O desempenho de Shedeur Sanders na pré-temporada foi o grande tópico de discussão dentro de campo durante o mês de agosto. Com todo mundo aquecendo para a temporada regular—e francamente, muito futebol americano de péssima qualidade sendo jogado—, highlights de Twitter viraram pauta em um período onde precisamos nos reacostumar a assistir as coisas. Com efeito, Sanders foi um tema forte nos últimos dias. Ele esteve em campo durante as semanas 1 e 3, lidando com uma lesão entre os dois jogos. Se a base fosse a rede social na Semana 1, ele já era um dos melhores quarterbacks da NFL.
Na verdade, o que o calouro do Cleveland Browns mostrou durante seu tempo em campo acaba por ser a exata mesma impressão que se tinha no processo pré-Draft: apesar de algumas qualidades, Sanders não está nem perto de estar pronto para ser um quarterback titular na NFL. Boas jogadas e highlights não anulam o fato de que a consistência necessária para liderar um time está longe de ser parte de seu jogo.
A (grave) estatística da pré-temporada
A depender do contexto que você utilizar, 3,96 segundos podem ser algo muito bom ou muito ruim. Você provavelmente aceitaria apanhar do Charles do Bronx por 3,96 segundos se fosse ganhar um milhão de reais por isso. Se você dá um contrato de 4,6 milhões de dólares para um quarterback e ele segura a bola, em média, por 3,96 segundos após o snap, então essa decisão já começa a ficar bem ruim.
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A estatística da pré-temporada que você precisa ter em mente é exatamente essa. De acordo com o PFF, os 3,96 segundos de média que Sanders demorou para soltar a bola após o snap durante a pré-temporada são a maior marca histórica desde 2013, quando essa estatística começou a ser contabilizada. Para se ter uma ideia, outros quarterbacks com um número extremamente alto incluem Malik Willis (3,72s), Justin Fields (3,50s), Terrelle Pryor (3,50s), Tim Tebow (3,46s) e Danny Etling (3,45s). Nenhum deles chegou perto de se tornar um grande quarterback na NFL, incluindo os que foram escolhas de primeira rodada.
Isso não é um indicativo de que “a linha ofensiva é muito boa”, nem de perto inclusive. É um indicativo claro e evidente de que o processamento mental de Shedeur Sanders é extremamente lento, algo que já era muito criticado desde o processo pré-Draft. Não existe quarterback da NFL que consegue jogar em bom nível se não souber processar o jogo e tomar decisões boas e rápidas com a bola. Estamos falando de uma liga de nível altíssimo.
Esse problema já existia no College Football. Ele tinha uma porcentagem de sack altíssima e já era conhecido por segurar a bola muito além do esperado. Num sistema ofensivo que fez de tudo para que ele parecesse um bom quarterback, as coisas poderiam fluir melhor. Isso não funciona na NFL: Kevin Stefanski está mais preocupado em ter um ataque funcional (o que, sabemos, nunca é uma certeza em Cleveland) do que agradar a mídia ou qualquer pessoa que queira ver Shedeur Sanders ser titular na liga.
Acabei de assistir o Shedeur Sanders jogando na Semana 1 e… o que diabos vocês estão tão impressionados assim?
Ele foi bem em alguns passes, lógico, mas uns 80% do que ele fez grita que ele não tá preparado pra ser quarterback titular de NFL.
— Henrique (@buliopf) August 10, 2025
A falta de antecipação tira muito da eficiência de qualquer ataque. Ainda que Sanders possa ser um quarterback eficiente lançando passes curtos e intermediários, ataques que são recheados desse tipo de jogada se baseiam muito em ritmo para um bom desempenho, algo que ele está ainda muito longe de conseguir imprimir no nível profissional.
Ser quarterback na NFL não é pra qualquer um
O jogo da primeira semana entre Cleveland Browns e Carolina Panthers colocou Sanders frente-a-frente com Bryce Young, que teve uma das evoluções mais inesperadas e assustadoras que já acompanhei em minha carreira. Young demorou, mas agora parece um quarterback de verdade: sua antecipação melhorou demais, seu trabalho contra a blitz é bem decente e ele tem lançado melhor no meio do campo. Ele está se tornando algo muito mais próximo do que se esperava saindo do College.
Sanders também. A questão é que não se esperava muita coisa, é claro. Ele tem sido exatamente o que se esperava! Alguns bons flashes contra o Carolina Panthers, claro. Só que mesmo no seu melhor jogo, as dificuldades ficaram bem evidentes. Precisaria de uma melhora gigantesca em seu jogo para que ele sequer começasse a ser cogitado como uma opção de quarterback titular.
As principais diferenças entre quarterbacks como Shedeur Sanders e Justin Fields são duas: um não tem as ferramentas físicas do outro, enquanto o outro não tem o sobrenome. Fields, um dos quarterbacks mais atléticos e eficientes pelo chão da NFL, não consegue se estabelecer também pela falta de um bom processamento mental, além de uma precisão que deixa a desejar. Mas ele ganha uma avaliação justa por seu talento, mesmo que ela não seja positiva.
Sanders, por outro lado, recebe uma chuva de boa vontade por conta de seu sobrenome, porque nada que ele fez no college ou na pré-temporada mostra que ele tem condição de ser um quarterback titular da NFL.
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