Quando o New England Patriots escolheu Jimmy Garoppolo na segunda rodada do Draft de 2014, eu pessoalmente não achei que fosse uma boa saída. Havia outras necessidades no recrutamento e os Patriots estariam escolhendo um jogador da segunda divisão do College Football, extremamente cru – em resumo, compraram um diamante bruto ao invés de pagar as contas.
Ninguém poderia esperar que o investimento, muito parecido com o que os Packers faziam nos anos 90 com quarterbacks (mesmo já tendo Brett Favre), poderia dar tanto retorno. A ideia inicial de Belichick provavelmente era a de ter um seguro para o médio-longo prazo e de quebra dar uma motivação extra ao rei da automotivação, Tom Brady. Ninguém esperaria que Garoppolo tivesse uma oportunidade real de entrar em campo justamente quando já fosse um fruto amadurecido, na temporada 2016. Tom Brady foi suspenso pelas quatro primeiras partidas da temporada passada e o camisa 10 lhe substituiu na primeira – vitória contra Arizona – e na segunda acabou se machucando – mas não sem antes colocar uma bela liderança em casa ante os Dolphins.
As atuações de Garoppolo no ano passado renderam elogios da imprensa e dos próprios jogadores dos Patriots. “Ele foi lá, jogou na temporada regular e jogou muito bem. Ele tem aquela confiança de gunslinger. Aquela confinaça meio Brett Favre, Aaron Rodgers”, declarou Julian Edelman, recebedor patriota.
De fato, há um lado positivo e outro negativo quanto a Garoppolo. O positivo é o “efeito patriota”: saber que ele foi criado num sistema vencedor, tendo como mentor (mesmo que indiretamente) o que para mim é o melhor quarterback da história e o melhor técnico da rica história da NFL. O negativo é justamente o oposto: será que as atuações positivas de Jimmy não foram fruto desse sistema vencedor? Temos inúmeros exemplos quanto a isso, dado os seguintes nomes de reservas de Brady: Matt Cassel, Ryan Mallett e Brian Hoyer.
Ademais, temos balança pendendo para os dois lados em mais um quesito. Falta de espaço amostral. Garoppolo jogou muito pouco para termos video consistente dele jogando, para termos múltiplas situações de jogo nas quais ele se saiu bem. Por outro lado, quando ele esteve em campo, fez leituras inteligentes e mostrou um bom ball placement (capacidade de colocar o passe em janelas pequenas). Exemplo abaixo.
— Joey Ickes (@JoeyIckes) 17 de fevereiro de 2017
Isto posto, cabe pensar. Quanto um talento como Jimmy Garoppolo vale num mercado sedento por quarterbacks? Pelo o que aprendi em microeconomia básica, o preço varia de acordo com a demanda por um dado produto, supondo que a oferta seja fixa. Quanto maior a demanda, maior o preço. Temos pelo menos 5 ou 6 times que poderiam usar de um quarterback como o produto de Eastern Illinois. Assim, por consequência, seu preço – em escolhas do Draft – é maior do que deveria ser. Ele deveria ser uma escolha alta de segunda rodada. Ele deve ser uma escolha de primeira, para começar.
Sendo assim, quais times seriam os favoritos a deixar os Patriots ainda mais ricos?
1) Chicago Bears: É praticamente iminente – conheço amigos que vão comprar fogos de artifício quando acontecer – que o Chicago Bears cortará Jay Cutler antes da próxima temporada. Assim, a franquia precisará de um quarterback no lugar. O Draft não parece ser o caminho, dado que a classe de 2017 é… Bom, é pior em termos de prospectos da posição do que a do ano passado (e isso diz muito). Ryan Pace, o general manager dos Bears, jogou em Eastern Illinois (onde Garoppolo esteve no College Football). Parece pouco, mas muitas vezes é o suficiente para que o gatilho seja apertado. Não podemos esquecer que o emprego de Pace está na linha de fogo após duas temporadas aquém do desejado no terceiro mercado consumidor da NFL. É hora de fazer um splash e adquirir uma esperança pode salvar seu emprego por mais algum tempo. De acordo com Jason LaCanfora, insider da CBS Sports, os Bears farão “um esforço forte para ter Jimmy, sendo sua prioridade nesta intertemporada”.
