Novas regras aprovadas hoje pela NFL tem objetivo claro: reduzir concussões

Nunca escondi que a concussão é um problema do futebol americano. O que sempre discordei foi que a liga é a maior vilã de todos os tempos no que diz respeito a isso. Por muito tempo, de fato ela foi: negligenciou a lesão, seus sintomas e o CTE.

Mas a NFL, nos últimos anos, está longe ser a vilã pintada no filme Concussion, com Will Smith no papel principal. Em realidade, ela está se mexendo. Não porque é boazinha: mas porque sabe que se não o fizer, cada vez menos pais deixarão seus filhos jogarem futebol americano. Se estes não jogarem, não haverá atletas no futuro e, bem, você entendeu. Por contraste, existe um protocolo de concussão no Campeonato Brasileiro. Sabe quantas vezes ele foi colocado em prática? É, nem eu. Quando jogadores de futebol como Marinho – na época, jogando pelo Vitória – tomam pancada na cabeça, fazem gol e esquecem que fizeram, a situação é tratada como piada. Não como sintoma claro de concussão.

Meu ponto é: felizmente algo está sendo feito. Dos muitos termos pedantes e em latim que existem no Direito, um dos poucos que eu não esqueci é o “mens legis”. Ou seja: algo como “a finalidade da lei”. Qual é o objetivo de colocar o touchback na linha de 25 jardas ou banir o pulo por cima da linha em chutes? É só frescura? Não.

Eu sei que o esporte pode acabar se tornando menos “físico” e isso tira um pouco de seu apelo. Mas é um passo para trás e depois daremos dois para frente. Um exemplo: a regra de pular sobre a linha ofensiva para bloquear um chute. Agora é proibido. Por quê? Bom, se o center levanta do nada, pode bater no jogador que pulou e este cairá de cabeça. O que acontece? Concussão. É lindo ver essa jogada, que é bastante plástica. Mas proporcionalmente ela correspondeu a apenas 10% dos bloqueios de chute no ano passado. É algo que podemos viver sem.

A regra do touchback na linha de 25 jardas após um kickoff ganhou mais um ano de teste. O objetivo aqui é claro: desestimular os retornos de chute, jogada que proporcionalmente gera mais concussões que nenhuma outra no futebol americano. A NFL deve continuar monitorando para ver se os números caem. “Plasticamente”, um grande retorno é lindo de ver. Exatamente o oposto de ver um jogador desacordado por um bloqueio no ponto cego.

Leia aqui as novas regras que foram aprovadas pela NFL nesta terça

Ainda, os hits “dolosos” na cabeça do adversário irão resultar em expulsão automática. Mais ou menos como acontece no college football com o targeting. Não preciso lembrar o quão perigoso é esse tipo de engajamento de tackle. Numa era onde as jardas após a recepção são mais do que importantes, os recebedores ficam vulneráveis ao executarem suas rotas – agora nesse momento, aliás, eles também serão considerados indefesos.

Enfim, parece apenas frescura e que estão deixando o jogo mais “mole”. Alguns podem até podem pensar isso, mas a questão é que chegou um ponto que algo precisa ser feito. Outras ligas deveriam fazer o mesmo. Como a NFL é a liga mais popular dos Estados Unidos e as pancadas na cabeça são mais  “flagrantes” do que as do futebol da bola redonda (lembro sempre que teve concussão na final da Copa do Mundo FIFA de 2014 e o jogador alemão voltou para a partida), ela acabou tendo que fazer mais e fazer antes. Que bom que vem fazendo, porque o esporte ganha.

Concussões nunca serão 100% eliminadas do futebol americano ou de qualquer outro esporte de contato. Em analogia torta, tal como o perigo de vida nunca será eliminado do automobilismo. Mas medidas que previnam o perigo – e que, ao mesmo tempo, conscientizem que ele existe – são sempre bem-vindas. Mesmo que haja menos retornos e hits físicos.

Comentários? Feedback? Siga-me no twitter em @CurtiAntony, ou nosso site em @profootballbr e curta-nos no Facebook.

“odds