Início 0-3, ataque inepto, quarterback titular machucado. Tinha tudo para ser uma temporada decepcionante em Houston. O arco de redenção, todavia, vem se desenhando de forma muito bela, na terra que se acostumou a não corresponder às expectativas. A salvação tem nome e não lança a bola: trata-se da defesa conduzida por DeMeco Ryan e Matt Burke.
Não é exagero dizer que a defesa dos Texans é a melhor da NFL em 2025. A bem da verdade, é preciso fazer muita força para colocar qualquer outra unidade no topo em seu lugar. É o grupo com as melhores estatísticas da liga, além de jogar com intensidade fora da curva dentro das quatro linhas. Além disso, carregou um ataque medíocre mesmo nas partidas mais complexas, repetidamente.
É uma demonstração de força que catapultou a franquia nas últimas semanas e voltou a colocar o time como ameaça na Conferência Americana, a qual, hoje, não possui favoritos claros. Venha comigo entender como uma cultura bem construída salvou um ano que parecia perdido.
SWARM
Não conhece esse termo? Não se assuste. “SWARM” é a nomenclatura da mentalidade que DeMeco Ryans implantou em Houston – e, mais especificamente, em sua defesa – desde que chegou ao time que o revelou. “SWARM” tem dois significados; o primeiro faz referência à “Ética de Trabalho Especial e Mindset Implacável” (em inglês, Special Work ethic And Relentless Mindset). Ademais, o termo em inglês é a definição de um enxame de insetos, ou seja, muitos seres agrupados em um mesmo local; portanto, chegamos ao ponto dois: o treinador quer todos os defensores em cima da bola.
É bonito no papel e se replica na prática. A defesa de Houston é a representação da mentalidade de seu treinador, sendo um grupo que joga com intensidade a todo momento e que faz seu adversário ter pesadelos tentando superar as barreiras a cada jogada. É uma defesa complexa, com jogadores de qualidade e que, ainda por cima, tem seus atletas atuando como maníacos. Veja Christian McCaffrey tentando encontrar um buraco contra a unidade há algumas semanas.
SWARM pic.twitter.com/huJ8EkfQUO
— Houston Stressans (@TexansCommenter) October 31, 2025
Tal mentalidade é replicada para todos os setores e, com isso, a defesa de Houston criou sua identidade. Isso pode fazê-la ser exposta por vezes em alguns jogos – o excesso de intensidade pode abrir buracos ou criar ângulos errados de tackle -, mas vai manter a unidade coesa. É um grupo que estressa a vida do quarterback adversário e que vai neutralizar o jogo terrestre com todos seus atletas. Da linha defensiva aos jogadores de secundária.
Fam. Watch #4. Corners don’t do that. pic.twitter.com/s12DqaCrlr
— FOST (@GeorgeFoster72) November 21, 2025
Visão de cima
Há algumas semanas, Ryans tomou uma decisão não tão falada e que mudou o rumo de Houston na temporada. Após o início 0-3, ele passou o playcalling defensivo para Matt Burke, seu coordenador, para ter uma visão geral melhor do elenco. Com isso, a retomada do time começou e o crescimento defensivo foi ainda maior.
Não quero dizer com isso que Burke chame jogadas melhor do que Ryans, mas que o treinador é mais bem aproveitado com uma gestão de cima do que “simplesmente” com o microfone das jogadas na sideline. Ele foi capaz de corrigir alguns detalhes que estavam pendentes na defesa, como a alta quantidade de tackles perdidos, e torná-la ainda mais eficaz. Saber delegar é uma grande virtude dos líderes e tal atitude salvou o ano da equipe.
Segurando o rojão
A defesa de Houston só cedeu mais do que 20 pontos em duas partidas nesta temporada. 27 para Seattle – em um jogo no qual forçou quatro turnovers, incluindo um touchdown defensivo – e 29 para os Jacksonville Jaguars – sendo que 7 desses foram via touchdown de retorno de punt.
Mesmo quando o ataque não correspondia, a defesa anulava os ataques adversários, possibilitando que ajustes fossem feitos e as vitórias viessem, mesmo com baixas pontuações – Houston só anotou mais do que 30 pontos em dois triunfos neste ano. É fácil ser defensivamente eficiente quando sua unidade oposta é boa, contudo, é complexo manter a estrutura quando seu ataque pouco produz.
Elenco & Sistema
Os Texans são a equipe que menos cederam pontos neste ano (198; 16,5/jogo) e é a quinta que mais forçou turnovers (19). A qualidade do plantel, evidentemente, influencia nisso. Houston, possui a melhor dupla de pass rushers da NFL, Danielle Hunter e Will Anderson Jr. (21,5 sacks combinados), um dos três melhores cornerbacks da liga em ano de All-Pro (Derek Stingley Jr.) e mais uma mão cheia de jogadores de extrema qualidade em suas funções, destacando-se Azeez Al-Shaair, Callen Bullock, Jalen Pitre e Kamari Lassiter.
Tal qualidade de atletas também permite que Houston atue de forma diferente do sucesso convencional. Os pilares defensivos atuais estão ancorados em três bases: disfarce, blitzes e pressão. No entanto, os Texans não se encaixam em nenhum dos três, comparados à média da liga.
The Texans defense is so disrespectful lmao https://t.co/YCpsLY4Gfv
— Brett Kollmann (@BrettKollmann) December 5, 2025
Houston manda poucas blitzes, quase não usa disfarces e, portanto, não faz a pressão chegar a todo momento. No entanto, ela chega no momento certo, a rotação da linha defensiva está sempre em alta e os stops chegam no melhor momento possível. É uma tendência única que só pode ser executada em virtude da filosofia montada por seu mentor.
Consagração da temporada
De nada adiantará, todavia, todos os elogios acima se a vaga nos playoffs não for conquistada ao final da temporada regular. A trajetória de recuperação só será considerada se o sucesso vier como consequência – e os jogadores sabem disso. Cada semana, então, possuirá peso elevado para franquia, pois não há mais gordura para queimar.
O próximo domingo já representa o grande duelo: um confronto de grandes consequências contra o Kansas City Chiefs. Um triunfo deixaria Houston com vaga muito bem encaminhada para a pós-temporada, além de manter a briga viva, até mesmo, pelo título divisional. Não será fácil, afinal, os Texans vêm de cinco derrotas consecutivas contra Kansas City, incluindo uma eliminação nos playoffs em janeiro deste ano.
É o jogo para confirmar todo o crescimento visto durante 2025 e para iniciar a consagração de uma unidade que vem se projetando de forma histórica. É um prazer para o torcedor poder vivenciar grupos tão qualificados como essa defesa – mesmo que isso eleve os batimentos cardíacos à mais alta frequência. Houston sobrevive graças à sua defesa. Houston vive graças à sua defesa.
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É só isso, não tem mais jeito, acabou, boa sorte…
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