2) Ficar no New England Patriots: Esta é a possibilidade que tira boa parte do drama da intertemporada 2017, mas é bem real. Por mais que Tom Brady seja a Paula Toller da NFL, uma hora ele vai ter que parar de jogar. Não dá para ter ideia quando, mas é surreal pensar que Brady jogaria em alto nível depois dos 45 anos. Thomas Edward – fica pomposo chamá-lo assim – terá 40 anos ao início da próxima temporada (ele come bolo com a Gi e os filhos ao início de agosto). Garoppolo pode querer ficar mais um ano em Foxboro para “ver o que vira”, pode querer jogar o último ano de contrato de calouro e capitalizar numa free agency de 2018 ou os Patriots podem não querer trocá-lo para pensar no futuro/não houve nenhuma boa proposta. Como exemplificado pelos casos 49ers-Montana/Young, Packers-Favre/Rodgers e Colts-Manning/Luck, ter um príncipe herdeiro é sempre uma boa pedida.
3) Cleveland Browns: Se tem um time com munição para gastar, é o Cleveland Browns. A partir deste momento eu estarei carinhosamente lhes apelidando de Rambo do Draft. Os Browns têm CINCO ESCOLHAS entre as 65 primeiras. Dar uma delas para New England seria como um Robin Hood às avessas, é verdade, mas ainda assim Cleveland poderia continuar reforçando seu elenco com as quatro que sobrarem. De modo inteligente, a escolha dada seria a primeira da segunda rodada (33 geral). Mais do que isso acredito que danifique os planos de reconstrução da Fábrica de Tristezas.
4) San Francisco 49ers: Novos sistemas, novos quarterbacks. Kyle Shanahan sabe muito bem que ele não poderá fazer um bom prato no restaurante de Santa Clara quando seus ingredientes principais chamam-se Blaine Gabbert e Colin Kaepernick. Os 49ers podem oferecer sua escolha de segunda rodada (a número 35 do Draft) por Garoppolo. Já seria lucro para New England, dado que a equipe escolheu Jimmy na escolha 62 em 2014. Além disso, os Patriots teriam duas escolhas coladas (32, a sua da primeira rodada, e a 35, ali pertinho) o que pode ajudar no dia do recrutamento – para trade down, coisa que Belichick ama fazer.
5) New York Jets/Denver Broncos: Coloco estas duas opções mais abaixo simplesmente porque os Jets são da mesma divisão dos Patriots e, a menos que Garoppolo seja um gigantesco cavalo de Tróia, Belichick não trocaria um franchise quarterback para os caras. Mesma coisa com os Broncos, equipe que ano sim-ano também ameaça os Patriots na Conferência Americana (e que ficou a um quarterback de fazer uma temporada melhor no ano passado). Acho improvável que aconteça, mas, lembrando, Belichick trocou Drew Bledsoe para Buffalo em 2002. Então vai saber o que passa na cabeça dele. Talvez com o preço certo – leia-se, saque de escolhas de draft – o Imperador de Foxborough troque o príncipe herdeiro.
6) Houston Texans: Por um lado, Bill O’Brien – ex-coodenador ofensivo dos Patriots – ama fazer de Houston uma Camelot do Sul. Ou Foxboro do Sul. Não sei. Ah, duvida? Ele foi técnico em New England. Romeo Crennel, o técnico assistente, foi coordenador defensivo lá. O coordenador defensivo de Houston, Mike Vrabel, foi linebacker nos Patriots. Larry Izzo, o técnico de especialistas? Bingo. Os caras trouxeram Wes Welker para ser assistente ofensivo. Claro: isso sem contar os experimentos com Brian Hoyer e Ryan Mallett, dois ex-reservas de Brady. Pode ser justamente por conta deste experimento falho que os Texans acabem não apertando o gatilho desta vez. Mas que O’Brien quer montar o Patriots Sul, ah quer.
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