As brigas de foice na AFC e NFC South

As divisões sul da NFL vivem cenários parecidos em 2025: dois líderes absolutos, uma classe média que gera muita desconfiança e os dois piores times da liga. O sarrafo pode não estar tão alto, mas certamente não vai faltar emoção até a semana 18.

Há quase dois anos atrás, escrevi um texto sobre as duas divisões Sul da NFL. Naquela ocasião, as duas tiveram seus campeões decididos na última semana da temporada regular. Mais do que isso: as duas disputas foram entre três equipes. A qualidade não era lá grande coisa, mas as brigas de foice renderam boas histórias no final.

Pois bem, voltemos para o tempo atual. Algumas peças – e quarterbacks – mudaram aqui e acolá, mas o enredo continua igual. A AFC e a NFC South continuam verdadeiras brigas de foice. Diferente de dois anos atrás, a disparidade está maior entre as equipes. Cada uma tem um líder absoluto, uma classe média batalhando por wild card (e que inspira zero confiança) e, por fim, os dois piores times da liga por uma margem considerável: New Orleans Saints e Tennessee Titans.

Prepare a pipoca e, se você for torcedor de Saints e Titans, encha o balde com lágrimas de sangue. Até a semana 18, as divisões Sul da National Football League vão nos dar muito entretenimento de qualidade questionável. Para a nossa alegria.

Líder absoluto, pero no mucho

Para a surpresa de ninguém (e incompetência dos demais), o Tampa Bay Buccaneers é o franco favorito para vencer a NFC South. Porém, a desconfiança de sempre permanece, especialmente quando nos questionamos se esse time tem calibre para chegar a uma final de conferência. A resposta para 2025 é a mesma de outros Carnavais: sí, pero no mucho.

A equação é simples: Baker Mayfield jogando o fino da bola + ataque terrestre forte + wide receiver de ponta + o lema defensivo “blitz ontem, hoje e sempre” de Todd Bowles. A grande questão é que, tirando Baker, as outras peças da equação não estão se encaixando.

O principal motivo é óbvio: lesões. Mike Evans, Chris Godwin e Bucky Irving estão machucados, com os dois últimos mais perto de voltar do que o primeiro. Quando você perde seus dois recebedores, seu running back n°1 e vários jogadores da linha ofensiva, fica difícil manter o nível no alto. Emeka Egbuka é uma estrela em ascensão, mas até ele perdeu tempo lesionado. Tampa está 6-3 muito por ter uma comissão técnica sólida e um quarterback com um coração gigante.

Porém, nem eles solucionam as dúvidas acerca do time. A defesa de Tampa, por exemplo, cedeu quatro jogadas para mais de 50 jardas contra os Patriots – e Drake Maye fez churrasquinho com as blitzes do titio Todd. A fórmula de bolo é simples, mas não tem muita variação: o que deixa os Buccaneers ainda naquela categoria do “quase lá”. E caso o ataque não volte a ficar saudável, esse estigma não irá embora neste ano.

Embarque nesse Carrossel com o Blue

Uma das maiores surpresas de 2025 até aqui, o Indianapolis Colts mudou da água para o vinho. E com um personagem improvável: Daniel Jones. Os últimos jogos contra Steelers e Falcons expuseram um mililitro da faceta trágica e sem visão periférica, é verdade. No entanto, o quarterback é o favoritaço ao Comeback Player of the Year com muitos méritos. Jogando no play-action, antecipando os passes, atacando o fundo do campo na hora certa… Danny Dimes está fazendo jus ao seu apelido, mesmo que apareçam umas interceptações de vez em quando.

Com um passador mais do que competente e a linha ofensiva jogando em alto nível, as outras peças do ataque aflorescem. A principal delas é Jonathan Taylor. 2025 está sendo um ano espetacular para o running back e ele é o favorito na disputa pelo prêmio de Jogador Ofensivo do Ano. Até agora, Taylor tem 189 corridas para 1139 jardas e 15 touchdowns terrestres, o líder absoluto nesta estatística. Caso continue nessa toada, será questão de tempo para ele bater as 2000 jardas corridas – algo que ainda não tem na sua carreira, diga-se de passagem.

