Quando o cronômetro registrou seu segundo final no Super Bowl XX, os jogadores do time campeão, o lendário Chicago Bears de 1985, se juntaram na sideline para carregar seu técnico, como já era tradição entre as equipes vencedoras da competição. Naquele ano, entretanto, pela primeira vez na história, dois homens foram carregados pelos atletas. Ao lado do head coach Mike Ditka, erguido à mesma altura, estava o coordenador defensivo Buddy Ryan.
Ryan começou sua carreira no futebol americano profissional na AFL em 1968, como técnico de linha defensiva do New York Jets. Naquele mesmo ano, ele conquistou seu primeiro Super Bowl, em uma vitória sobre o Baltimore Colts. Mas ainda mais importante, ao observar a preocupação de seu head coach Weeb Ewbank com a proteção ao seu quarterback Joe Namath, Ryan começou a formular a base do sistema defensivo que o tornaria uma lenda.
O quarterback, Ryan percebeu, era o ponto chave de qualquer ataque. E, como ele mesmo gostava de dizer, “nenhum quarterback consegue completar um passe quando está caído de costas no chão”. Para garantir que os passadores adversários se encontrassem frequentemente nessa posição, Ryan começou a desenhar suas temidas blitzes, que ele colocaria em prática em seu próximo emprego, como técnico de linha defensiva do Minnesota Vikings. Lá Ryan implementou seus esquemas de pressão ao quarterback, o que fez com que a linha defensiva dos Vikings passasse a ser conhecida como “The Purple People Eaters“. Ryan participaria de mais dois Super Bowls como defensive line coach dos Vikings.
Até esse ponto, Buddy Ryan já havia construído uma carreira de sucesso no futebol americano, tanto universitário quanto profissional. Seu próximo passo na carreira, no entanto, o alçaria ao status de lenda do esporte. Em 1978, Ryan aceitou o convite de George Halas para se tornar o coordenador defensivo do Chicago Bears. Lá, seu esquema defensivo ganhou forma e nome: a 46 Defense. Batizada com o número da camisa de Doug Plank, safety que era uma das peças fundamentais do sistema, a defesa de Ryan atingiu seu ápice em 1985. Nesse ano o Chicago Bears se sagrou campeão do Super Bowl XX, após obter 15 vitórias e apenas 1 derrota na temporada regular. Sua defesa cedeu uma média de apenas 12,3 pontos por jogo, além de conquistar o maior número de turnovers na liga naquele ano. Dentre os jogadores que o carregaram após a vitória sobre o New England Patriots no Super Bowl daquela temporada estavam ícones como Mike Singletary, Dan Hampton e Richard Dent.
Na temporada seguinte, Ryan teve sua primeira oportunidade como head coach, com o Philadelphia Eagles. Lá ele ajudou a reconstruir o plantel da equipe, levando os Eagles a três aparições nos playoffs. No entanto, a ausência de vitórias nessas partidas acabou custando o cargo de Ryan, ainda que o técnico tivesse obtido bons desempenhos na temporada regular, tendo novamente uma das melhores defesas da liga.
Ele ainda teria mais duas experiências como treinador na NFL, como coordenador defensivo do Houston Oilers e head coach do Arizona Cardinals. Em Houston, Ryan obteve o sucesso defensivo que lhe era costumeiro, mas problemas de relacionamento com o coordenador ofensivo Kevin Gilbride – chegando até mesmo às vias de fato durante uma partida – acabaram criando um clima ruim para ele em Houston. Na temporada seguinte, Ryan foi contratado pelos Cardinals. Em Arizona, Ryan não encontrou o mesmo sucesso de seus empreendimentos anteriores, sendo demitido após duas temporadas ruins. Isso foi o sinal que Ryan precisava para decidir aposentar-se da carreira de treinador, passando a tocha para seus filhos Rex e Rob Ryan, hoje head coach e coordenador defensivo do Buffalo Bills.
Buddy Ryan faleceu hoje, aos 82 anos. Ele deixa saudade e admiração em todos os fãs de futebol americano. E muita gratidão dos torcedores do Chicago Bears.






