL durante a offseason, colocando um alto nível de pressão na organização em relação a posição de quarterback. Ele começou a pedir por um contrato totalmente garantido. E conseguiu: Shough, a escolha #40, chegou a um acordo com os Saints no sábado (19) por um contrato de 10,79 milhões totalmente garantidos.
Durante a pesquisa do assunto, achei no Twitter um gráfico interessantíssimo para explicar o ponto principal, que foi desenvolvido e publicado pelo usuário @ TexansCap. É possível observar a quantidade de dinheiro garantido nos contratos baseado na escolha em que foram draftados desde 2020. A linha verde era uma projeção antes da assinatura do contrato de Shough e é nela que você deve prestar atenção ao olhar o gráfico.

A ideia a ser notada é que se Shough, com o slot #40, assinasse um contrato totalmente garantido, então naturalmente os jogadores que foram escolhidos pós-Higgins e pré-Shough também iam buscar um contrato totalmente garantido. E não só isso: os jogadores que assinassem contratos depois de Shough também podiam lutar por uma % totalmente garantida bem maior em seus contratos.
Alguns deles até assinaram antes do quarterback dos Saints. Mas a pressão funcionou. Os quatro jogadores selecionados entre Higgins e Shough também obtiveram 100% de seus contratos garantidos, feito que o quarterback também buscou no último fim de semana.
33. Carson Schwesinger, Cleveland Browns: 100%
34. Jayden Higgins, Houston Texans: 100%
35. Nick Emmanwori, Seattle Seahawks: 100%
37. Jonah Saviinaea, Miami Dolphins: 100%
38. TreVeyon Henderson, New England Patriots, 100%
39. Luther Burden III, Chicago Bears: 100%
40. Tyler Shough, New Orleans Saints: 100%
Outro ponto importante de se observar no gráfico é que a projeção da escolha #41 era inferior aos 90%, porém T. J. Sanders, do Buffalo Bills, teve 95% de seu contrato garantido. Em seguida, Mason Taylor, escolha #42 do New York Jets, foi de um número pouco superior a 80% para um contrato com 91% de seu contrato garantido. A pressão geral de Shough funcionou e teve efeitos positivos para os jogadores de segunda rodada em geral, derrubando peças do dominó contratual.
“Mas e a escolha 36 que não está ali?” pode ser uma pergunta feita por nosso leitor. E aí explicamos que Quinshon Judkins, selecionado pelo Cleveland Browns, está sendo acusado num caso de violência doméstica e que o caso não está com data marcada para aparição na corte. As acusações surgiram há cerca de dez dias e o running back não havia assinado seu contrato com os Browns, que obviamente não o fará neste momento.
A situação de momento—e a diferença para o caso Shemar Stewart
Os portões foram abertos e, nos últimos dias, praticamente todos os jogadores de segunda rodada assinaram contratos de quatro anos com as franquias. Não vamos reportar a % garantida de cada uma porque eu e você temos coisas mais relevantes para gastar nosso tempo, porém o importante a saber aqui é que a Pressão Shough™ teve efeitos positivos para todo mundo na rodada.
São dois nomes que ainda não assinaram. O primeiro, claro, é o supracitado Judkins. O segundo é Will Johnson, cornerback do Arizona Cardinals que foi a escolha #47. Johnson acabou por cair muito mais que o esperado no Draft por relatos de uma lesão no joelho do jogador, que ele tem mantido ser uma questão antiga. É justo assumir que os dois lados ainda estão discutindo a parte garantida do acordo, no entanto, os dois lados mantém que o contrato está muito próximo de ser assinado e se espera uma resolução rápida (hoje, talvez?)
[Atualização da matéria: sim, foi hoje. Will Johnson assinou o contrato com os Cardinals horas depois da publicação deste artigo]
É importante notar que esse contexto de contrato garantido é muito diferente do caso Shemar Stewart com o Cincinnati Bengals. Stewart, escolha de primeira rodada que está brigando com a franquia, supostamente luta por uma claúsula que o permite ficar com o dinheiro garantido mesmo em caso de alguma atitude problemática, como por exemplo algo que o leve a prisão e lhe impossibilite de jogar futebol americano. Mike Brown, dono da equipe, falou sobre o caso na segunda-feira (21); se esse for realmente o problema que está impedindo a assinatura do acordo, o lado da franquia é totalmente entendível. Por mais difícil que seja concordar com Mike Brown.
Esses efeitos positivos também podem se estender no futuro. A escolha #40 do Draft de 2026 certamente vai brigar (e vai conseguir) por um contrato de calouro totalmente garantido a partir do precedente estabelecido esse ano. A escolha #41 também vai lutar por isso. O Draft de 2025 mudou o jogo nesse sentido.
Por fim, vamos deixar um “Leia Mais” diferente. Sempre deixamos os textos mais recentes do site, porém, dessa vez vamos resgatar alguns textos sobre contratos que o Pro Football fez em temporadas passadas que podem te ajudar a entender um pouquinho mais cada aspecto desse lado do jogo. Confira!
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