Por mais que a defesa não esteja no mesmo nível do ataque, ela opera o sistema de Lou Anarumo de maneira bastante eficiente. Do lado ofensivo, Shane Steichen vem fazendo um trabalho incrível não somente em relação à Daniel Jones e Jonathan Taylor, como também com os demais recebedores. Michael Pittman Jr, Josh Downs, Alec Pierce, Tyler Warren (que virou top-5 tight ends no seu ano de calouro): todos contribuem para que esse ataque seja uma máquina. Os Colts são sim fortes candidatos na AFC. E podem voar ainda mais alto em 2025, caso consigam cortar os turnovers e mantiverem o alto nível.

É mais fácil acreditar em fadas do que nisso aqui

O que é mais fácil: acreditar que o Clube das Winx existe de verdade ou acreditar em 3/4 dessa galera aqui? Digo 3/4 porque embora eu não confie no ataque dos Texans, a defesa é espetacular. O problema mesmo está no resto.

O primeiro duelo entre Jaguars e Texans mostrou bem como anda a disputa pelo segundo lugar na AFC South. Resumindo a ópera: não dá para confiar em nenhum dos dois. Houston demonstrou sinais de melhora no ataque, mas C.J. Stroud está no protocolo de concussão. Embora com pescoçudo Davis Mills o time deva conseguir vencer os Titans, ele não passa nada mais além de um reserva básico. No outro lado da bola, é simplesmente a melhor unidade e a mais completa da NFL. Jogar contra a defesa dos Texans é um pesadelo para qualquer ataque hoje. Trevor Lawrence que o diga.

A virada dos Texans acendeu o alerta vermelho em Jacksonville. Depois de bater os Chiefs na semana 5, o time tem uma vitória e três derrotas. Em nenhum desses jogos, o time – em especial, o ataque – conseguiu convencer. Os Jaguars são o 4° pior ataque em touchdowns aéreos, com 9. É verdade que existem várias variantes para isso acontecer: linha ofensiva péssima, a decepção que vem sendo Brian Thomas Jr em 2025, Liam Coen conservador demais em últimos quartos… No entanto, o quarterback também não ajuda. Hoje, os Jaguars parecem mais um elefante em cima do pé de acerola do que um candidato à playoff.

Por falar em elefante, a NFC South tem dois dividindo o mesmo pé de acerola e prontinhos para cair. O Carolina Panthers ter campanha 5-5 chega a ser algo positivo, porém não gera muita empolgação. A defesa está jogando melhor, Rico Dowdle e Tetairoa McMillan são gratas surpresas também… Mas Bryce Young evoluiu nada e segue emperrando o ataque. Do lado do Atlanta Falcons, já comentei em outro texto desta semana: a defesa finalmente tem um pass rush, mas o ataque engasga mais do que Opala no inverno. Conclusão: nenhuma das duas equipes ameaça a soberania dos Buccaneers. Para a surpresa de zero pessoas.

Bônus: o fundo do poço de Titans e Saints

Não vou me alongar muito aqui, porque todos nós sabemos a realidade. Saints e Titans são literalmente os dois piores times da NFL, com o segundo sendo a melhor aposta para ser a 1° escolha geral do Draft de 2026. Embora a troca de titularidade tenha dado uma sobrevida ao ataque, os Saints ainda são fraquíssimos. Elenco velho, quarterback(s) abaixo da média e, agora sem Rashid Shaheed, só tem Chris Olave de alvo confiável.

A situação dos Titans é ainda pior. New Orleans, pelo menos, encontrou um head coach que está tirando leite de pedra com o elenco que tem. Tennessee não tem nem isso mais, já que Brian Callahan foi o primeiro técnico demitido de 2025. Com ele ou sem ele, a situação não mudaria muito. Os Titans são por muito o pior time da NFL e a perspectiva de futuro é nula (para não dizer negativa). Assim como nos últimos anos, a franquia entrará na busca por um novo treinador e general manager. E nada me garante que comece a procurar um novo quarterback também, já que Cam Ward vem tendo um ano de calouro para esquecer.

Serão tempos difíceis, torcedor dos Titans. Muito difíceis mesmo.

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