Eli Manning não é mais a máquina de interceptações que você tirava sarro antes

Desde que foi draftado em 2004, Eli Manning tornou-se um jogador único e que polariza as discussões em torno de suas habilidades. A troca que o trouxe aos Giants foi quase única (o momento John Elway do século XXI) e dava demonstrações do quão única sua carreira seria. Durante um bom tempo, boa parte das pessoas esperavam muitos turnovers na temporada regular, mas isto mudou bastante nos últimos dois anos.


A partir de 2004, discutir a performance de Manning em campo polariza demais as opiniões. Seu estilo de querer estender toda jogada até o fim resultava em grandes jogadas e também erros grotescos, logo fica fácil de ver o porquê sua carreira foi tão oscilante. Associe a isso o Run and Shoot, a insistência em um passe vertical ultrapassado e cheio de rotas opcionais e a luta contra as lesões dos talentos ao seu redor e fica mais fácil entender o motivo de oscilar tanto.

Mesmo assim, Manning sempre brilhou nos Playoffs. Nas duas vezes que sua defesa apareceu, principalmente o pass rush, os Giants amassaram a NFC e deixaram Tom Brady ficar com o segundo lugar. Aliás, vale lembrar que depois do segundo anel (e do MVP no Super Bowl), as dúvidas sobre a sua capacidade foram varridas para baixo do tapete: não dá para esquecer elite sem Eli.

Após o Super Bowl, uma temporada boa e depois um desastre total, com direito a 27 interceptações e os piores números da carreira. Claramente Manning precisava mudar, se reinventar e ser inserido em um ataque diferente que pudesse explorar a sua acurácia e dependesse menos de decisões complexas ao longo das jogadas – o que parecia ser o seu fraco.

A chegada de Ben McAdoo

Para uma franquia ultra conservadora como os Giants, a mudança no início de 2014 de mandar Kevin Gilbride (e seu estilo complexo e antiquado) embora para trazer Ben McAdoo (e um estilo que lembra uma West Coast Offense mais moderna) foi muito impactante. Gilbride foi o coordenador dos dois Super Bowls, mas precisava sair de cena – e isto fez muito bem para Manning.

Apesar da fama de ser inconsistente e cometer muitos turnovers, Manning evoluiu absurdamente. A estatística que mais traduz isso é a média de jardas conquistadas por passe sob pressão. Normalmente, a medida que o número de blitzers aumentava nos últimos anos, a média de jardas por passe conquistadas aumentava. O quarterback arriscava mais no fundo do campo – o que gerava big plays e interceptações. No ano passado esta tendência mudou completamente: de 7,2 jardas por passe contra quatro ou menos jogadores indo atrás do signal caller, a média caia para 5,8 contra cinco rushers e 4,5 contra seis. A mudança de postura é clara: Manning começou a mudar mais as jogadas e apostar em passes curtos e mais seguros.

Obviamente esta mudança também vai se traduzir nas estatísticas: desde que foi inserido no esquema de McAdoo, Manning viu a sua razão de touchdown/interceptação subir de 1,3 para 2,7. Nos últimos dois anos sua média de passes completos foi de 62,8% – apenas em uma temporada da vida ele teve uma porcentagem de passes completos maior. A ideia de passes curtos, rápidos e em uma defesa que abusa do shotgun (69% das jogadas) e de três wide receivers ou mais (83% das jogadas) demonstra o que é esta West Coast moderna que fez muito bem ao signal caller, tanto é que a escolha mais óbvia de todas seria promover McAdoo para técnico principal com a demissão de Tom Coughlin.

O mais impressionante é que o talento ao seu redor não melhorou muito

Algum leitor pode pensar que esta melhora na produção foi devido ao desenvolvimento dos talentos ao seu redor. E não poderia estar mais errado. Enquanto Jerry Reese continua sendo inepto na war room durante os Drafts (lembre-se que dos 22 selecionados entre 2011 e 2013, apenas Justin Pugh e Johnatan Hankins estão no elenco), o talento ofensivo também sofreu demais.


A escolha de Odell Beckham Jr. foi importantíssima para este ataque (tanto é que ano passado ele teve mais jardas recebidas e o mesmo número de touchdowns do que os outros recebedores da equipe somados) explodir e serviu para esconder um pouco os inúmeros defeitos ofensivos. O jogo terrestre completou quatro temporadas seguidas sem conseguir passar da média de 4 jardas por tentativa de corrida, muito devido a falta de qualidade no setor de running backs e a uma linha ofensiva que não consegue melhorar.

Enquanto Pugh conseguiu tornar-se um guard acima da média (tinha que ser louco para não ver desde o início que ele jogaria no meio da linha) e Weston Richburg deu uma estabilidade para a posição de center, as outras três posições sofrem demais. Enquanto Ereck Flowers é um right tackle jogando na esquerda (ele oscilou demais como calouro, tanto é que foi o segundo pior left tackle no quesito bloqueios errados por snap, e visivelmente se daria melhor do outro lado), a dupla John Jerry e Marshall Newhouse mostrou-se claramente o elo fraco do ataque – só Newhouse sozinho teve oito faltas e quatro sacks (lembre-se que estamos falando de Manning, um dos signal callers mais difíceis de serem sackados) cedidos no ano passado.

Para melhorar a situação, apenas Sterling Shepard foi escolhido na segunda rodada, mas é preciso lembrar: desde 2000, 69 wide receivers foram escolhidos na segunda rodada e a média de jardas recebidas no ano de calouro é de 366 por jogador. Não dá para esperar que o produto de Oklahoma seja um fenômeno e seja o complemento ideal para Beckham – o mais realista é esperar que ele tenha uma produção semelhante a de Rueben Randle no ano passado, que foi de 57 recepções, 801 jardas e oito touchdowns.

Mesmo inserido em uma unidade claramente com problemas, Manning jogou muito bem ano passado e espera-se que ele melhore ainda mais nesta temporada. Visivelmente ele não é mais aquele jogador que erra nas ocasiões mais bizarras – seu jogo na temporada regular evoluiu muito. Isso vai ser suficiente para os Giants chegarem na pós-temporada? Esta pergunta é bem mais difícil de responder e merece um texto próprio no futuro.

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