Entenda como funciona o processo de realocação de Chargers, Rams e Raiders para Los Angeles

Véspera de natal, 24 de dezembro de 1994. Este foi o último dia de futebol americano profissional em Los Angeles, uma caminhada que começou com o Los Angeles Rams vindos de Cleveland em 1946. O motivo era mais ou menos simples: na época, conseguir que as pessoas fossem ao estádio no frio pré-efeito-estufa de Cleveland era uma missão quase impossível, dado que o beisebol era consideravelmente mais popular do que a NFL. Assim, para tentar sobreviver financeiramente, os Rams foram para Los Angeles.

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Hoje a história é diferente. Após a saída dos Raiders e dos Rams de LA ao final de 1994, a questão do estádio obsoleto é um ponto que faz com que a cidade seja sempre questionada para abrigar uma franquia. Los Angeles já foi – por conta de sua “beleza” enquanto segundo maior mercado consumidor dos Estados Unidos – usada como “moeda de ciúmes” inúmeras vezes. Boa parte dos novos estádios da liga se devem à chantagem “me ajuda com dinheiro público ou me mudo para Los Angeles”. Vikings, Jaguars e outros, só para citar exemplos recentes de equipes especuladas no sul da Califórnia.

Até que, de tanto estar na friendzone, a cidade finalmente pode abrigar uma franquia.

No dia 12 de janeiro, em Houston (terça que vem), as três franquias (não perca a conta, Raiders, Rams e Chargers) devem “justificar” a mudança perante os outros donos de franquias. Nos intervalos, deve haver extensa conversa para angariar os 24 votos (de 32) necessários para que a realocação seja aprovada. Na noite de terça esse processo de campanha deve se intensificar ainda mais – e a votação de fato deve ocorrer na manhã do dia 13, quarta. Além disso, há uma “taxa” de realocação, a qual deve girar em 500 milhões de dólares “pra cima’.

Entenda a situação política dos projetos de cada time

Os Rams, na figura de seu dono, Stan Kroenke, está sozinho num projeto de 2 bilhões de dólares para um estádio – em Inglewood, na periferia de Los Angeles. Kroenke, vale destacar, estaria aberto para parceiros nesse estádio (embora não queira dividir algumas rendas futuras). Do outro lado, os Spanos (Alex e seu filho Dean, que compraram os Chargers em 1984) têm um projeto de estádio a ser dividido com os Raiders de Mike Davis – em Carson, também fora do centro de Los Angeles.

Ou seja, pelo requisito de 24 votos, as coisas não são tão simples. Embora tenhamos três times se mudando, na prática há uma chapa “Raiders-Chargers” contra os “Rams”. As três mudanças dificilmente ocorreriam, dada a questão da maioria absoluta (24 votos ou 3/4 das franquias). Assim, além de assegurar seus votos, a petição tem de garantir votos contra a outra proposta.

Monday Morning Quarterback, site afiliado à Sports Illustrated, reporta que Rams não teriam os 24 votos necessários para a mudança – mas que têm os 9 necessários para não deixar a mudança dos Chargers passar. Davis e os Raiders não tem um plano fora o de dividir com Spanos/Chargers – e, além disso, pode ocorrer uma proposta de última hora de Oakland, dado que o prefeito da cidade, Libby Schaaf, estaria bem empenhado em manter os Raiders no norte da Califórnia.

Spanos tem maior simpatia pelo resto dos donos, conforme o rumor. Kroenke, tem mais dinheiro disponível para assegurar a mudança. Como o dinheiro vale muito na NFL (parece óbvio, mas na NFL é algo ainda mais importante), a “nova guarda” de donos (Jerry Jones, Robert Kraft e etc) deve se alinhar com Kroenke. Pode ser algo apertado, mas a tendência é que ou nenhum plano seja aprovado (e aí até poderíamos ver uma franquia processando a NFL na justiça para mudar, como justamente os Raiders fizeram para sair de Oakland e ir para Los Angeles nos anos 1980) ou o plano Raiders-Chargers seja aprovado, ou Spanos tenha que se virar com só seu plano aprovado ou Kroenke e a ala de bilionários donos de franquias tragam de volta o Los Angeles Rams. Seja como for, qualquer realocação que seja aprovada terá efeito já em 2016, com os times jogando em um estádio provisório (isso é tema de outro texto).

Serão dois dias bastante intrigantes para quem acompanha de perto a NFL, incluindo fora do campo. Desde o boom da NFL no Brasil, com as transmissões realizadas a partir de São Paulo em 2006, o torcedor ainda não testemunhou uma realocação – a qual foi até que comum nos 94 anos anteriores de NFL.

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