Vende porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? A Tostines tinha este como mote e mensagem a ser passada em suas propagandas nos anos 80 e aqui podemos aplicar o mesmo conceito. Bill Belichick faz movimentações ousadas porque é campeão ou é campeão porque faz movimentações ousadas e pouco ortodoxas?
Provavelmente nunca saberemos. Decerto, Belichick só faz o que faz porque tem segurança como Head Coach do New England Patriots. Bill é o treinador há mais tempo com a mesma equipe e, cinco anéis depois, só sai de New England caso cometa um crime ou aposente. Nem três temporadas seguidas com mais derrotas do que vitórias fariam com que as pessoas duvidassem do homem – e se nós não duvidaríamos, o dono dos Patriots, Robert Kraft, menos ainda.
Resta saber: como ele faz isso? Como mantém os Patriots ano sim, ano também, no topo e como favoritos na Conferência Americana? A não ser que Oakland/Pittsburgh façam Drafts e campanhas maravilhosas na próxima temporada, a tendência é que os Patriots novamente sejam o time a ser batido na AFC. Como? Vamos tentar explicar.
Núcleos do Elenco Patriota
Da mesma forma que seu corpo tem núcleos sem os quais não sobreviveria – coração, espinha dorsal, cérebro e etc– Belichick sabe que o elenco dos Patriots, bem como qualquer outra equipe de futebol americano profissional, precisa de núcleos que estejam acima dos demais comuns da mesma posição. No caso, jogadores em pontos específicos que criem tanta dor de cabeça para o adversário que acabam acumulando os esforços destes (e, por tabela, os Edelmans e outros coadjuvantes acabam excedendo as expectativas). Sim, Edelman é um coadjuvante em termos de wide receiver. Por mais que você que torça para os Patriots me odeie por dizer isso, ele não é um Julio Jones ou um Antonio Brown. E em realidade não há nenhum problema nisso.
Sejam os núcleos, portanto, um safety, um jogador de jogo aéreo, um quarterback e um outro jogador de defesa. Devin McCourty, Rob Gronkowski, Tom Brady e Dont’a Hightower são os núcleos patriotas. É através deles que os demais acabam por exceder o que normalmente fazem.
A cobertura de McCourty alivia a pressão em cima dos outros homens da secundária. A presença de Gronkowski faz com que haja mais atenção a elee e menos em relação a outros recebedores. Brady é Brady e eu não vou além do que você já sabe. E Hightower é uma máquina, sendo capaz de fazer tackle e pressionar o quarterback (vide o fumble forçado no Super Bowl LI).
Procurando por valor em desequilíbrios do mercado
Uma das coisas que Bill Belichick melhor aperfeiçoou ao longo dos anos é pegar o brinquedo que não querem mais e fazer com que ele volte a ser tão divertido quanto era antes. Faz anos e anos que ele faz isso. Rodney Harrison, por exemplo, era esquecido após passagem pelos Chargers e ganhou novo boost na carreira quando se juntou aos Patriots.
Ao mesmo tempo, Belichick não gosta nada de pagar mais do que deveria para jogadores fungíveis – ou seja, aqueles pelos quais acredita que encontrará um substituto tão bom ou melhor. Veja quantos e quantos jogadores tentaram receber mais do que valem – ou acabaram se tornando onerosos – aos olhos do Darth Belichicus e foram mandados embora sumariamente. Ty Law, Lawyer Milloy, Richard Seymour, Vince Wilfork, Randy Moss, Deion Branch… Martellus Bennett. Eu poderia realmente ficar até amanhã citando exemplos do gênero. Belichick sabe que a Free Agency é uma ineficiência do mercado: paga-se pelo o que o jogador já fez em vez de pagar pelo o que pode fazer.
E, assim, ele consegue barganhas
Conforme Peter King apontou em sua coluna semanal no Monday Morning Quarterback, Belichick tem três métodos costumeiros para conseguir boas peças por valor inferior ao que elas normalmente valeriam.
Pegar um jogador p da vida com a atual equipe;
Pegar um jogador de um elenco em transição com valor inferior aferido pelo novo regime
Pegar um jogador que vem de um ano ruim mas que ainda tem potencial
(E mais um caso, ainda não usado neste ano e não apontado por King): Jogadores que se ferraram a carreira inteira e querem uma chance de título (Revis/Chris Long, recentemente)
No primeiro caso, temos Brandin Cooks. No segundo, Dwayne Allen. No terceiro, Kony Ealy. Todas trocas realizadas pelos Patriots, trocas estas as quais os times que estão trocando acham que FINALMENTE estão vencendo Belichick no jogo mental entre diretorias – mas que podem se revelar como trunfos imprescindíveis para os Patriots. Cooks é a primeira ameaça de home run para Tom Brady desde Randy Moss. Allen faz com que o pacote 12 – um running back e dois tight ends – continue a ser mortal com Gronkowski (além de ser seguro de vida em caso de lesão deste). E Kony Ealy, caso você tenha esquecido, muito provavelmente teria sido o MVP do Super Bowl 50 caso os Panthers tivessem vencido o jogo.
O custo total destas três peças que deixam o rico ainda mais rico é de apenas, acredite, 7,47 milhões de dólares. Como King aponta em seu texto, 4,5% do teto salarial de New England. Claro: New England gastou escolhas de Draft para ter esses jogadores. Mas nada que ainda não possa ser recuperado via Jimmy Garoppolo ou Malcolm Butler – no caso deste, é mais um exemplo para a lista dos Ty Laws patriotas.
Neste ano, Belichick foi mais agressivo do que de costume; foram três trocas, mais do que qualquer outra equipe fez nesta Free Agency. PODE ser que o técnico saiba que a janela de Brady se fecha em um ou dois anos e, a exemplo do que John Elway fez com Peyton Manning, Belichick queira maximizar AGORA o que os Patriots podem fazer – até porque o resto da Conferência Americana não assusta tanto.
Pode ser que nada disso dê certo, que Tony Romo vá para Denver e que o pass rush dos Broncos chegue com vigor num Brady sem ação. Pode ser que os Raiders tenham a máquina ofensiva mais potente da NFL e façam mais pontos que New England. Pode ser que os Steelers sejam esse caso. Pode ser que outra equipe apareça e os derrube quando ninguém esperava – Broncos em 2005 me vem à mente. Mas em tendência, o New England Patriots novamente é o time a ser batido na NFL em 2017.

Em time que está ganhando não se mexe. A menos que você se chame Bill Belichick.
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