Dropback, 1989: A campanha de Joe Montana para ganhar o Super Bowl XXIII

“Joe Montana não é humano. Eu não quero chamá-lo de deus, mas ele definitivamente é quase isso.” Tais palavras poderiam ter saído da boca de algum companheiro de time ou então de um torcedor fanático pelos 49ers, mas este não foi o caso aqui. Quem destacou a quase divindade do quarterback foi Cris Collinsworth, wide receiver dos Bengals, logo após perder o Super Bowl XXIII para San Francisco.

Assim como as 75.179 pessoas presentes no Joe Robbie Stadium, em Miami, o recebedor certamente devia estar maravilhado com o que Montana havia feito no final daquela partida. Perdendo por 16 a 13 para Cincinnati, começando na linha de oito jardas do próprio campo de defesa e com pouco mais de três minutos no relógio, o quarterback precisava conduzir sua equipe por 92 jardas se quisesse virar o placar. E ele conseguiu. Foram 11 jogadas, oito passes completos em nove tentativas, 97 jardas lançadas (os 49ers recuaram no campo uma vez por conta de uma penalidade), 2:36 minutos e uma campanha que entrou para sempre na história do futebol americano.

Neste texto vamos relembrar os principais acontecimentos do Super Bowl XXIII, focando sobretudo no drive antológico comandado por Montana, que foi com certeza um dos maiores momentos de qualquer esporte inventado pelo homem.

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O jogo

Bengals e 49ers tiveram os dois ataques mais prolíficos da temporada em termos de jardas por partida, porém, surpreendentemente, foram as defesas que mandaram no duelo durante todo o primeiro tempo. San Francisco até conseguia caminhar pelo campo e somar jardas (181 totais contra 93 de Cincinnati), mas sofria para finalizar suas campanhas.

Para se ter uma ideia, houve mais contusões graves do que pontuações no primeiro quarto: Steve Wallace, left tackle do time californiano, quebrou o tornozelo na terceira jogada do confronto. Na sequência, foi a vez de Tim Krumrie, defensive tackle dos Bengals, sair com uma fratura séria na perna. Fora isso, o mais importante foi o field goal de 41 jardas convertido pelo kicker Mike Cofer para inaugurar o placar em favor de San Francisco.

A equipe poderia ter aumentado a vantagem logo no início do segundo quarto, entretanto Cofer desperdiçou um chute de 19 jardas após um snap mal feito. Na campanha seguinte de San Francisco, o running back Roger Craig sofreu um fumble (recuperado pelo defensive end Jim Skow), mostrando que as coisas realmente não estavam fáceis para o ataque da franquia. Os Bengals, por sua vez, chutaram punts grande parte do tempo, mas perto do intervalo empataram a partida com um field goal de 34 jardas de Jim Breech.

O jogo só ficou interessante mesmo a partir do terceiro quarto. No primeiro drive do período, Cincinnati passou à frente com outro disparo de Breech. Alguns minutos depois, após interceptarem Boomer Esiason, os 49ers responderam e empataram com Cofer, porém Stanford Jennings retornou o kickoff seguinte 93 jardas e anotou o primeiro touchdown do duelo.

Perdendo por 13 a 6, San Francisco novamente igualou o placar no início do último quarto com um passe de 14 jardas de Montana para Jerry Rice. O detalhe é que uma jogada antes o cornerback Lewis Billups poderia ter conseguido um turnover, mas deixou cair uma interceptação fácil. Os Bengals ainda pontuaram mais uma vez com o kicker Jim Breech, abrindo 16 a 13, e então devolveram a bola para os adversários com 3:20 minutos restantes no relógio.

A campanha mágica de Joe Montana

Os 49ers partiriam da sua própria linha de oito jardas e teriam um longo caminho pela frente. Enquanto combinava a primeira jogada no huddle, Montana apontou para a ator John Candy sentado nas arquibancadas e avisou seus companheiros sobre a presença da celebridade. O gesto entrou para o folclore de “Joe Cool”, apelido dado ao quarterback, e foi encarado como uma forma de quebrar a tensão do momento, passando tranquilidade e confiança ao time.

San Francisco iniciou a campanha com dois passes curtos no meio do campo, respectivamente para Craig e o tight end John Frank. Na sequência, Montana encontrou Rice na lateral para um avanço de sete jardas e o wide receiver saiu de campo, parando o cronômetro. A equipe então correu duas vezes com Craig visando assegurar a primeira descida.

A partir daí começaram as big plays. Montana de novo achou Rice, mas dessa vez o ganho foi de 17 jardas, o que finalmente colocou os 49ers no campo de ataque. Em seguida, outra conexão com Craig, o qual correu 13 jardas pelo meio do campo após a recepção. Porém, com cerca de 1:30 no relógio, o quarterback cometeu seu primeiro e único erro do drive: um passe muito alto lançado na direção de Rice. Logo depois, San Francisco foi obrigado a recuar 10 jardas devido à uma penalidade de recebedor inelegível (ineligible man downfield).

Encarando uma segunda descida para 20, Montana lançou uma bomba de 27 jardas para Rice, que só foi derrubado na linha de 18 dos Bengals. Craig então foi acionado outra vez com um passe curto de oito jardas no meio do campo. San Francisco estava na linha de 10 de Cincinnati e tinha 39 segundos para entrar na end zone.

Com um lançamento perfeito para John Taylor em uma janela de passe apertada, Montana virou a partida e sacramentou a vitória dos 49ers. Sua performance incrível na campanha é vista como um dos momentos mais “clutchs” (decisivos) da história da NFL. Os Bengals receberam a bola de volta com 34 segundos no relógio, mas não havia tempo para mais nada. Placar final: San Francisco 20 x 16 Cincinnati.

Se você quiser, pode conferir as estatísticas completas e o lance a lance do duelo aqui. Já o vídeo com as imagens do drive final está disponível no Youtube.

Jerry Rice MVP e a despedida de Bill Walsh

Além de conduzir com perfeição a campanha derradeira, Joe Montana acertou 23 de 36 passes tentados para um total de 357 jardas, dois touchdowns e nenhuma interceptação, porém ainda assim não foi o MVP do jogo. A honra coube a Jerry Rice, que também teve um desempenho monstruoso com 11 recepções, um touchdown e 215 jardas (este último número até hoje é um recorde do Super Bowl).

Ademais, a conquista significou a despedida de Bill Walsh. O lendário head coach, tricampeão do Super Bowl com os 49ers, deixou o comando do time depois da partida contra Cincinnati, encerrando sua vitoriosa carreira como treinador na NFL.

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